Capitão, líder, lenda. Eis uma odisseia - inquestionavelmente - com muita controvérsia pelo caminho de um dos melhores defesas-centrais da sua geração. De seu nome John George Terry, nascido a sete de dezembro de 1980, um dos únicos três jogadores da história a representarem o Chelsea Football Club por mais de 700 vezes. O peso da braçadeira desde os seus 21 anos. A cara, juntamente com Frank Lampard, do sucesso, das maiores glórias do conjunto londrino. Para sempre ligado com o clube da sua vida, as conquistas e o suor dispensado em prol dos blues valem-lhe uma faixa em sua honra na sua casa, Stamford Bridge, onde permanecerá para a eternidade. John Terry é o símbolo da era dourada de um dos maiores emblemas ingleses.
Afirmação de um central chegado antes do seu tempo
Nascido em Barking, John, irmão mais novo de Paul e filho de Sue e Ted Terry, deu os primeiros passos a nível desportivo na Eastbury Comprehensive School, onde jogou com nomes como Ledley King, Bobby Zamora ou Jermain Defoe. Numa mistura de educação com o desporto, a opção dos seus progenitores desenvolveu a paixão de Terry pelo desporto-rei e, com ela, a qualidade de uma criança bastante habilidosa. Depois de uma experiência no West Ham, o elemento mais novo da família Terry chegava às camadas jovens do Chelsea com apenas 14 anos.
Terry já impressionava, não pelas características mentais que lhe são associadas, mas sobretudo pela qualidade de um jovem defesa-central dotado de grande capacidade com a bola nos pés, algo que naquela época era raro e também por vezes desvalorizado, dado o conceito, a visão ou a ideia daquilo um defesa-central deveria ser. No entanto, Terry não pecava nesse aspeto, apenas demonstrava ser mais fora do normal, especial.
E porque é impossível falar de John Terry sem as imagens de vários casos mediáticos entrarem de imediato na nossa cabeça, aquela que viria a ser uma carreira repleta disso mesmo conheceu o seu primeiro capítulo em 2001. Para o imponente líder foi difícil manter-se fora dos holofotes por razões que não o futebol e o primeiro desses episódios, juntamente com Frank Lampard, Jody Morris e Frank Sinclair, sucedeu-se após a embriaguez do trio num hotel repleto de cidadãos americanos logo após os ataques terroristas levados a cabo contra os Estados Unidos da América.
Portugueses e ingleses sempre foram bons amigos
Em 2004 chegava a Stamford Bridge um destemido treinador que havia conquistado a Liga dos Campeões com o FC Porto. Pela mão do histórico presidente blue, Roman Abramovich, José Mourinho aterrava em Londres para levar o Chelsea de forma categórica à conquista do campeonato inglês... 50 anos depois.
Perante uma dupla de respeito no centro da defesa com outro reforço, Ricardo Carvalho, o Chelsea sagrou-se campeão inglês e venceu a Carling Cup. E porque estamos a falar de dois jogadores dotados de uma mestria defensiva rara e de um técnico que, por aquela altura, demonstrava-se exímio no capítulo defensivo, a importância destes foi brutal para a emancipação do clube. As estatísticas, essas, não enganavam: 38 jogos de Premier League com apenas... 15 golos sofridos.
Seguiu-se mais uma época nos mesmos moldes e os blues conquistavam o seu terceiro título de campeão inglês, o inédito bicampeonato. A aposta ganha na armada lusa (ainda havia Paulo Ferreira, Maniche ou Tiago), encabeçada, claro está, pelo Special One, constituía-se como o habitat perfeito para a evolução, a todos os níveis, do capitão, líder e futura lenda.
Na final britânica, frente ao Manchester United, em Moscovo, a partida foi marcada pelo equilíbrio, tal como na luta pela Premier League entre os dois emblemas. Foi preciso o desempate por grandes penalidades para coroar o vencedor daquela edição da Liga dos Campeões. O que aconteceu de seguida levou Terry a lamentar-se de forma angustiante: «Avancei, sabendo que estava lá para um momento decisivo e tudo dependia de mim. O que aconteceu a seguir vai me assombrar pelo resto da minha vida».
No duelo com Edwin Van der Sar, o capitão blue escorregou, falhou o penálti decisivo e acabou imediatamente com as esperanças dos adeptos do Chelsea em elevar o nome do clube para um patamar paradisíaco. O Chelsea mantinha-se na sombra do Manchester United de Alex Ferguson e Cristiano Ronaldo, porém, o melhor ainda estava para chegar.
De escândalo em escândalo
O Chelsea era uma confirmação entre os grandes do futebol inglês e voltou a prová-lo, em 2009/10, sob o leme de Carlo Ancelotti ao vencer a Premier League e a Taça de Inglaterra. O sucesso blue na primeira década do novo milénio era inigualável na história do clube, tal como o estatuto de Terry, considerado por muitos, já naquela altura, uma lenda. Apesar deste sucesso, uma conjuntura de casos extra-futebol ameaçou a sua integridade, explicitamente na seleção inglesa, onde já detinha um papel importante, mas sobretudo a negra imagem de um jogador de futebol que era notícia em todo o lado no início de 2010.
Na memória fica a célebre mão estendida de Terry, ignorado por Bridge, no início de um Chelsea x Manchester City, não muito depois da polémica ter estalado. O rótulo de vilão estava presente na cabeça de muitos e a situação agravou-se ainda mais um ano depois, desta feita, um caso de abuso racial contra Anton Ferdinand, irmão de Rio, numa partida frente ao Queens Park Rangers, em outubro de 2011.
John Terry foi internacional inglês por 78 ocasiões, tendo marcado por seis vezes. Capitão desde 2006, depois de David Beckham, o defesa-central liderou a seleção das terras de Sua Majestade nos Mundiais 2006 e 2010 e no Europeu 2008. Esteve ainda presente no Mundial 2012 e no Europeu 2004. Terry terminava o seu ciclo pela Inglaterra aos 31 anos.
A glória a níveis nunca antes vistos
Com Roberto Di Matteo ao leme da equipa, o Chelsea terminou o campeonato na sexta posição, mas as atenções e o foco estavam na Liga dos Campeões. A equipa londrina havia ultrapassado Benfica e Barcelona e marcava presença, pela segunda vez na sua história, na final da Liga dos Campeões, em Munique... contra o Bayern.
John Terry foi uma das peças-chave para levar a equipa à final, contudo, por fruto da expulsão na meia-final da competição, não esteve presente no jogo decisivo que sagrou o Chelsea campeão europeu em 2012. Era o delírio entre os adeptos dos blues que, na época seguinte, sob o comando técnico de Rafael Benitez, conquistavam a Liga Europa frente ao Benfica, em Amesterdão, também sem o inglês, devido a lesão. Apesar da relação tensa com o treinador espanhol, John Terry continuava no clube e os títulos europeus engrandeciam a sua aventura pelo emblema londrino.
2013 marcou o regresso de José Mourinho ao Chelsea e com ele a fase final da carreira do capitão, na altura com 33 anos, do qual o conceituado técnico português nunca prescindiu. Obviamente, as suas qualidades físicas iam decrescendo, mas as valias mentais, a liderança e a longevidade de um estatuto mais do que conquistado continuavam a fazer a diferença.
Após uma primeira época apagada, Mourinho voltou a levar o Chelsea à conquista da Premier League. Com o magistral técnico português, Terry nunca realizou menos de 40 jogos, marca que, naturalmente, demonstrava a importância de um verdadeiro comandante dentro de campo. Após uma saída conturbada de um dos grandes responsáveis pela carreira de sucesso de Terry, a veia conquistadora ainda não tinha conhecido o seu fim.
Numa despedida arrepiante em 2017, John Terry colocava um ponto final numa das ligações que mais frutos deram na história do desporto. Não se trata apenas e só de um jogador, mas sim do símbolo da mudança de paradigma de um clube que teve em Terry um dos ícones que a grandeza das conquistas no presente século trouxeram ao Chelsea.
E depois do adeus, o Aston Villa
Terminando a vida dentro das quatro linhas, John Terry permaneceu (e permanece) na estrutura do Aston Villa, mais propriamente como treinador adjunto. Uma longa carreira de êxitos, controvérsias e, essencialmente, um legado que em Stamford Bridge jamais cairá por terra. Estamos assim perante o Captain, Leader, Legend como carinhosamente é reconhecido pelos apaixonados blues.