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    Michael Owen: The Wonder Boy

    Texto por Gaspar Castro
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    Se há jogador que personifica o sonho de qualquer criança amante do futebol, esse jogador é Michael James Owen. Estreia no Liverpool aos 17 anos, 17 minutos para marcar o primeiro golo. Aos 18 já jogava e marcava na seleção inglesa. Quando festejou o 20º aniversário já contava 36 golos pelo Liverpool, cinco pela seleção dos Três Leões.

    Estrela dos reds e de Inglaterra, com direito a transferência para o Real Madrid dos galáticos, acompanhou ainda Alan Shearer no Newcastle e Wayne Rooney no Manchester United antes de pendurar as botas no Stoke City.

    Se não fossem as lesões que surgiram cedo demais, ainda aos 25 anos, até onde poderia ter ido o Wonder Boy?

    Um talento precoce

    «O meu jogador é preferido é o Michael Owen». Disse-o Pelé, e palavra de Rei é escritura. E o que foi preciso para que este rapaz de Chester se tornasse um dos pontas-de-lança mais admirados do seu tempo? Muito pouco tempo, muitos golos.

    @Getty / Alex Livesey

    Nascido em solo inglês, educado para lá da fronteira em solo galês, filho de um antigo jogador do... Everton, imagine-se. Terry Owen, o Owen sénior, viu-lhe desde cedo o talento e a apetência para os golos. Michael era veloz, dono de técnica apurada e um finalizador nato, qualidades que rapidamente o levaram para as camadas jovens do Liverpool. Os reds tinham sido o primeiro clube a cobiçá-lo quando ainda andava nas equipas das escolas que frequentava. O instinto goleador do pequeno Michael também chegou aos ouvidos de Chelsea e Arsenal, mas uma carta enviada por um muito determinado Steve Heighway, responsável pelo recrutamento do Liverpool, convenceu o jovem a juntar-se ao eterno rival do clube do pai.

    Goleador logo nas camadas jovens dos reds, a jogar com rapazes de 18 anos quando tinha apenas 16, empurrou a equipa de miúdos rumo à primeira Taça de Inglaterra de juniores do clube, conquistando pouco depois o direito a contrato profissional, ainda com 17 anos. O treinador Roy Evans não demorou muito a apostar nele entre os graúdos, e rapidamente viria a colher os frutos deste talento, e de que maneira.

    A 6 de maio de 1997, Evans lançou-o num jogo da Premier League contra o Wimbledon, para o lugar do checo Patrik Berger. Owen precisou de apenas 17 minutos para se estrear a marcar no melhor campeonato do mundo, com 17 anos, 11 meses e 23 dias no bilhete de identidade. Já íamos no final da temporada, por isso a afirmação ficou para a época seguinte. E aí o plano até era ir integrando o jovem talento, conceder-lhe espaço de forma gradual. Com um jogador normal seria assim, mas Michael Owen não era um jogador normal. Em 1997/98, a primeira época em que foi opção regular, ainda nos seus teen years... 23 golos. Anfield aos seus pés. 

    Liverpool e toda a Inglaterra renderam-se

    Fevereiro de 1998 tinha sido particularmente marcante: em sete dias, marcou dois golos ao Southampton, estreou-se pela seleção inglesa contra o Chile e fez o primeiro hat-trick na Premier League contra o Sheffield Wednesday. Uns meses depois viria o Mundial de 1998 e o selecionador Glenn Hoddle não teria hipótese que não fosse chamá-lo, a idade não importava. Ou não falássemos do melhor marcador da Premier League com 18 golos, em igualdade com Dion Dublin e Chris Sutton e à frente de estrelas como Bergkamp, Andy Cole ou Hasselbaink, três dos melhores goleadores daquele tempo.

    @Getty / Mark Leech

    O miúdo goleador começou esse Mundial de França no banco, atrás de Alan Shearer e Teddy Sheringham, mas quando ao segundo jogo da fase de grupos marcou, contra a Roménia, surgiu a opinião unânime: o Wonder Boy tinha de ser titular. Assim foi ao terceiro jogo, e ao quarto teve pela frente a Argentina, em plenos oitavos-de-final. Poucos dias foram mais marcantes para a carreira de Michael Owen do que esse dia em Saint-Étienne, apesar de o triunfo ter ido para os argentinos nos penáltis. Aos 16 minutos, já com o jogo empatado a uma bola, ultrapassou o imponente Roberto Ayala e José Chamot como seta veloz que era, antes de atirar para o fundo da baliza de Carlos Roa a partir da entrada da grande área. Que momento... e um país rendido ao camisola 20.

    De certa forma, a carreira de Michael Owen ganhou um estatuto de super-estrela nesse dia de 30 de junho de 1998. Regressado a Anfield para mais uma temporada, fez logo nos primeiros jogos de 1998/99 um sensacional hat-trick contra o Newcastle em St. James’ Park. «Já não tenho mais palavras para este tipo», dizia Andy Gray, ex-jogador e célebre comentador, sobre o jovem génio dos reds, que acabou também essa temporada com 23 golos.

    2000/01 inesquecível

    @Getty / Steve Mitchell - EMPICS

    1999 trouxe os primeiros problemas de lesões, a preconizar o que o viria a atormentar ainda mais uns anos mais tarde. Problemas num tendão deixaram-no de fora durante os primeiros cinco meses de uma época em que o Liverpool sofreu e muito com a ausência do seu prodígio do ataque, acabando a temporada fora dos lugares de acesso à Liga dos Campeões... mas Owen viria a compensar o tempo perdido nas épocas seguintes, depois de um Euro2000 em que a seleção não foi além da fase de grupos mas Owen ainda foi a tempo de marcar um golo. Nesse verão de 2000 chegou a Anfield alguém que viria a ser um parceiro perfeito: Emile Heskey, com quem formou um par goleador que deixa saudades até hoje por aqueles lados. 46 golos entre os dois, naquela que poderá ter sido a época de maior sucesso para o jovem Owen.

    @Getty / GERRY PENNY

    Gérard Houllier era o treinador e só não deu para conquistar a Premier League (que Owen nunca venceu com o Liverpool, apenas anos mais tarde com o Manchester United). Houve, porém, três belíssimos prémios de compensação: um foi a Taça da Liga inglesa, outro foi a Taça UEFA, na qual Owen marcou dois golos contra a Roma e também o FC Porto sofreu com as suas qualidades de predador nos quartos-de-final. Mas talvez mais icónica do que essas conquistas foi a conquista da Taça de Inglaterra, com Michael Owen a sagrar-se herói em Wembley: o Liverpool perdia por 2x1 contra o Arsenal, já íamos no minuto 83... e Owen foi a tempo de marcar dois golos e oferecer o troféu ao mundo red. Para o próprio Michael Owen, dizem, foi o melhor jogo da carreira. Mas que dizer também do hat-trick por Inglaterra numa vitória por incríveis 5x1 na Alemanha, uns meses depois?

    Dezembro de 2001 trouxe-lhe o prémio de melhor jogador da Europa, à frente de estrelas como Raúl ou Luís Figo, tornando-se o primeiro jogador do Liverpool a conquistar a honra e o primeiro inglês a consegui-lo desde Kevin Keegan. E isto pouco antes de envergar a braçadeira de capitão de Inglaterra devido a uma lesão de David Beckham e de se tornar assim o mais jovem capitão da seleção em 40 anos.

    Rumo à constelação de galáticos

    @Getty / AFP

    Entretanto, os golos não paravam de surgir, enquanto Owen ia conseguindo passar por cima dos problemas físicos que iam surgindo. 28 golos em cada uma das épocas 2001/02 e 2002/03, com esta segunda a incluir um golo na final da Taça da Liga contra o Manchester United, com direito a triunfo dos homens de Anfield. Pelo meio, o Mundial2002, na Coreia do Sul e no Japão: era já estrela de uma seleção que foi até aos quartos-de-final contra muitas expectativas, faturou nos oitavos contra a Dinamarca e nos quartos contra o Brasil. Florentino Pérez já andava de olho nele, sonhava em tê-lo junto a Ronaldo no Real Madrid, mas Owen estava feliz em Anfield, e ia continuando a  brilhar por lá. Até 2004, altura em que se tornou mesmo galático.

    @Getty / Christian Liewig

    Para trás tinha ficado o Euro2004 em Portugal, no qual marcou contra os lusos que viriam a vencer de forma épica nos penáltis desses quartos-de-final. O Real Madrid enviou 12 milhões de euros para Liverpool e teve direito a juntar Owen a uma constelação de estrelas. Deu-lhe a camisola 11 que tinha sido de Francisco Gento, um extremo que o pai admirava, mas o inglês ficaria apenas um ano no Santiago Bernabéu. Não que tenha sido uma época terrível, marcou 16 golos... mas Owen teve sempre dificuldade em encontrar um lugar num onze que tinha não menos do que Ronaldo, Figo, Raúl, Beckham ou Zidane. Sejamos sinceros, seria possível imaginar maior concorrência? No verão chegariam ainda Robinho e Júlio Baptista, Owen sentiu que talvez fosse melhor interromper o sonho galático mais cedo do que o esperado. E assim, depois de um ano produtivo mas sem se tornar ídolo em Madrid, voltou à Premier League e juntou-se ao amigo Alan Shearer no Newcastle.

    A única Premier League

    @Getty / Laurence Griffiths

    Era nesta altura, já enquanto magpie, que as lesões já se tornavam mais impiedosas. Em dezembro lesionou-se contra o Tottenham e ficou de fora durante quase cinco meses, mas o pior de tudo aconteceria no Mundial2006, na Alemanha, no qual não chegou a marcar: logo no arranque do terceiro jogo, contra a Suécia, uma grave lesão de ligamentos. Resultado? Ficou afastado dos relvados durante uma época quase completa. Muita dor física, certamente, mas é certo que a alma terá ficado ainda mais abalada do que o corpo. Owen tinha 27 anos, e assim se preconizava um final precoce (ou pelo menos um adeus aos maiores holofotes). Terá sido azar, mas defenderia Sir Alex Ferguson uns anos depois que o Liverpool o «estragou» ao abusar do seu talento em tão tenras idades.

    @Getty / Alex Livesey

    Esse talento continuou sempre lá, à vista, e permitiu-lhe ainda manter números respeitáveis à frente da baliza ao serviço do Newcastle - 13 golos em 2007/08, 10 em 2008/09 - mas a condição física estava longe de ser a mesma. Ainda assim, esse mesmo Sir Alex Ferguson fez questão de ver o que Owen ainda teria para dar no Manchester United e levou-o para Old Trafford em 2009. Foi fazer companhia a Rooney no ataque, foi partilhar o relvado com Paul Scholes, Ryan Giggs e companhia, mas era um Michael Owen que já não conseguia ter a mesma presença na grande área. Ainda assim, teve como red devil bons momentos como um hat-trick contra o Wolfsburgo na Liga dos Campeões e a Premier League conquistada em 2010/11, a única que venceu em toda a carreira.

    Owen já não era o mesmo por esta altura, não podia ser, e depois de três épocas no United em que apenas em específicos momentos conseguiu mostrar o seu brilho de outrora foi passar aquela que seria a sua última carreira no Stoke City. Nove jogos, um golo. Retirou-se em 2013, aos 33 anos, com a sensação de que o brilho que existiu - e de que maneira - poderia ter sido bem mais ofuscante se os deuses do futebol o tivessem permitido.

    @Getty / Chris Turvey - EMPICS

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