Que bem encaixa o blanco, tão puro, em quem teima ser melhor que os outros. Não por arrogância, mas não necessariamente sem essa altivez que é, por vezes, justificada.
De forma extravagante ou mais prática. Com miúdos da casa ou com os melhores da galáxia, pagos com riquezas imensuráveis. De toda e qualquer forma, seja com quem for a representá-lo em campo, o Real Madrid arranja maneira de se sagrar campeão. Fá-lo em Espanha, mas a vaidade maior vem das inúmeras conquistas europeias e mundiais.
O Futebol começou a ser jogado em Madrid por alunos da Institución Libre de Enseñanza, tendo alguns desses alunos acabado por fundar em 1895 o Football Sky, o primeiro clube da cidade, que se reunia para jogar aos Domingos na Moncloa.
Cinco anos mais tarde, esse clube dividiu-se em duas coletividades: New Foot-Ball de Madrid e o Club Español de Madrid, tendo posteriormente saído do seio deste último os fundadores do Madrid FC, com Juan Padrós Rubió como presidente.
Três anos após a fundação o clube venceu a Taça do Rei, a primeira de quatro consecutivas. Seria somente em 1920 que o Rei Afonso XIII, um apaixonado pelo Desporto, atribuiu o título de Real ao clube.Com o advento da II República Espanhola o clube perde esse título e a coroa no emblema. É, contudo, adicionado ao escudo, uma barra diagonal que representa Castela. Estes são os anos em que o Real conquista os seus primeiros campeonatos: 1931/32 e 1932/33.
A guerra civil entre republicanos e nacionalistas estala em 1936, interrompendo abruptamente o desenvolvimento do futebol espanhol. No fim do conflito volta a coroa e o nome Real, mas o clube estava moribundo. Tinha desaparecido a anterior direção, muitos dos jogadores morreram no conflito e até alguns troféus tinham desaparecido da sede.
O longo processo de estruturação e recuperação, ganhou novo alento quando Santiago Bernabéu, que já tinha defendido as cores do clube, sido inclusive capitão, treinador e dirigente, foi eleito presidente dos merengues em 1945.
Foi durante o seu longo consulado que o Real Madrid se tornou no colosso que o mundo conhece.
Bernabéu iniciou a construção do estádio que viria a ter o seu nome e que aquando da construção era o maior da Europa. Depois, foi construída uma cidade desportiva para melhorar as condições de treino dos jogadores, e durante esse período foi reestruturando a organização do clube, incentivando a autonomia das diversas secções, profissionalizando toda a hierarquia e criando as bases para o sucesso.
Com as infraestruturas construídas e a casa arrumada, dedicou-se então a construir uma equipa de sonho.
Primeiro roubou Di Stéfano ao Barcelona. Mais tarde contratou Gento, Kopa, Munõz, Puskás, criando uma equipa de sonho que por muitos é vista como uma das maiores de sempre.Com esses nomes, que de certa forma podem ser vistos como uma primeira era de galáticos o Real Madrid atingiu um estatuto impensável... Entre 1956 e 1960, conquistou uma mão cheia de Taças dos Campeões Europeus seguidas!
As primeiras cinco edições da mais prestigiada prova de clubes foram todas elas para o mesmo museu, num período em que a equipa da capital espanhola conquistou também inúmeros Campeonatos e Taças a nível interno.
Em 1966 o clube conquistou a sua sexta Taça dos Campeões, dando cor a um período de menor fulgor fora de portas (para os critérios merengues, isto é). Depois os anos 70, que viram o fim da ditadura franquista, mas também um Real Madrid que se manteve na liderança do futebol espanhol.
A década seguinte trouxe a Quinta del Buitre, uma geração que incluía jogadores como Butragueño, Míchel, Sanchís, Vázquez e Pardeza. Conquistou cinco campeonatos, mais três taças, e levou o Real de regresso aos grandes momentos na Europa: finalista vencido da Taça dos Campeões Europeus (1981) e vencedor da Taça UEFA (1985 e 1986).
A partir de 1990 o Barcelona inicia um período de domínio na Liga, conseguindo inclusive a sua primeira Taça dos Campeões Europeus, na última edição que teve esse nome.
Começa com Fabio Capello, que chega de Itália para comandar Mijatovic, Roberto Carlos, Seedorf e Suker. É campeão. No ano seguinte é a vez de Heynckes conduzir os blancos ao título.
Recuperada a hegemonia nacional, não espanta que o Real lance as suas ambições à Europa. Em 1998 o Real sagra-se campeão europeu pela sétima vez e em 2000 levanta a oitava orelhuda, numa altura em que já se chamava Liga dos Campeões.
A nona Champions é alcançada em 2002. Curiosamente é um herói local, Raul Gonzaléz, que é fundamental nas três conquistas europeias e torna-se no maior marcador dos madridistas na história das competições europeias.
O «projeto galáctico», se assim se pode chamar, eclipsa-se em 2005 com a saída de Figo, o abandono de Zidane e a demissão do próprio Florentino Peres. Seguem-se anos de reestruturação, com algumas conquistas internas, mas um avolumar de falhanços na Europa que só foram contornados mais tarde, com um novo craque português...
2009 marca o regresso de Florentino Pérez ao Real Madrid, mas nem é essa a principal efeméride do ano. Foi nesse verão que chegou Cristiano Ronaldo, que aos 24 anos, já com uma Bola de Ouro conquistada em Inglaterra, convenceu os merengues a voltar a quebrar o recorde mundial de transferências por um português.
Esse objetivo foi cumprido em 2014, quando o Real Madrid levantou a mítica «La Décima» no Estádio da Luz, depois de bater o seu rival Atlético Madrid na grande final.
Após mais de cem anos de história, o Real era, irredutivelmente, o maior clube do mundo, confirmando o já antigo reconhecimento FIFA de que tinha sido o maior clube do século XX. Ninguém se aproximava.
Após a conquista da décima Liga dos Campeões, em Lisboa, o Real dominou por completo o futebol mundial e conquistou mais três Ligas dos Campeões consecutivas (2015/16, 2016/17 e 2017/18), juntando ainda duas Supertaças Europeias e três Mundiais de Clubes, com uma equipa que ao longo deste período contou, para além de CR7, com figuras como Luka Modric, Karim Benzema, Toni Kroos, Casemiro, Marcelo, Gareth Bale ou Sergio Ramos.
No verão de 2018, Cristiano Ronaldo deu por terminada a sua aventura em Madrid. Nove temporadas, 450 golos e vários títulos depois, o português assinou pela Juventus e obrigou o Real Madrid, que tanto sentiu a sua saída, a mudar o rumo.
O tricampeão europeu terminou sem conquistar qualquer título, tal era a ressaca do português, mas na época seguinte Zinedine Zidane liderou a equipa e conseguiu retomar o trono que pertencia ao Barcelona, levando os blancos ao seu 34º título e campeão nacional, além de uma Supertaça.
O regresso triunfante de Zidane ao Real Madrid acabou por ser, no entanto, curto, uma vez que em 2020/21 falhou em conquistar novamente o título, numa temporada onde a qualidade exibicional do conjunto merengue deixou a desejar.
Caiu nas meias-finais da Liga dos Campeões e não conquistou qualquer título: uma autêntica desilusão aos olhos da direção, que optou no verão de 2021, por Carlo Ancelotti, também ele de regresso a um clube que comandou entre 2013 e 2015.
Em 2022, no fim dessa temporada de regresso a Madrid, Carletto repetiu o que tinha feito na primeira passagem e sagrou-se campeão europeu, numa campanha em que celebrou constantes remontadas até à conquista da 14ª orelhuda da história do clube. Aos 34 anos e com mais de uma década de clube, Benzema assumiu finalmente o protagonismo, sendo o herói da conquista e premiado com a Bola de Ouro.