De repente já gostamos todos de tiki-taka, Portugal fez mais de 30 passes seguidos e um golo no fim frente à Hungria, coisa de fazer corar Guardiola e resgatar do sono os tantos que se queixam de um estilo que lhes provoca o efeito da benzodiazepina, acordemos pois para o futebol arte, afinal também é possível jogar bem e bonito, e até marcar, mesmo se há só uma jogada para amostra, a prova fez-se ali, que bonito não tem de ser antónimo de bem e até pode ser eficaz, imaginem. Não esperemos é momentos daqueles contra a Alemanha, porque não é da natureza da seleção que é nossa, nem eles, os alemães, vão deixar que aconteça, frente à Hungria houve sempre tempo para ter bola, com a Alemanha teremos pouca bola por falta de tempo, vão apertar cedo sobre Pepe e Ruben Dias, forçar-nos o erro ou a bola longa, não reclamemos 30 passes sem mácula, mas têm de ser possíveis uma meia dúzia de qualidade em cada posse, correr para jogar e não jogar para correr, mais fácil com Bernardo em campo, não duvido.
O euro tem trazido coisas boas, a melhor foi que Eriksen está vivo, celebre-se isso e arquive-se num ficheiro indestrutível a forma como colegas e adversários o protegeram na hora do drama, como colegas e adversários o aplaudiram no jogo seguinte, depois as melhores equipas estão a ganhar, as que assumem o jogo e recusam o cinismo, bela Itália esta sem ponta de catenaccio, a equipa mais completa até agora, França muito forte, Bélgica, Inglaterra, Holanda, além de Portugal, falta a Espanha mas vai comparecer não tarda, não a excluo nunca dos meus favoritos, mesmo com mais gente imberbe, a Ucrânia fez mudar o vento leste ao segundo jogo, ainda vai mostrar mais. E este VAR sim, o VAR inicialmente prometido pela UEFA, mínima intervenção e máxima eficácia, não como cá, com intervenção a rodos e eficácia duvidosa tantas vezes, tem sido menos um jogo de árbitros e é muito melhor assim, menos repetições também, de lances pseudopolémicos, que aprendamos isso, acabem as realizações mais interessadas em casos que no jogo, que é onde começa a gritaria absurda tantas vezes.
E depois jogadores a sério, craques sem exagero na definição, Mbappé à frente de todos até agora, naquele primeiro jogo a voar sobre a Alemanha, e com o imenso Benzema ao lado, que saudades de o ver assim, com vedetas maiores que ele melhora também Pogba, não tenta ser mais do que é, assim foi enorme na estreia, delicio-me com Insigne e Locatelli, um meia leca e um médio que só tem intensidade no cérebro, e basta-lhe, devia ser esse o santo graal mas um GPS nunca o vai captar, a Holanda não encanta como antes , é mais Países Baixos também no jogo agora, mas quando a bola está em De Jong e Wijnaldum volto a gostar deles, como em 88, entusiasmo-me com a segunda juventude de Yarmolenko e aquela sociedade discreta entre Zinchenko e Malinovski, faltava De Bruyne mas já não falta, apareceu com estrondo o loiro da face rosada feito um os melhores futebolistas do planeta, quando quiserem contar a alguém o que é intuição para fazer o certo e o talento verdadeiro que antecipa soluções mostrem-lhe o primeiro da Bélgica frente à Dinamarca, está lá tudo.