2014, Outubro. Entro na sala de maquilhagem do estúdio virtual da RTP e ouço o Jorge Andrade a falar com uma produtora angolana do programa 4x4x3, apresentado por Alexandre Santos. Cinco, seis, cinco, seis. Em causa o número de países africanos de língua oficial portuguesa, A produtora cita os cinco: Angola um, Moçambique dois, Cabo Verde três, São Tomé quatro, Guiné-Bissau cinco. Jorge Andrade defende o sexto. Amadora, de onde ele é natural. E ri-se à grande.
2022, Setembro. O sorriso continua aberto, Jorge Andrade é assim. A entrevista começa na Estação do Oriente, em Lisboa, e acaba no El Pibe Sports Bar, restaurante de Tiago Fernandes em Sarilhos Grandes. O ambiente está servido, o bife também. AO ataque.
Porquê Estrela?
Vivia atrás do campo do Estrela, ao pé da fábrica dos iogurtes Yoplait. Um dia, fui lá tentar a minha sorte, levado por um amigo chamado Vladimir, e, olha, fiquei 13 anos.
Seguidos?
Houve um ano em que fui emprestado ao Real Massamá e isso mudou-me. Quando voltei ao Estrela, já entrei diferente, com outra atitude e cara de mau para evitar outro empréstimo.
E chegaste à selecção pelo Estrela?
Fui chamado aos sub20, depois sub21 e aí joguei com a Noruega, onde encontrei aquele grandalhão chamado Carew. Depois ainda fui aos bês e fiz dois jogos, se não me engano. Um em Marco de Canaveses com a Alemanha, com o Enke na baliza, e outro com a Roménia.
E a selecção principal?
Aí já jogava no FC Porto, foi a um 25 de Abril de 2001, em França, no Stade de France. Joguei ao lado do Couto, o meio-campo era Meira, Abel Xavier e Rui Bento. Os laterais Nélson e Rui Jorge. E tenho ideia de que o Hélder Cristóvão também jogou. Isso é António Oliveira, antes do Mundial-2002, e jogo aqui e ali sem grandeeee expressão. Quem apostou mesmo em mim foi o Scolari. A partir do momento em que Portugal perdeu com Espanha em Guimarães por 3:0 e o Meira saiu da equipa, agarrei o lugar e fiz 30 jogos seguidos, sempre no onze.
Isso inclui Euro-2004 e mais o quê?
Toda a qualificação para o Mundial-2006. O Figo fez zero jogos de qualificação e jogou a fase final. Eu fiz toda a qualificação e nenhum da fase final, ahahahahahah.
Eischhhhhh, não foste à Alemanha?
Ai fui, fui.
Foste, como?
O Scolari convidou-me.
Para a fase de grupos?
Para tudo, do início ao fim.
E fazias o quê?
Treinava-me com eles, a parte da corrida. Quando eles passavam para uma parte mais técnica, eu seguia para a piscina com o doutor Gaspar. Depois encontrava-os ao almoço e seguíamos o dia todo juntos.
Ahahahahah, não fazia ideia.
O Scolari só me pediu uma coisa: ‘não venhas de muletas’. E não fui, já as tinha largado.
E não foste ao Mundial porque?
Choquei com o Molina a uns dois meses do Mundial, num jogo em Camp Nou.
Imagino a tristeza.
Não imaginas, não.
Pois, tens razão. E que tal esse Mundial?
Estar de fora é ver todos os pormenores que te passam ao lado enquanto jogador focado na competição. Tinha credencial para ir ao balneário durante os jogos e para estar no túnel de acesso ao relvado. Vi tudo com outro olhar. Quando jogas e chega o intervalo, por exemplo, tu não vês ninguém à tua frente nem sequer para a mesa onde está comida e bebida. Ainda me lembro da tanda de penáltis com a Inglaterra.
Porquê?
O Deco tinha sido expulso com a Holanda e estava suspenso. O seu estado de nervos era tal que não aguentou e tive de o levar para o balneário durante a tanda.
E depois do Mundial?
Sou nomeado um dos capitães de equipa e ainda sou capitão umas quatro vezes. Deixa cá ver, Sérvia em Belgrado, Bélgica em casa e fora mais Arménia, acho que é assim.
Ainda Scolari, certo?
Sabia muito, o Scolari. Há um jogo engraçado com o Cazaquistão, em Coimbra, para o apuramento do Euro-2008. Aliás, duplamente engraçado. Quando recupero da lesão, faço um jogo da Taça do Rei e vou à selecção. No treino de véspera, não sou o Jorge Andrade de sempre porque ainda tenho medo de forçar o joelho e faço tudo mais devagar. O Scolari topa-me e mete o Tonel. Tudo bem, na boa. Estou no banco a curtir e, às tantas, digo à malta ‘ainda vou entrar’. O Ronaldo e o Deco, que já tinham sido substituídos, partem-se a rir. ‘Vais entrar, vais; vais é ficar aqui connosco até fim.’
E então?
Há um canto para nós, o Tonel estica-se todo para marcar e deixa-se ficar deitado, com dores. A malta do banco, eu incluído, claro, começámos a gritar ‘doutor, doutor, ele está mal’ e o Scolari mexeu na equipa. Moral da história: quando o Tonel abriu os olhos, já estava eu em campo. Ahahahahahah. Ainda joguei uns minutos.
E falhas o Euro-2008?
Já estava na Juventus e, ao terceiro ou quarto jogo, parto a rótula em Roma.
Ouchhhh.
Foi tramado.
Quem é o teu treinador?
Ranieri, cinco estrelas.
E a equipa?
Havia um miúdo de 20 anos chamado Chiellini. Queria ser emprestado ao Southampton ou ao Sunderland, vê lá bem. E eu sempre a martelar-lhe a cabeça: ‘dei a voltar ao mundo para estar aqui e tu queres sair? Fica mas é aqui.’
E ficou.
Funcionou. Almoçava todos os dias com o Chiellini. E com mais malta dos solteiros, como o terceiro guarda-redes Belardi, o médio Cristiano Zanetti e o próprio Tiago. O Tiago, digo-te, acompanhou-me em todo o processo da lesão e viu-me a sofrer. Como vivíamos juntos, era ele quem me levava a todo o lado. Quando me fui embora, deixei-o lá sozinho e ele depois foi para o Atlético Madrid, onde ainda ganhou a Liga Europa e se fez capitão de equipa. Craque.
E o resto da equipa?
Tanta gente: Buffon, Trezeguet, Del Piero, Nedved. Digo-te, o Buffon e o Del Piero, como capitães de equipas, dez estrelas. Depois da lesão, comecei a fazer tratamento na piscina para recuperar e só tinha de meter a cabeça fora da água para receber um beijinho deles na testa logo de manhã, antes do pequeno-almoço. Vê bem, eles só passavam pela piscina para me cumprimentar e dar força.
Juventus out. Segue-se o quê?
Fui desafiado pelo [empresário] Jorge Manuel Mendes a ir ao Notts County, onde o treinador era o Eriksson. Epá, lá o Inverno era logo às três da tarde. Olhava pela janela e era inevitável, pensava em Portugal. Só que o Eriksson dava muita força, transmitia-me confiança. De repente, ele saiu para a Costa do Marfim e, olha, saí de lá. Também houve outro contacto, do Luque, aquele avançado do Deportivo. Ligou-me a dizer para me preparar bem e recuperar a tempo de fazer a pré-época no Málaga. Fiz tudo, só que depois o treinador não me quis.
Como é que se chamava o treinador?
Muñiz [fala com o til no éne e tudo]
Apanhaste muitos treinadores na carreira.
No Estrela, tive a sorte de ter o Miguel Quaresma nas camadas jovens. Ele sabia muuuuito e a sua visão do jogo cativou-me sempre. Depois, nos seniores, apanhei Fernando Santos e Jorge Jesus.
E que tal?
O pessoal não queria o Jesus, lembro-me disso. Porque tinha fama de conflituoso. Só que os treinos dele eram bons e os jogadores aturaram-no. O grupo segurou-o, estás a ver? Fiz dois anos com ele. No primeiro ano, joguei a 8, médio-centro.
A sério, a médio?
Nunca mais me esqueço de um treino a meio-campo em que os centrais deviam evitar golos dos avançados. O exercício era simples, alguém cruzava e eu, como central, tinha de evitar golos do avançado, que era o Capitão. Acreditas que o Capitão marcou 20 golos em 20 cruzamentos? Ahahahahahah. O Jesus disse-me logo ‘vai-te embora, nunca mais jogas a central’. Ahahahahah. Joguei a 8. Mas, calma, era 8 mas jogava sempre atrás do adversário. Não era fácil o futebol daquele tempo, porque a mentalidade era ir atrás do outro e não havia a tendência de jogar à tua maneira. E quando tinhas bola?, perguntas tu.
E quando tinhas bola?
Davas ao primeiro colega que vias e tchau. A sorte desse Estrela era a quantidade de craques, como o Lázaro e o Roberto Assis. Esse trio do meio-campo do Estrela era assim: eu, Sérgio Marquês e Pedro Simões lutávamos por um lugar, Lázaro e Roberto Assis eram titulares indiscutíveis.
O Roberto Assis, pois é. Era bom mesmo?
Bom? Bate melhor faltas que o Ronaldinho e o Messi. Na boa, acredita. A gente sentava-se a vê-lo marcar, no fim dos treinos.
Então e o Del Piero?
O Del Piero batia com o pé direito e já sabias que a bola ia à baliza. Com o Assis, não: a bola ia lá longe no céu e, de repente, descia. Nunca tinha visto ninguém bater livres assim. Quer dizer, passei a adolescência a ver o Duílio. Só que o Duílio batia forte, pronto. O Assis era todo ele delicadeza, e com uma classe.
E o Ronaldinho, chegaste a vê-lo?
Sim, em muitos Barça vs Depor. Ahahahahahahah. Agora a sério, nunca o vi na Amadora. O que aconteceu foi isto: o Assis propôs o irmão ao Estrela, só que o Ronaldinho já tinha jogado o Mundial sub17, já era uma figura. Por isso mesmo, precisava de um apartamento na Amadora e de um salário. Naquela altura, não havia visão. Se fosse agora, acredito que se fizesse um acordo. O único familiar do Assis que vi foi o filho dele, Diego. Também te digo isto.
Diz.
Troquei de camisola sei lá quantas vezes com o Ronaldinho. Os meus amigos pediam-me e eu falava com ele, na boa. Os espanhóis é que sempre tiveram alguma vergonha em falar com ele, por causa da língua, acho. Lembrei-me de uma boa: havia um miúdo catalão no Depor chamado Rodri. Como não tinha moral para pedir camisolas, perguntou-me se podia arranjar-lhe uma do Real Madrid. Quando acaba o jogo, quem está ao meu lado? Beckham. Cheguei ao balneário e ver a cara do miúdo com a camisola na mão foi um mimo.
Falavas dos craques do Estrela, havia mais?
Ivkovic, cinco estrelas. Adivinhava os penáltis todos e ganhámos um torneio de pré-época em Setúbal à conta dele. Ele era tão bom com os pés que se chateava se alguém fizesse asneira num meiinho. A sério, ele saltava do exercício e ia começar à volta do campo, a resmungar. Ahahahahah. O Paulo Santos foi outro guarda-redes que apanhei a jogar bem com os pés.
E centrais?
Rebelo, Fonseca, Leal, Raul Oliveira. Por muito que o treinador te ensine, e o Fernando Santos também jogou a central e transmitia esses valores, quem te ensina na realidade é o colega do sector. Seja nos treinos, seja nos jogos, seja nas camadas jovens, seja nos seniores.
Pois é, o Fernando Santos.
Estava habituado desde os juniores a jogar com três centrais e eu era o central do meio, estilo Coates. Quando ganhava a bola, levava-a para a frente. Isso acabou com o Fernando Santos. E voltou com o Jesus, que gostava de jogadores que levassem a bola.
Barra pesada, o Fernando Santos?
Apanhei-o em duas fases. No Estrela, era muito rigoroso e treinos à militar. Fazíamos todas as semanas jogos-treino entre juniores de primeiro ano e seniores, à 4.ª ou 5.ª feira. Um dia, roubei a bola ao Chainho e parti para o ataque. Soa o apito do mister.
Então?
Falta, dizia ele.
E tu?
Passei-me, ‘falta, o c******’
E o Fernando Santos?
‘Isto é falta, falta de respeito.’ Outros tempos, não podias roubar assim a bola a um jogador da primeira equipa. No FC Porto, vi treinos muito rasgados e, se por acaso, um suplente aleijasse um titular, ui ui. Aquilo entre titulares valia tudo, sempre foi assim.
E quando apanhas o Fernando Santos no FC Porto?
Diferente, sem barba e cabelo aparado. Ahahahahahah. Adaptou-se bem à nova realidade. No Estrela, ele não respondia ao meu bom dia. Então um dia, resolvi não lhe dar bom dia. E ele, logo [Jorge Andrade faz voz cavernosa]: ‘Então miúdo, já não se diz bom dia?’ Um outro dia, precisava de folga para um exame de matemática. Ele só não me deu a folga como ainda me perguntou se queria explicadora.
Como é que foste parar ao FC Porto?
Assinei com o Vale e Azevedo nesse Verão [2000]. Ele conseguiu levar o Miguel para o Benfica mas não me conseguiu levar, por faltas de verbas. O FC Porto soube desse pormenor e antecipou-se. Nunca mais me esqueço, foi o Tiago, guarda-redes do Sporting, quem falou de mim ao Jorge Manuel Mendes e depois informou-me para ir a uma determinada casa em Cascais, acompanhado pelo meu pai.
Porquê?
Vem aí malta da Udinese, disse-me o Tiago.
E?
Quando entrei na tal casa, estava lá o Pinto da Costa a perguntar-me se queria ir para o FC Porto.
E tu?
‘Onde é que assino?’
Dois anos, uma Taça e uma Supertaça.
Verdade, não ganhei nenhum campeonato. O de 2001 foi para o Boavista e o de 2002 para o Sporting. Ficou a experiência de jogar num grande. E de viver uma experiência linda, porque o Deco e o Chainho foram os meus padrinhos no Porto e eles eram obrigados a ir-me buscar para tudo e mais alguma coisa entre almoçar, jantar, convívio com as famílias. Fizemos imensas coisas juntos, muitas festas de aniversário, as nossas e a dos nossos filhos. Ainda por cima, o meu irmão jogava no Salgueiros nessa altura e também se juntava a nós. A cultura do FC Porto era muito boa, a dos padrinhos. E encontrei centrais maduros, incríveis.
Como quem?
Aloísio. Bem, o Aloísio tinha 37 anos, acho, e era seco. Mais seco que eu. Mais seco que todos. A dupla era ele e o Jorge Costa. Perdemos a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, eliminados pelo Anderelcht numa noite em que o Maric se lesiona. Depois jogámos a Taça UEFA e fomos eliminados pelo Liverpool, vencedor da prova. Comecei no banco e, depois, fiz toda a segunda volta. Perdemos forte em Leiria, 3:0 acho, e o Aloísio saiu do onze. Entrei eu e nunca mais saí.
Só em 2002.
Ahahahahah. Pois, saí para o Deportivo. O FC Porto precisava de dinheiro e havia muitos centrais. Além de mim e Jorge Costa, havia ainda Ricardo Costa, Ricardo Silva mais Pedro Emanuel, trazido pelo Mourinho. Houve uma oportunidade para sair e aproveitei. Na mesma onda, o Paredes saiu para a Reggina.
Mourinho. Antes, Octávio. Certo?
O mister Octávio tinha a escola da preparação física e o seu jogo era prático. Com o Mourinho era mais treinos curtos em espaços curtos e mini-jogos para o jogador resolver o problema no mais curto espaço de tempo. Imagina agora treinares em espaços curtos e, de repente, chegas a um relvado? A tua percepção do jogo muda e és mais ágil de cabeça. De menos a mais.
Lindo. E que tal a vida na Corunha?
Perfeita. Saía do estádio a pé para casa, mesmo em dia de jogos, e encontrei mais estímulos.
E mais centrais?
Claro. À cabeça, Naybet e Donato.
E o treinador?
Javier Irureta. Ele viveu sete anos no mesmo hotel, à frente do mar e a um quilómetro do estádio. A nossa equipa era bárbara. Na frente, vi Tristán, Pandiani, Makaay.
O Pandiani é o do camião?
Ahahahah. Tinha sete ou oito carros e, sim, um deles era a parte da frente de um camião. O Makaay foi pichichi e Bota de Ouro na primeira época. O Tristán era o Tristán, grande. Vivi noites memoráveis. Aliás, esse Deportivo ainda hoje é memorável. Se fores ver os resultados, ganhámos fora aos grandes: Real Madrid, Barcelona, Milan, Bayern, United. O Deportivo é o segundo clube de muita gente em Espanha, à imagem agora do Villarreal.
…
Uma noite inesquecível, ainda não estava no plantel: o do centenário do Real Madrid. A federação marca a final da Taça do Rei para o Santiago Bernabéu e o Deportivo vai lá ganhar 2:1, golos de Tristán e Sergio. Sabes o que aconteceu?
Nem ideia.
O Real Madrid ofereceu ao Deportivo o banquete. Maravilha. No meu tempo, a melhor memória é aquela eliminatória com o Milan, nos ¼ final da Liga dos Campeões. Começámos bem lá em Milão, 1:0 de Tristán. Depois levámos um arraso, acabou 4:1 para eles. No dia seguinte, estávamos doidos, aquilo doeu-nos. Só que depois começámos a meter na cabeça que íamos dar a volta. Naqueles 15 dias, a vida correu-nos bem na Liga espanhola e entrámos para a 2.ª mão com o espírito de remontada. Já havia 3:0 ao intervalo e o Fran ainda faz 4:0 na segunda parte numa bola que ainda bate no Cafu. Que noite.
Sentiste o desespero do Milan?
Lembro-me de ver o Kaká a chorar. A chorar mesmo. E o Djalminha a dizer-lhe ‘pára quieto, vais ganhar muito, isto é para tu aprenderes’. Ahahahahaha.
Eischhhh, Djalminha.
Que craque. Marcava os penáltis à Panenka. Sempre. Marcou assim ao Milan em Milão e ao Arsenal em Londres. Só Liga dos Campeões, digo. O Djalminha tinha coisas engraçadas. Antes de um jogo com o Real Madrid, no Riazor, ele aposta com o Ronaldo fenómeno quem faz mais canetas. Cá diz-se túneis, não é?
Sim, sim.
No primeiro lance, o Ronaldo encara-me e passa-me a bola por entre as pernas. Voou uns 20 metros para aí. Foi uma mocada. Vi amarelo e disse ao Ronaldo para nunca mais aparecer na minha zona. Entreguei-o ao Naybet, por assim dizer, ahahahahah. Isto para falar do Djalminha. Vê bem os objectivos de vida dele: mais canetas durante um jogo.
Quem marcaste nessa noite dos 4:0 ao Milan?
Tomasson e, depois, Inzaghi.
E depois na ½ final?
Nunca esperámos um FC Porto cauteloso no Dragão e empatámos 0:0. E, depois, na Corunha, jogámos sem o Mauro Silva.
E tu também estavas fora.
Fui expulso.
My friend my friend.
Nem me fales, não há dia que passe sem que me lembre ou alguém me lembre desse lance. E fiquei sem falar com o Deco um tempo valente. Adiante, quem ocupou o meu lugar foi o César e é ele quem faz o penálti do único da eliminatória. Pobre do rapaz, sem culpa nenhuma. E, pronto, a final é FC Porto vs Monaco. O Monaco cruzou-se connosco na fase de grupos e deu-nos 8:3, com três ou quatro golos do Prso. E eu lá no meio, ahahahahah.
Ahahahahah. Falaste do Mauro Silva. Campeão mundial 1994?
Sim senhor, que jogador. E também joguei nessa equipa com um futuro campeão mundial: Capdevila. Também lá andava o Scaloni, agora seleccionador da Argentina. Falo com ele de vez em quando por mensagens, a Argentina está bem boa.
E a nossa, qual é a tua melhor memória?
Euro-2004. Foi bom e, ao mesmo tempo, stressante. A partir do momento em que perdemos com a Grécia, todos os jogos foram uma final; tínhamos de ganhar à Rússia, tínhamos de ganhar à Espanha, tínhamos de ganhar à Inglaterra, tínhamos de ganhar à Holanda.
Tínhamos de ganhar à Grécia.
Foi pena, aquele Charisteas. Uma história gira. Ou não. Na palestra, o Scolari perguntava sempre que queríamos mudar alguma coisa. E falámos com ele em alterar a marcação nos cantos. O Costinha ficava com o Charisteas e o Ricardo Carvalho ficava com um grego mais baixo em altura. O Scolari diz ‘perfeito’. Pronto, o golo foi do Charisteas.
Lembro-me do lance, não havia ninguém nos postes.
O Scolari não gostava disso. Já o Irureta no Depor gostava de cobrir os dois postes e há um ano em que o Fran tira uns três ou quatro golos ao segundo poste, naquela bola morta.
De volta a esse Euro-2004, estiveste bem: um autogolo e lesionaste o Rooney.
Ahahahahaha. O Rooney só dizia fuck fuck fuck e eu sem perceber que o tinha lesionado. Era o Pelé deles. Depois levei com o Vassell, que me lesionou num pé porque os ingleses têm a mania de fazer carrinhos. Lixei-me numa bola normalíssima, junto à linha lateral. Paciência, a vida é bela.