Natural de Viseu, desde muito cedo revelou jeito para a bola e uma vontade indomada de vencer na carreira desportiva. Começou ainda miúdo a jogar pelo Repesenses, uma filial do Belenenses, de uma pequena localidade nos arredores da capital da Beira Alta.
Rapidamente despertou o interesse de olheiros dos principais clubes portugueses, e foi sem surpresa alguma, que após algum tempo a defender a camisola azul do Repesenses, desse o salto rumo a Lisboa, para jogar no SL
Benfica, contava então apenas dezasseis anos de idade.
Uma noite no Bessa
Sozinho na grande cidade, longe da família, os primeiros tempos não foram fáceis; mas a vontade de triunfar e uma coragem que demonstrou desde tenra idade, ajudaram-no a superar a distância e a amadurecer.
Entretanto ganhava espaço na equipa júnior e tornava-se um imprescendível de Carlos Queiroz nas seleções jovens, sendo convocado para o mundial de 1989, na Árabia Saudita, onde
Portugal conquistaria o seu primeiro título mundial.
10 de abril de 1993: Paulo Sousa vai para baliza tomar o lugar de Neno e ajuda o Benfica a segurar uma preciosa vitória no Bessa (2x3).
Dois anos depois, estreava-se na primeira equipa dos encarnados, lançado por Sven-Göran Eriksson. Nas épocas seguintes, paulatinamente, foi assumindo um papel fundamental na equipa, e em 1992/93 era já uma das pedras basilares do
Benfica, ao lado de Isaías, João Vieira Pinto e Paulo
Futre.
Seria nessa época, que num jogo no Bessa, teria um dos momentos mais marcantes da carreira. Quando o
Benfica já vencia por 1x3 com dez jogadores em campo, o guarda-redes Neno foi expulso ao derrubar um avançado boavisteiro e provocar grande penalidade, aos 72 minutos.
O
Benfica ficou reduzido a nove jogadores e já tinha efetuado todas as substituições. Paulo Sousa chamou a si as luvas, virou a camisola de Neno ao contrário e foi para a baliza.
Sofreu o golo de Artur, mas a partir daí segurou ou desviou todas as bolas que foram na direção da baliza, ajudando o
Benfica a vencer no Bessa, virando um herói da torcida encarnada. À
Luz chegavam propostas para aquisição do médio, mas a todos Jorge de Brito pedia um milhão de contos... A
Juventus ofereceu 750 mil, o
Benfica recusou, mas a
Juventus nunca esqueceu o viseense...
O sonho de Cintra
No fim do ano desportivo, no Jamor, e novamente contra o
Boavista, o
Benfica conquistaria a Taça com uma goleada por 5x2. Paulo Sousa comemorou com os colegas, equipado a rigor com as cores benfiquistas, mas no horizonte o destino já se apresentava verde-e-branco...
A bomba cairia em pleno verão, naquele que ficou conhecido como o «Verão Quente da
Luz»: Paulo Sousa e Pacheco abandonavam o
Benfica, reclamando meses de ordenados em atraso e mudavam-se para o vizinho e eterno rival. Sousa Cintra apresentava Sousa como uma joia da coroa leonina, para se juntar a
Figo, Balakov e companhia. Paulo Sousa era apresentado em delírio em
Alvalade e na
Luz os adeptos juravam vingança.
Sousa Cintra «roubava» Pacheco e Paulo Sousa às águias, incendiando a rivalidade Benfica x Sporting.
João Vieira Pinto e Rui Costa ainda foram sondados por Cintra, para se juntarem à sua equipa de sonho, mas Rui Costa recusou prontamente, e João Vieira Pinto, depois de assinar um acordo com os leões, arrependeu-se e voltou atrás. Na primeira entrevista, Sousa mostrava-se muito feliz e assumia cumprir um sonho de menino, jogar no clube do seu coração.
Mas para pôr água na fervura, sempre adiantava que o coração não tem lugar na carreira de um futebolista, tinha calhado vir jogar no seu clube, mas que os jogadores deviam jogar sempre nos clubes que lhes apresentassem as melhores oportunidades, e que os adeptos tinham de compreender que o futebol tinha mudado.
Em
Alvalade,
Bobby Robson esfregava as mãos. Tinha à sua disposição o centro-campista que meia Europa queria, para fazer companhia aos seus promissores astros.
Queirós, 3x6 e a mudança para Itália
No
Sporting a época correu de feição. Os leões jogavam um futebol de encantar e lideravam, até que uma eliminação prematura na UEFA fez Cintra trocar Robson por Queiroz....
Até ao final da época, o
Sporting seria ultrapassado pelo velho rival, que jurava vingança. Paulo Sousa acabaria por provocar um caso, numa discussão acalorada com Queiroz ao intervalo nas
Antas. Já não voltou para o segundo tempo, mas os leões perderam e Paulo Sousa voltou logo à titularidade, para assistir
in loco à vingança de João Vieira Pinto (3x6).
O
Sporting perderia a final da Taça para o
FC Porto, na que seria a vingança de
Bobby Robson, entretanto contratado por
Pinto da Costa. Paulo Sousa contudo não ficou muito tempo a carpir mágoa, pois pouco depois Sousa Cintra aceitava a proposta da
Juventus e o médio podia cumprir o sonho de jogar no
calcio.
A relação com a
Juventus foi de um amor intenso, reforçando a primeira impressão que os dirigentes do clube de Turim já tinham de Sousa. A primeira época foi coroada com o
Scudetto, que o permitiu ser o primeiro português a sagrar-se campeão italiano, num ano dourado, onde além da Taça e da Supertaça, ainda jogou a final da UEFA, perdida para a Parma do amigo Fernando Couto.
Ao lado de Deschamps, Conte, Jarni, numa equipa onde as despesas atacantes estavam a conta de Baggio, Del Piero, Ravanelli ou Vialli, Sousa tornou-se uma referência incontornável, admirado por adeptos e rivais.
Depois da Juventus, Sousa voltava a erguer o «caneco das orelhas», desta feita ao serviço do Borussia de Dortmund.
O sucesso em Itália foi de tal ordem, que ganhou o prémio destinado ao melhor jogador estrangeiro a jogar no
calcio, a imprensa italiana não poupava nos elogios ao jovem português, apelidado de
il regista, o maestro do jogo dos
bianconeri, o grande condutor da orquestra de Turim.
Na segunda época conquistou a
Champions League, depois da
Juventus bater o
Ajax na grande final em Roma. Um pouco surpreendemente, acabou por ser vendido ao
Borussia Dortmund, onde uma grave lesão não o ajudou, impedindo o médio português de atingir o nível atingido no
Benfica,
Sporting e
Juventus.
Contudo, pois nem tudo foi mau na experiência germânica, Paulo Sousa tornou-se um dos poucos jogadores na história a poder afirmar-se bicampeão europeu com dois clubes diferentes, depois do seu Borussia bater a «sua»
Juventus em Munique.
As lesões, o fim da carreira e um novo desafio
Na Alemanha, a sua estrela começou a empalidecer à custa das arreliadores lesões, que não só lhe custavam a presença na equipa habitual do Borussia, como a convocação para a equipa das quinas, onde tinha estado em grande forma no Euro 1996 em Inglaterra, ajudando
Portugal a chegar aos quartos de final, onde foi surpreendido pela República Checa e o espetacular chapéu de Poborksy a Baía.
Depois da bonança, a tempestade, e as lesões levaram os dirigentes do clube da Vestefália a deixa-lo regressar a Itália, onde foi defender as cores do
Inter. Seguiu-se o Parma, o Panathinaikos e o Espanyol, onde terminaria a carreira.
Na seleção, depois do euro 2000, ainda esteve presente no Mundial de 2002, onde não jogou, depois de ter jogado pela última vez pela seleção das quinas, num amigável com a China, em Macau, na preparação do mundial asiático, o jogo em que conseguiu a sua 51ª internacionalização.
Penduradas as botas, resolveu passar para o banco, dando começo a uma promissora carreira de treinador. Queiroz chamou-o para as equipas jovens da seleção, de onde saiu para experimentar a sorte em Inglaterra, no QPR em 2008.
Em 2005 assumia o comando dos sub-16 de Portugal. O primeiro passo na nova etapa da sua carreira.
Depois do tirocínio no clube londrino, seguiram-se os galeses do Swansea City, antes de passar para o Leicester, a última paragem em terras britânicas. Sem grande sucesso nos
blues, abraçou o projeto dos húngaros de Videoton, onde conquistou os primeiros troféus como treinador.
Seguiu-se uma experiência em Israel, onde orientou os destinos do Maccabi Tel Aviv, antes de se mudar para Basileia. Mais tarde deixou boas recordações em Florença, assumiu um projeto ambicioso na China e voltou à Europa, para liderar o Bordeaux.