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Mário Coluna: O Monstro Sagrado

Texto por João Pedro Silveira
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Os portugueses, e os benfiquistas em particular, podem nem todos conhecer a geografia de Maputo, a antiga Lourenço Marques, mas já terão ouvido falar do bairro da Mafala, berço de Eusébio, o mais consagrado símbolo do futebol português.

Mas se há um bairro maputense que pode esgrimir um pedigree futebolístico quiçá superior ao da Mafala, esse bairro só pode ser o Alto Maé, uma zona da cidade que dista pouco mais de quilómetro e meio do bairro que viu nascer Eusébio. Ali, a meio caminho entre o Chamanculo e Malhangalene, nasceram e cresceram grandes nomes do futebol moçambicano e português como Matateu, Vicente, Hilário e Mário Coluna...
 
Talvez seja injusto para Mário Coluna, o «Monstro Sagrado» do Benfica e da seleção, começar a crónica da sua biografia falando de Eusébio. Mas se não fosse a «Pantera Negra», muito provavelmente esta biografia seria sobre o melhor jogador moçambicano ou benfiquista de todos os tempos...
 
Mas havendo um senhor chamado Eusébio na história, essa questão não se coloca, e por certo que Coluna, aliás «Senhor Coluna», como Eusébio sempre lhe chamou, não se importa rigorosamente nada de ser segundo, se o primeiro é o seu amigo e afilhado, compatriota e benfiquista, Eusébio da Silva Ferreira. 
 
Infelizmente, numa daquelas coincidências mórbidas, os dois grandes amigos e colegas, símbolos maiores do benfiquismo e de Portugal, acabaram por partir deste mundo separados por menos de dois meses...
 
Primeiros passos
 
Cresceu numa casa de zinco, pobre, mas honrada, filho de um português da Beira Baixa e de uma moçambicana, no Alto Maé. Foi ali que cresceu, aprendeu a ler e a dar os primeiros pontapés na bola. Foi também ali que começou a trabalhar desde de tenra idade... 
 
 
Atleta, desde miúdo que trepava às árvores com imensa facilidade, com o objetivo de apanhar mangas ou caju. Era exímio também no boxe e quando se dedicou ao atletismo, e ao salto em altura, bateu facilmente o recorde de Moçambique.
 
O futebol também lhe interessava, e apesar do sonho de ser mecânico de automóveis, cedo descobriu na sua vocação para a bola, a possibilidade de fugir à miséria a que estaria votado, numa sociedade onde as oportunidades não eram muitas para um pobre, filho de um português e de uma indígena. Os tempos eram outros, e na sociedade colonial de Moçambique, os portugueses 100% brancos não abriam mão do seu «clube fechado». O sangue negro que lhe corria nas veias fechava-lhe muitas portas, e por saber isso, Mário Coluna sempre esteve atento à possibilidade de fintar o destino.
 
Depois de dar nas vistas no Ferroviário, passou para o Desportivo, a então filial dos «encarnados» de Lisboa. Jogando a avançado, tornou-se um caso sério no campeonato local, levando o clube a diversas vitórias.
 
A fama do Desportivo atravessou fronteiras e chegou à vizinha África do Sul que convidou o clube de Lourenço Marques para uma visita. O Apartheid que vigorava no vizinho do sul, impediu Coluna de viajar com a equipa, que actuando só com brancos, acabou por perder por 2x1.
 
Mas na visita dos sul africanos a Lourenço Marques, Coluna já pôde jogar e vingou-se apontando os sete golos da vitória por 7x0. Na metrópole, ou Portugal Continental como chamamos hoje em dia, os três grandes mostravam interesse em contratar a jovem estrela moçambicana. O primeiro a tentar a contratação foi o FC Porto, depois foi a vez do Sporting que dobrou a proposta, mas seria apenas à terceira, quando o Benfica, que até ofereceu menos que os leões, apelou ao coração de Coluna, e fez valer o estatuto de casa mãe, para fazer o jovem jogar de águia ao peito, corria o ano de 1954.
 
Benfica
 
A presença de Coluna na Luz seria preponderante na correlação de forças no futebol lusitano. Até à chegada de Coluna, o Sporting era a maior potência futebolística portuguesa, acabando de conquistar um tetracampeonato que garantia o sétimo título em oito anos. Durante os dezasseis anos que se seguiram, Mário Coluna faria parte das diversas equipas benfiquistas que conquistaram dez campeonatos. Ao abandonar o Sport Lisboa e Benfica, às águias eram as dominadoras absolutas do futebol em Portugal.
 
Apesar da história de sucesso, a verdade é que os primeiros tempos de Coluna no Benfica foram difíceis. Sem se conseguir impor na equipa, não convencia Otto Glória a jogar como avançado.  Raramente convocado, ponderou abandonar Lisboa, ou mudar de clube.
 
O treinador brasileiro resolveu então fazer recuar Coluna no terreno e o resto, é literalmente história. Com a sua força, capacidade de técnica, aliada a uma soberba visão de jogo, Coluna começou a comandar a equipa encarnada do meio do campo, tornando-se no pêndulo do futebol encarnado.
 
Campeão no ano de estreia, voltou a ser campeão em 1957, mas a época dourada seria a de sessenta, onde o seu Benfica conquistou oito campeonatos em dez épocas, além de ganhar duas Taças dos Campeões Europeus em cinco finais disputadas. Um feito que nem Eusébio se pode gabar.
 
 
Com o passar dos anos, recuou de dez para seis, liderando as equipas onde jogava cada vez mais de trás, com a sua voz de comando imperial, mantendo intocável a sua capacidade de leitura e distribuição de jogo. 
 
Seleção e retirada
 
Na seleção, depois de algumas dúvidas, foi convocado por Manuel da Luz Afonso para se tornar uma das pedras fundamentais de Otto Glória durante o Campeonato do Mundo de 1966.  Em Inglaterra, brilhou a alto nível, ajudando Portugal a conquistar o bronze e ganhando um lugar no onze da FIFA. 
 
Abandonaria a seleção dois anos depois, após ter vestido a camisola das quinas 57 vezes. No Benfica jogaria até 1970, quando foi dispensado, e sem remédio, acabou por ter de experimentar a carreira no estrangeiro, impedido que fora de terminar a carreira no clube do seu coração. 
 
Em França, com a camisola do Olympique de Lyon, jogaria apenas por 19 vezes, acabando a carreira finalmente em 1972. Pendurou as botas e regressou a Lisboa, mas pouco anos depois, após a independência de Moçambique, regressou a casa, para viver em Maputo, ajudando à reconstrução e crescimento do seu amado Moçambique, onde, entre outras funções, foi presidente da Federação.
 
Viria a falecer a 25 de Fevereiro de 2014, somente um mês e vinte dias depois da morte do seu amigo e colega, símbolo maior do Benfica, Portugal e Moçambique, Eusébio da Silva Ferreira. 
Talvez seja injusto para Mário Coluna, o «Monstro Sagrado» do Benfica e da seleção, começar a crónica da sua biografia falando de Eusébio. Mas se não fosse a «Pantera Negra», muito provavelmente esta biografia seria sobre o melhor jogador moçambicano ou benfiquista de todos os tempos... Mas havendo um senhor chamado Eusébio na história, essa questão não se coloca, e por certo que Coluna, aliás «Senhor Coluna», como Eusébio sempre lhe chamou, não se importa rigorosamente nada de ser segundo, se o primeiro é o seu amigo e afilhado, compatriota e benfiquista, Eusébio da Silva Ferreira. Os portugueses, e os benfiquistas em particular, podem nem todos conhecer a geografia de Maputo, a antiga Lourenço Marques, mas já terão ouvido falar do bairro da Mafala, berço de Eusébio, o mais consagrado símbolo do futebol português.
Mas se há um bairro maputense que pode esgrimir um pedigree futebolístico quiçá superior ao da Mafala, esse bairro só pode ser o Alto Maé, uma zona da cidade que dista pouco mais de quilómetro e meio do bairro que viu nascer Eusébio.
Ali, a meio caminho entre o Chamanculo e Malhangalene, nasceram e cresceram grandes nomes do futebol moçambicano e português como Matateu, Vicente, Hilário e Mário Coluna...
Talvez seja injusto para Mário Coluna, o «Monstro Sagrado» do Benfica e da seleção, começar a crónica da sua biografia falando de Eusébio. Mas se não fosse a «Pantera Negra», muito provavelmente esta biografia seria sobre o melhor jogador moçambicano ou benfiquista de todos os tempos... Mas havendo um senhor chamado Eusébio na história, essa questão não se coloca, e por certo que Coluna, aliás «Senhor Coluna», como Eusébio sempre lhe chamou, não se importa rigorosamente nada de ser segundo, se o primeiro é o seu amigo e afilhado, compatriota e benfiquista, Eusébio da Silva Ferreira. 
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Mário Coluna
Comentários (11)
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Mário Coluna
2014-08-06 21h17m por antoniocarvalho
Eu ainda não era nascido na altura em que ele jogava, mas de facto os vídeos históricos mostram-nos que ele era sem dúvida um excelente jogador.

Aljezurense, não terás lido bem o título? Ele cumpriria 79 anos se fosse vivo, mas infelizmente já faleceu.

VE
AljezurenseSLB
2014-08-06 16h08m por VerdadeDesportiva007
que cumpra muitos mais , como assim ? Infelizmente morreu , tp . .
TI
Aqui se percebe quem é BENFICA. .
2014-08-06 15h59m por Tigas_5
Muitos que aqui comentam não percebem nada de futebol muito menos de BENFICA. . Mas sim de FIFA. . PES e FM. . Onde só sabem falar de contratações. . Jogadores que pretendem ou de planteis que fariam se dependessem deles. . Mas deixarem uma palavra de elogio ou de reconhecimento pelo que este senhor deu ao clube não conseguem porque só são limitados para pesquisar no youtube e nos jogos de computador os craques pessoais em vez de pesquisarem um pouco sobre a história e quem fez parte dela. ...ler comentário completo »
Monstro sagrado
2014-08-06 13h18m por porto-nuno
descanse em paz!
AT
Coluna
2014-08-06 13h11m por AteMorrerBenfica19
Para sempre eterno! Obrigado capitão!
GO
R. I. P
2014-08-06 13h00m por gotballs
Paz a sua alma
Coluna
2014-02-26 00h27m por RFBMarques
Na altura em que Eusébio morreu, passaram uns jogos na íntegra do SL Benfica e da seleção Portuguesa. . . e fiquei sem dúvida nenhuma, que na aquela altura, a seguir a Eusébio, era o Coluna o grande craque.
Tinha um toque diferente dos outros, um fantástico número 10, sendo a visão de jogo e a qualidade de passe os seus grandes atributos!

Descansa em paz, Monstro Sagrado
Monstro Sagrado
2014-02-25 21h43m por tmhgomes
Obrigado
Coluna
2012-08-06 13h12m por AljezurenseSLB
Que cumpra muitos mais
DJ
Parabens
2012-08-06 09h56m por DJGIL_BENFICA
grande coluna
Grande capitao
2012-08-06 01h30m por redceltic
o maior de sempre

parabens sr coluna
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