Chegou ao fim a temporada 2020/21 para o Benfica e a performance não podia ter sido mais negativa. Em todo o universo desportivo do clube apenas o vólei masculino e algumas modalidades femininas cumpriram o seu objetivo (eventualmente o futsal também poderá lá chegar). Tudo o resto foi um descalabro total, no que era suposto ser o primeiro ano do mandato desportivo de Luís Filipe Vieira. Ainda alguém se lembra disso? Qualquer dia, aliás, a pergunta até é: Alguém ainda se lembra de Luís Filipe Vieira? Dá vontade de perguntar "Tazonde Vieira?".
Desde que venceu as eleições, o Presidente do Benfica tem tido uma liderança ausente e em controlo remoto. Deu apenas uma entrevista amiga ao canal do clube onde despejou várias desculpas para a má temporada e prepara-se agora para repetir a fórmula nos próximos dias. Pelo meio, uma deslocação à Assembleia da República como cidadão e empresário, mas onde a cada 2 minutos mostrava o cartão de Presidente do Benfica como escudo protetor.
O Benfica é um dos amores da minha vida e odeio ser tão crítico, mas amigo é o que avisa o outro que está com a braguilha aberta e não o que fica calado e por isso eu não me consigo calar: Uma agremiação que foi em tempos gloriosa, vibrante e vitoriosa é hoje uma instituição deprimida, resignada e derrotada. Nem atirando 100 milhões de euros para cima se resolveu um problema cultural e estrutural. O Benfica vive um final de ciclo e está rodeado de pessoas que se encontram claramente fartas e sem ideias, mas que por apego ao poder, orgulho e defesa pessoal não admitem que estão esgotados e dão a vez a outros. Vivem já em modo "bunker", perdendo o tempo a procurar justificar os insucessos (chegando ao cúmulo de ordenarem a produção daquele documentário sobre o Covid-19 na BPlay, querendo passar a ideia que foi esse o único problema na equipa de futebol) e a atacar quem de forma justificada os critica.
O futebol do clube, a sua mola real, falhou em todos os objetivos: eliminado na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, nos 1/16 final da Liga Europa, terceiro classificado no campeonato, finalista vencido da Taça de Portugal, eliminado nas 1/2 finais da Taça da Liga e finalista vencido da Supertaça. Não teve um único período em que tenha feito sonhar os seus adeptos ou alcançado uma vitória gloriosa para a coleção. E no entanto não houve um único pedido de desculpas ou justificação aos sócios até agora. Jesus diz que a culpa não é dele e Vieira, um presidente que falta a metade dos jogos de futebol e não aparece nas modalidades, não fala. Passa-se uma esponja sobre o descalabro, tal como se fez na época passada e assim vai o Benfica que desde o Tetra em 2017 entrou numa espiral negativa onde é difícil ver o fim do buraco. Não fosse o milagre de Lage numa temporada que também ia a caminho do descalabro e íamos em 4 épocas consecutivas na mediocridade.
O cenário é deveras preocupante: Temos dirigentes que não assumem erros, que não acatam responsabilidades, que não se defendem de arbitragens negativas, que não debatem com os seus sócios, que atacam os seus, que mudam de política desportiva ao sabor do vento (ora não investem nem 10 milhões para o Penta, ora gastam 100 milhões em anos de eleições, ora dizem passado uns meses que é novamente preciso cortar) e que perdem. Perde tanto o clube da Luz. Perde demasiado o maior clube português. O que se diria de Lewis Hamilton se ao volante do melhor carro de Fórmula 1 perdesse muitas mais provas que as que ganha? O Benfica é um Mercedes mal conduzido.
Os dirigentes de um clube devem ser julgados como os jogadores: pelo que fazem e não pelo que fizeram. Devem sair quando se tornam um problema, mesmo que em tempo já tenham sido solução. E por mais que Vieira se sinta intocável e ainda apoiado por uma maioria, tem que saber que os tambores da revolta já se vão ouvindo e que tem na próxima temporada mais uma de tantas e tantas hipóteses de alcançar o sucesso desportivo continuado, mas se calhar a sua última hipótese. Até porque para o ano regressam os adeptos ao estádio, os sócios, os "índios" e estes mostrarão a sua insatisfação se o clube continuar nesta depressão. A comunicação não pode passar mais esponjas e ensaiar fugas para a frente. Terá o touro de frente.
Vieira que respire fundo. Que se concentre no Benfica. Que volte ao combate. Que seja humilde na quase eterna confiança que tantos sócios lhes dão e que se esforce por voltar ao sucesso. O acerto dele é o acerto do Benfica. E o acerto do Benfica é a nossa felicidade. Mas se porventura voltar a falhar, que tenha a hombridade de colocar o seu lugar à disposição e não continue a arrastar mais o clube nesta depressão. Nesta resignação. Nesta derrota contínua.
Em tempos disse numa destas crónicas "Do Benfica não se desiste". Mas há uma excepção: quando fazemos mais mal ao clube que bem, aí devemos desistir, sim.