Em primeiro lugar uma bola, depois uma bandeira representativa da região enrolada em seu torno e, por fim, a coroa de um rei. Assim se constrói o símbolo da Real Sociedad, que também assim, por esta ordem de prioridades, foi construída.
Não é um gigante temido, mas é um clube amplamente respeitado e considerado por todos como um dos maiores de Espanha. Mesmo banhado a prata com troféus da Copa del Rey e La Liga, segue humilde e com orgulho maior nas suas origens bascas.
O começo do século XX foi também o início do futebol no País Basco e em particular em San Sebastián, numa altura em que muitos regressavam à cidade depois de terem estado a estudar ou trabalhar no Reino Unido. Foi assim que nasceu, em 1904, o San Sebastián Recreation Club, como uma filial de um clube de ténis da localidade.
Com camisolas amarelas e verdes, a equipa começou a competir a nível nacional logo em 1905, na quarta edição da mítica Copa del Rey. Apenas dois anos, devido a um conflito entre dois elementos importantes, o clube dividiu-se e uma das fações, improvisadamente apelidada de Ciclista de San Sebastián, fez história!
Ora, na primeira competição em que participou, e pela primeira vez equipado de branco e azul, conseguiu vencer a Copa del Rey! Foi apenas o terceiro clube a fazê-lo, depois do Real Madrid e o Athletic (futuro rival, aqui derrotado nos quartos de final) terem limpado as primeiras seis edições.
Às costas dessa campanha triunfante, os jogadores juntaram-se e fundaram, a sete de setembro de 1909, a Sociedad de Fútbol.
Por duas vezes mais a Real Sociedad chegou à final da Copa del Rey, perdendo ambas após três jogos com o Barcelona, até ao ano de 1929 em que foi um dos membros fundadores da La Liga. Terminou em quarto nessa temporada inaugural, com o seu Francisco Bienzobas a sagrar-se melhor marcador.
Em 1931 a equipa mudou o nome para Donostia, devido à Segunda República, mas regressou ao nome atual oito anos depois, durante a guerra civil. Depois disso, a Real Sociedad passou muitos anos a alternar constantemente entre o primeiro e o segundo escalão.
Foi preciso chegar à década de 80 para voltar a ver os txuri-urdin (branco-azul em basco) entre os maiores de Espanha novamente.
Pela primeira vez terminaram no segundo lugar da La Liga, em 1979/80, a apenas um ponto do campeão Real Madrid, mas vingaram-se e quebraram a hegemonia blanca na temporada seguinte... A Real Sociedad foi pela primeira vez campeã de Espanha, depois da igualdade pontual ser resolvida pela regra do confronto direto.
Esse título permitiu, meses depois, a conquista da Supercopa. Permitiu também um regresso à Taça dos Campeões Europeus, para aquela que foi a melhor campanha de sempre dos bascos. Eliminaram o Víkingur Reykjavík, o poderoso Celtic e, nos quartos, bateram o Sporting por 2-0 depois de uma derrota (1-0) em Lisboa. Só tombaram nas meias, frente ao eventual vencedor (Hamburger SV).
Em 1987 voltou a erguer a Copa del Rey, 78 anos depois de o ter feito com outro nome, ao bater o Atlético de Madrid nas grandes penalidades. No caminho até essa final eliminou Eibar, fez história nos quartos ao bater o Mallorca por 10-1, e nas meias eliminou o rival basco, Athletic.
A década já contava quatro troféus, mas não terminou sem que se escrevesse mais uma página importantíssima na história do clube. Foi em 1989, quando contrataram John Aldridge - o primeiro estrangeiro da história da La Real.
Sim, leu bem. Durante os primeiros 80 anos da sua história, a Real Sociedad, à semelhança dos vizinhos de Bilbau, contratava apenas jogadores bascos. Essa política era uma fonte de orgulho para os adeptos, mas quando esse rival levou o avançado Loren Juarros, deixando o clube sem alternativas para a posição, foram forçados a olhar além-fronteiras.
Aldridge só equipou de branco e azul durante duas temporadas, mas foi o artilheiro da equipa em ambas e acima de tudo deixou um grande legado. Foi o primeiro estrangeiro na história do clube, mas ainda é considerado por muitos adeptos o melhor estrangeiro da história do clube.
Abriu o caminho para portugueses como Carlos Xavier e Oceano em 1991 e mais tarde a Futre, bem como outros notáveis estrangeiros como Darko Kovacevic, Nihat Kahveci, Antoine Griezmann, Carlos Vela ou Alexander Isak.
Em 2003 a Real Sociedad foi vice-campeã a dois pontos do Real Madrid, na sua melhor campanha desde 1988. Uma grande equipa que contava com Xabi Alonso, eleito melhor espanhol da Liga, e Kahveci, melhor estrangeiro, comandados por Raynald Denoueix, que foi - pasme-se - o melhor treinador.
Falharam o título por uma escorregadela que custou a liderança na penúltima jornada, mas conseguiram, mesmo assim, um regresso à elite europeia. Conseguiram passar um grupo que continha Juventus, Galatasaray e Olympiacos, mas caíram nos oitavos de final frente ao Lyon.
O regresso à Liga dos Campeões foi em 2013/04, precisamente 10 anos depois. Começou com vingança sobre o Lyon no play-off, mas terminou logo nos grupos, com cinco derrotas e um empate.
A temporada seguinte começou com as saídas de Griezmann para o Atlético e Bravo para o Barcelona e o resultado não foi bom. Em novembro a equipa estava em zona vermelha e por isso chamou David Moyes, escocês que fez parte de uma era de constantes trocas no banco.
O técnico celebrou essa conquista como nunca ninguém antes. Em plena sala de imprensa, vestiu a camisola e agarrou o cachecol antes de cantar, a plenos pulmões, o hino do clube. Épico.
Conseguiu manter o bom momento e o futebol ofensivo, levando a que a Real Sociedad conseguisse em 2022/23 uma nova qualificação para a Liga dos Campeões, novamente 10 anos depois, por ter terminado em quarto lugar, com a ajuda de craques como Oyarzabal, Merino ou Kubo.