Raça para encher dois continentes, uma força insuperável que se diz capaz de mover montanhas, senhor de uma explosão lendária e de um arranque capaz de colar os adversários ao chão, remate colocado e preciso, dono de uma capacidade de liderança natural que dispensa braçadeira, um faro pelo golo só comparável a outros predestinados, uma sede olímpica de vitórias, estes predicados entre tantos outros foram destacados pela imprensa internacional para falar de Didier Drogba.
O marfinense é uma combinação rara entre a técnica e a força, um atleta de eleição que para sempre marcou uma era no futebol do seu país, mas também nos clubes por onde passou, destacando-se acima de todos os outros, o Chelsea de Londres.
O despertar de África
O futebol africano demorou a ganhar uma dimensão à altura das expectativas que foram sendo criadas. Desde a Argélia de Madjer e dos Camarões de Milla, das Super águias de 94, que uma após outra, as grandes equipas subiam mais um degrau na pirâmide do sucesso mundial.
Em 2006, Holanda e Argentina foram os carrascos do sonho marfinense, em 2010, seria a vez de Brasil e Portugal impedirem Drogba e companhia cumprirem o seu destino. Talvez 2002 fosse cedo demais, talvez 2014 seja demasiado tarde... Drogba dificilmente escreverá o seu nome no livro de ouro do mundial da FIFA, mas a Costa do Marfim nunca mais será a mesma
França: o eldorado
Didier cresceu em Youpougon Sicogi, um bairro de Abidjan, a capital da Costa do Marfim. Filho de um bancário e de uma secretária, partiu para França somente com cinco anos, em 1983, quando a sua família o enviou para viver junto do tio, Michel Goba, jogador de futebol profissional no Brest. Durante três anos, acompanhou o tio de terra em terra, sempre que este se transferia para um novo clube. Viveu em Angoulême, Dunquerque, antes do seu tio regressar à Costa de Marfim, levando consigo o pequeno Didier de volta para os braços dos pais.
Quando reprovou na 4ª classe, os pais impediram-no de jogar futebol, é enviado para Poitiers, onde viveu um ano em casa de um primo. Em 1993 voltou para juntos dos pais, que se haviam instalado em Antony.
Do Levallois ao Olympique
Retoma então o futebol, começando a jogar no Levallois ##Sporting Club, clube onde se manteria até assinar pelo Le Mans, clube onde se estrearia no futebol sénior em 1999. Três épocas nos les marceaux despertam o interesse do Guingamp, escolhido por Guy Lacombe para substituir o internacional francês, Stéphane Guivarc'h.
50 jogos e 24 golos depois, o salto para Marselha e para o Olympique, onde levou à letra o lema do clube, Droit au But... (1) Na cidade banhada pelo Mediterrâneo, melhorou os números com 32 remates certeiros em 55 jogos. Num deles, para a Champions, o Marseille enfrentou o FC Porto. Os franceses perderam, mas o marfinense impressionou.
Mas antes de se mudar para o outro lado da Mancha, Didier liderou a sua equipa na caminhada até à final da Taça UEFA, que o Marseille perderia para os espanhóis do Valencia.
Símbolo Blue
Assinou pelo Chelsea a 24 de julho de 2004, com os ingleses a depositarem 24 milhões de libras na conta do Olympique, um exagero para alguns, uma pechincha, pensava Mourinho. O primeiro golo surgiria ao terceiro jogo, numa cabeçada certeira, em partida contra o Crystal Palace. Apesar de uma arreliadora lesão que o deixou afastado do campo por dois meses, seria fundamental - 16 golos em 40 jogos - na caminhada para o título da Premier League, feito que escapava ao Chelsea há precisamente 50 anos.
No topo da Europa
Em 2008, o Chelsea chegava finalmente à final da Liga dos Campeões, jogada em Moscovo contra o United. Os londrinos acabaram por perder no desempate por grandes penalidades e Drogba, não terminou o jogo, sendo expulso no 117º minuto, após agredir um adversário, tornando-se apenas no segundo jogador a ser expulso numa final da competição, uma mancha no currículo que muito o entristeceu.
A redenção chegaria a 19 de Maio de 2012, no Allianz Arena em Munique, onde contra todos os prognósticos, o Chelsea bateu o anfitrião Bayern, conquistando a Champions League, o sonho perseguido por Abramovich desde que comprara o clube inglês.
Drogba, ciente de que vivia a última grande oportunidade da carreira, chamou a si o protagonismo e ganhou a final para o Chelsea em três atos: Primeiro, animando as tropas aquando do 1x0 para os alemães, apontado por Müller; segundo, quando cinco minutos depois repôs a igualdade e forçou o prolongamento; e terceiro, last but not least, quando marcou o último e decisivo penálti que valeu a vitória inglesa, no desempate da marca de «onze metros».
Símbolo continental
Rei na Europa, só lhe faltou a coroação em África. Por duas vezes esteve próximo (2006 e 2012), mas nas duas ocasiões a Costa do Marfim acabou vencida, primeiro pelo Egito, depois pela surpreendente Zâmbia. Nas duas ocasiões a sorte foi madrasta, com os elefantes a serem vencidos no desempate através de grandes penalidades, uma maldição que acompanhou a sua carreira.
Em 2006, no Cairo, Drogba foi o primeiro a falhar, prenunciando a derrota. Seis anos passados, em Libreville, Gabão, Drogba não falhou, mas Touré e Gervinho não converteram as suas grandes penalidades, e mais uma vez, a Costa do Marfim morria na praia...
Para amenizar as derrotas continentais, restou o feito de ser coroado o melhor jogador de África em 2006 e 2009, tendo ficado entre os três primeiros classificados por oito vezes, entre 2003 e 2012, num raro exemplo de constância ao mais alto nível, prova de que o marfinense marcou indelevelmente uma era no futebol africano.
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(1) Droit au But - Direto ao golo