Falar em Maradona é falar no futebol no seu estado mais puro. No que de mais belo contem e também no seu lado mais dramático. Resumindo, falar de Maradona é falar de paixão! Foi possivelmente o melhor jogador de todos os tempos. Rivaliza com Pelé, com quem travou várias batalhas verbais fora dos campos, nesse particular.
Maradona foi um génio nos relvados, polémico nas entrevistas e genuíno na forma viveu. A sua vida dava um filme Hollywodesco. Ficou conhecido para a história como El Pibe D’Oro.
De Boca para o mundo...
Maradona nasceu num bairro pobre da periferia de Buenos Aires. O seu pai era um modesto operário e a vida de Dieguito parecia destinada a trazer-lhe muitas limitações financeiras. Aos nove anos começou a jogar numa equipa local, “Los Cebollitas”. Por pouco tempo. O Argentino Juniors viu nele talento e chamou-os às suas fileiras.
Estreou-se na divisão principal com apenas 15 anos. As suas exibições começaram a dar que falar e as assistências foram subindo a uma escala impressionante. Toda a gente queria ver o miúdo maravilha que encantava com o seu drible e impressionava pela quantidade de golos que apontava sem ser um ponta-de-lança.
Chegada à Alviceleste
Bastou-lhe um ano para chegar à seleção principal. Estreou-se em 1977, ao lado de nomes consagrados do futebol argentino como Ardilles ou Gatti. Foi pela mão de César Menotti, num jogo frente à Hungria e 25 minutos em campo fizeram dele o jogador mais jovem de sempre a vestir a camisola da Seleção A.
Contava então 16 anos. No entanto para o Mundial de 78 César Menotti deixou-o de fora dos 22. Foi uma medida um tanto ou quanto polémica porque já na altura
Maradona desenvolvera admiração por toda a Argentina. A Argentina mesmo sem o seu menino-prodígio viria a sagrar-se Campeã do Mundo. 1979 trouxe-lhe o Mundial de Sub-21 em que
Maradona e a Argentina se sagravam Campeões.
Ainda nesse ano, a Seleção principal entrava em renovação e Diego tornava-se não só titular como também uma das estrelas mais cintilantes da equipa. Numa digressão pela Europa fez um jogo memorável frente à Inglaterra. Seriam prenúncios para o que viria mais tarde. Foi também eleito nesse ano o melhor jogador da América do Sul, distinção que viria a repetir no ano seguinte. Em 1981, transferiu-se para o colosso Boca Júniors e logo conquistou o seu primeiro título nacional.
Diego Armando Maradona representado num mural, no bairro de Boca, na sua Buenos Aires natal
Aos 21 anos, Diego Armando
Maradona era já uma certeza e um Ídolo na Argentina. Uma época em grande no Boca e transferência para
Espanha. A Europa estava prestes a conhece-lo.
Foi na altura a transferência mais cara da história do futebol mundial. Diego Armando
Maradona assinou um contrato com o
Barcelona em Junho de 1982 mesmo antes do Mundial, disputado precisamente em
Espanha.
Maradona estreou-se na prova maior do futebol Mundial. Mas não foi feliz. Estreou-se com uma derrota por 0x1 frente à Bélgica. Seguiu-se uma vitória por 4x1 frente à Hungria e nova vitória por dois golos frente ao modesto El-Salvador. Na 2ª fase de grupos frente à Itália e ao seu famoso Catenácio,
Maradona foi sujeito a uma marcação impiedosa por parte de Gentile.
Com a complacência do árbitro, o defesa italiano lá foi conseguindo parar o génio argentino e no final 1x2 para os transalpinos. No último jogo do grupo, nova derrota frente ao Brasil e
Maradona expulso. Disse então que ninguém tinha perdido mais aquele Mundial do que ele próprio. Palavras que muita gente não entendeu na altura mas viriam a entender mais tarde.
Continua por Espanha, mas agora com a camisola blaugrana
Findo o Mundial, aí estava La Liga. Os primeiros meses não foram fáceis.
Maradona contraiu uma Hepatite viral e passou a primeira fase do campeonato sem poder competir.
De volta aos relvados
Maradona deslumbrou mas a dureza do futebol espanhol valeu-lhe muitas lesões, uma delas muito grave. Foi num jogo frente ao Atlético de Bilbao provocada por uma entrada muito dura de Goicotxea, jogador Basco. Valeu a
Maradona uma fratura do tornozelo e meses afastado dos relvados e a Goicotxea 25(!!!) jogos de castigo.
Maradona não foi de facto muito feliz em
Espanha. A sua frontalidade granjeou-lhe muitas antipatias e inimigos. Acusou a televisão espanhola de não fazer uma cobertura apropriada aos jogos o que motivava os jogadores mais duros jogar para além dos limites e acabar impunes. O seu comportamento fora dos relvados valeu-lhe fortes críticas e uma alcunha: Sudaka, um termo insultuoso usado em relação aos índios Sul Americanos.
Ainda assim, El Pibe protagonizou dos momentos mais bonitos que se viram nos relvados espanhóis. O reencontro com o Atlético de Bilbao e com Goicotxea foi memorável pelos piores motivos. Um conjunto de agressões acabaram numa autêntica batalha campal entre jogadores, treinadores e dirigentes de ambas as equipas. Foi tão grave que
Maradona teve de se desculpar formalmente perante o Rei de
Espanha.
Dois anos após entrar em
Espanha,
Maradona despedia-se da Catalunha rumo ao Nápoles. Pelo meio ficou a conquista da Copa do Rei em 1983.
Ver Nápoles e ser feliz....
Em 1984, o Estádio de S. Paolo, em Nápoles, encheu-se para acolher Diego Armando
Maradona na data da assinatura do seu contrato. Foi uma loucura na cidade do sul de Itália. Ao contrário de
Barcelona, Nápoles era uma cidade extremamente pobre e isso motivou
Maradona, que encontrou bastantes semelhanças entre a sua nova cidade e Buenos Aires.
Em apenas 2 anos, o Nápoles criou uma equipa capaz de desafiar o sistema implantado em Itália. Careca, avançado. e Alemão, médio centro, ambos brasileiros foram as contratações mais sonantes logo a seguir a
Maradona. Nápoles rendeu-se ao talento do astro Argentino de tal forma, que os anos passam e ainda hoje em dia na grande urbe do sul da Itália,
Maradona rivaliza com a Virgem Maria no número de altares nas ruas perdidas da Mergellina, bairro emblemático de Nápole.
E no México tocou o céu com a mão de Deus
Em 1986 novo Mundial. O mundo do futebol encontrava o México devastado após um terramoto que assolou todo o país. Nova imagem de pobreza deu mais força a
Maradona. Após uma 1ª fase onde Bulgária e Coreia do Sul caíram aos pés de Argentinos e
Maradona apontou o golo do empate frente à Itália, chegam os quartos-de-final e a Inglaterra. Foi um jogo onde para sempre será recordado o feitio e o génio de
Maradona.
Primeiro marcou um golo com a mão. A tão famosa mão que
Maradona atribuiu a Deus e
Bobby Robson, treinador Inglês, ao Diabo. Depois, uma sublime jogada em que o pé esquerdo de
Maradona subjugou meia equipa Inglesa, Peter Shilton incluído. Foi provavelmente o golo mais bonito da história dos Mundiais. No final, como alguém diria mais tarde:
Maradona 2- Inglaterra 1.
Na meia-final frente à Bélgica a história repete-se.
Maradona com 2 golos, um dos quais verdadeiramente notável elimina a Bélgica e chega à final frente à poderosa Alemanha. Dois golos de vantagem Alvi-celeste, empate Germânico e passe de morte de
Maradona para Burruchaga já no final da partida para fazer o 3x2 final e resolver a questão. A Argentina voltava a vencer o Mundial de futebol, desta vez com
Maradona como génio e capitão.
De volta a Itália,
Maradona continua a encantar os
Napolitanos até que em 1987 dá-se a verdadeira explosão no futebol transalpino: O Nápoles, um clube até então relativamente modesto vence o Scudetto e a Copa Itália.
Maradona ficou aí para sempre idolatrado. Em 1989 nova glória com a vitória final na Taça UEFA frente ao Estugarda, de Klinsmann. Com uma vitória difícil, mas de classe, Diego levava o Nápoles à sua primeira conquista europeia.
Quando o sul de Itália foi argentino
Um ano depois e o Nápoles voltava a vencer o Scudetto em ano de novo Mundial desta vez disputado em… Itália. No primeiro jogo frente à URSS,
Maradona e a Argentina jogam em casa porque o jogo é disputado em pleno S. Paolo em Nápoles.
Maradona tinha pedido aos napolitanos que apoiassem a Argentina contra própria Squadra Azurra. E os
Napolitanos responderam favoravelmente.
Mas a partir daí as consequências das suas palavras foram notórias.
Maradona era assobiado e insultado sempre que tocava na bola e a Argentina odiada. No entanto, e apesar de a Seleção se encontrar muito fragilizada fisicamente e sem os talentos de outros anos,
Maradona foi carregando a sua equipa por lá fora até à final, contando com a ajuda de um guardião especialista em defender grandes penalidades e a veia goleadora de Cláudio Cannigia.
Nas meias finais, no entanto, e já no prolongamento, precisamente frente à Itália, Cláudio Cannigia viu um cartão que o impossibilitou de jogar a final. A equipa transalpina seria derrotada por grandes penalidades com
Maradona a liderar a equipa das Pampas. Na final em Roma, a Alemanha de Matthaus e companhia vingava-se do México e derrotava os Argentinos por 0-1.
Maradona chorava compulsivamente no final do jogo perante a manifestação de alegria vinda das bancadas que o odiavam.
A partir dessa data,
Maradona viveu sempre com a certeza de uma cabala montada em Itália contra a sua pessoa. Rumores generalizados davam conta da sua dependência das drogas. Ainda fez mais uma época em Itália e venceu uma Supertaça Italiana, até que um controlo anti-dopping se revelou positivo e
Maradona apanhou uma suspensão de 15 meses. Foi o adeus a Itália e o regresso a
Espanha.
Espanha, Argentina
A
Espanha regressou um
Maradona diferente do que de lá saiu. A forma física estava visivelmente frágil e o génio assim não se manifestava. Representou durante uma época as cores do Sevilha, tendo apontado sete golos e regressando à Argentina no final da época para o Newell’s Old Boys, onde voltou a não permanecer mais que um ano apontando pelo meio cinco golos.
Regressou então ao seu clube do coração: o Boca, onde ainda venceu uma Copa A. Franchi, em 1991.
Mundial dos Estados Unidos: o príncipio do fim
Em 94 ainda jogou o Mundial dos Estados Unidos. Após suas boas partidas frente à Grécia e à Nigéria e um golo apontado,
Maradona voltou a acusar dopping e foi suspenso. Foi o adeus aos Mundiais. Retirou-se dos relvados quando completou 37 anos.
Jogou 692 partidas e apontou 358 golos. Debateu-se ainda com vários problemas de saúde que o deixaram entre a vida e a morte várias vezes. Numa delas, viajou até Cuba onde passou por um tratamento de desintoxicação e reabilitação.
Durante a sua estadia lá, desenvolveu uma amizade com Fidel Castro e mostrou-se por várias vezes admirador de Ché Guevara. Aproveitou também o tempo para escrever um livro “Yo soy Diego”. Teve também por várias vezes recuperações quase milagrosas e em 2005, numa época de relativo vigor físico, chegou a ser estrela de televisão apresentando um programa seu, chamado “La noche del diez” onde entrevistou personalidades como Pelé ou Mike Tyson e fez revelações bombásticas acerca da sua vida como jogador.
Maradona continuou a viver no fio da navalha e foi alternando entre momentos de lucidez e recaídas quase fatais. Encontrou um novo balão de oxigénio e foi encarregue de comandar a Argentina na fase de qualificação para o mundial da África do Sul.
O Argentino não vacilou e, apesar de muitas polémicas, e contra os prognósticos de especialistas e adversários, a Argentina qualificou-se no último jogo contra o Uruguai e carimbou a presença no mundial africano.
Com Messi como grande estrela, os argentinos não conseguem convencer a afición, acabando por sair vergados a uma humilhante derrota por 0x4 às mãos da rival Alemanha nos quartos-de-final.
Era o fim da linha para Diego Armando
Maradona no comando técnico da
alviceleste, uma vez regressado a Buenos Aires, punha fim ao contrato, abandonando o cargo de selecionador.
Em novembro de 2020, com 60 anos de idade, Diego Armando
Maradona faleceu. Uma paragem cardiorrespiratória esteve na origem da morte do argentino, o que levou a luto internacional, causado pela perda de uma figura tão proeminente na história do futebol.