Com o seu longo cabelo encaracolado como imagem de marca, famoso pela raça que emprestava a cada lance. Duro q.b., provocante, senhor de uma impulsão impressionante e de um cabeceamento de respeito, foi um dos expoentes da dita «Geração d´Ouro» do futebol português.
Fernando Manuel Silva Couto, nasceu a 2 de agosto de 1969 em Espinho, cidade do Distrito de Aveiro. Ainda em tenra idade experimentou o futebol nas escolas do Sporting local e mais tarde no Lusitânia de Lourosa, onde deu nas vistas e chamou a atenção do todo-poderoso FC Porto.
«Maus fígados»
Desses tempos advém a fama de rebelde e duro que o acompanharia pela carreira fora. Os estudos iam ficando para trás, assim como o sonho de ser ginecologista. Mas a carreira nas escolas do FC Porto e nas seleções mais jovens, abriram-lhe as asas para altos voos na carreira de futebolista.
Na adolescência, e apesar do seu coração azul, tinha no benfiquista Mozer o seu ídolo, nunca o escondeu, nem depois do central encarnado ser responsável pelo momento mais complicado da carreira..
Uma noite na Luz
Bobby Robson chegara às Antas pouco tempo antes, escorraçado por Sousa Cintra de Alvalade, o FC Porto jogava o tudo por tudo na Luz a começar a segunda volta do Campeonato. Aílton fizera o primeiro golo para os encarnados à passagem dos 37 minutos, três minutos antes de Mozer e Couto se envolverem num lance de bola parada. Veiga Trigo não viu a provocação do brasileiro, mas não hesitou a mostrar o vermelho a Couto pela resposta do jovem central português. O Benfica marcaria um segundo golo e o FC Porto ficava a uns impensáveis seis pontos da liderança, no tempo em que a vitória ainda só valia dois pontos.
Bobby Robson criticou duramente a arbitragem e apontou o dedo a Veiga Trigo por querer afastar o Porto do título, mas não deixou de passar um público puxão de orelhas a Fernando Couto, e à sua insensatez. Por castigo ficou a treinar-se sozinho, correndo no campo secundário das
Antas, depois dos colegas já terem regressado aos balneários, enquanto
Pinto da Costa o multava em «mil contos» (cinco mil euros).
A lição seria aprendida, e meses mais tarde, num final de tarde quente de maio, os portistas receberam os leões que lutavam com o
Benfica pela liderança, e Couto 'fez' de Mozer, provocando Juskowiak, até este responder com uma agressão e ser justamente expulso por Carlos Valente. Couto Sorriu, mas não ousou olhar na direção do Banco, pois sabia que Robson não gostava muito destas brincadeiras...
Esse ano ainda daria uma Taça de
Portugal aos azuis-e-brancos, mas depois do verão a jovem estrela dos dragões rumava ao
calcio, para jogar com a camisola milionária do Parma, a troco de uma pequena fortuna. Para trás ficava uma «vida» de dragão ao peito, com quem venceu três campeonatos e três taças. Além de se tornar um indiscutível da «seleção das quinas».
De Parma para a Catalunha
Apesar dos seus «maus fígados», Couto, conquistou a exigente crítica italiana, sendo considerado como um dos melhores jogadores estrangeiros da
Serie A. Dois anos na cidade do famoso Presunto e da multinacional
Parmalat, além de fama e dinheiro, trouxeram a Couto a possibilidade de conquistar a sua primeira Taça UEFA, e o convite para acompanhar
Bobby Robson, Luís
Figo e Vítor Baía no FC
Barcelona.
Na «Cidade Condal» conquistaria uma Liga, duas Taças do Rei e uma Taça dos Vencedores das Taças, mas o seu estilo um tudo-nada quezilento, e algumas falhas, fizeram com que depois da saída de Robson, e muito por culpa da desconfiança da afición, Couto não hesitasse a mudar de ares, regressando à Bella Itália, para representar a Lazio de Roma.
Lazio e o fim de carreira
Na cidade dos «Césares» é caso para dizer que foi chegar, ver e vencer. Na equipa laziale conquistou a sua segunda Taça das Taças, além de ter ajudado o clube a conquistar o Scudetto, pondo fim a um longo jejum que vinha desde 1973/74.
Em 2001 foi apanhado nas malhas do doping, sendo castigado por nove meses e perdendo o seu lugar na equipa, de onde saíria em 2005, rumo ao Parma, onde acabou a sua carreira em 2008.
Recordista
Na Seleção de todos nós, foi uma referência durante mais de dez anos. Pela mão de Carlos Queirós foi campeão do Mundo de Juniores em 1989, chegando à seleção «A» um ano mais tarde. Foi peça fundamental na equipa que se qualificou para o Euro 96, onde marcou um golo e ajudou
Portugal a chegar aos quartos-de-final.
Após o falhanço do mundial de França em 1998, foi uma das pedras base da equipa de Humberto Coelho que encantou a Europa e chegou às meias finais do Euro 2000. Com a carreira a marcar passo com o caso de doping, acabou por participar no mundial de 2002, onde, como toda a equipa, não foi feliz.
Em 2004, no europeu organizado em
Portugal, ainda começou a prova como titular na derrota com a Grécia por 1x2. Mas a pressão do público e da imprensa forçou Scolari a mexer no onze e Couto foi um dos prejudicados... Portugal contudo lucrou e a seleção foi longe, chegando à malfada final que foi perdida para os gregos.
Terminando o Euro, não voltou a vestir mais a «camisola das quinas», acabando a carreira na seleção com nove golos em 110 internacionalizações, o que o tornava o jogador mais internacional de sempre no futebol português. O recorde acabaria por ser batido por outro ícone do futebol nacional, Luís
Figo, mas a Couto ninguém pode roubar o feito de ter sido o primeiro jogador a ultrapassar o mítico número 100.