15 pontos para o primeiro lugar e as posições de Liga dos Campeões a ficarem mais distantes. A meio da eliminatória com o Arsenal, o Benfica viajou até Faro, de onde saiu sem golos num jogo marcado pelo desperdício de duas equipas que proporcionaram uma partida muito interessante, de ritmo altíssimo, que acabou sem golos mais por culpa de quem rematou do que de quem defendeu. Um jogo à inglesa que merecia o brilho dos golos (e dos adeptos, claro).
A covid-19 tirou o espetáculo nas bancadas e também parte dos turistas que no verão (até durante todo o ano) visitam o Algarve e a cidade de Faro, a maioria inglesa. Sem aquele sotaque british e alguns excessos provocados por níveis impróprios de alcoolemia, esta noite houve um estilo bastante à inglesa no Estádio de São Luís, curiosamente numa altura em que os encarnados têm eliminatória com uma equipa da capital inglesa para a Liga Europa.
No intervalo dessa eliminatória, uma viagem longínqua ao Estádio de São Luís, onde o Benfica não ia há mais de 19 anos. Distante das contas do título, mas numa jornada importante por anteceder um Clássico entre Sporting e FC Porto, equipas à frente das águias, a equipa de Jorge Jesus sabia que estava proibida de descansar, até porque do outro lado o Farense procurava responder às vitórias de Famalicão e Boavista que colocavam os algarvios na cauda da tabela classificativa.
Havia urgência de vitória e isso pode ajudar a explicar em parte aquilo que aconteceu na cidade de Faro. Um jogo com ritmo inglês, num estádio à inglesa, numa cidade com muita presença inglesa que nos levou a sentar na ponta da cadeira ou do sofá, dependendo do sítio onde estivéssemos a ver o jogo (alguns adeptos certamente terão dado voltas à sala). Foi um verdadeiro «bola cá, bola lá», com muitas oportunidades, um ritmo altíssimo e muito, mesmo muito desperdício.
Com três mexidas de parte a parte em relação ao último jogo do campeonato, o Farense deu o primeiro sinal de perigo através de Pedro Henrique. O avançado procurou muito a profundidade e aos 14' viu Helton Leite evitar o 1x0 para os algarvios. A equipa de Jorge Costa estava a contribuir e muito para o ritmo elevado da partida, nem sempre por bons motivos.
De parte a parte foram surgindo erros defensivos, mas a definição, uma e outra vez, falhou. Com Bura adaptado à lateral direita devido às ausências de Tomás Tavares e Alex Pinto, o Farense sentiu muitas dificuldades para defender o seu lado direito, com Nuno Tavares a aproveitar no regresso à titularidade para oferecer bolas de golo a Seferovic e Darwin, que insistiram em desperdiçar ocasiões. Nem quando os defesas do Farense ofereciam a bola aos jogadores do Benfica havia esse aproveitamento, que o diga Rafa, que roubou a bola a Mancha e depois demorou tanto a finalizar que foi desarmado pelo central algarvio.
Cansava só de ver, mas também era desesperante ver os golos desperdiçados de parte a parte. Por isso foi estranho quando, perto do intervalo, Licá introduziu a bola na baliza com um grande golo a passe de Lucca. O VAR viu um fora de jogo de 14 centímetros que invalidou o golo, mas esse lance comprovou que não havia nenhuma maldição junto das balizas. Talvez o problema estivesse mesmo nos avançados...
Quando as duas equipas criam tantas oportunidades de perigo, o que podem fazer os seus treinadores? No aspeto ofensivo faltou acerto a Farense e Benfica, mas tantas oportunidades surgiam também por deficiências defensivas nas duas formações. O lado direito do Farense, a defesa da profundidade da equipa de Jorge Jesus, tudo problemas a corrigir. Isso e o desacerto, claro, mas aí os treinadores terão pedido para os seus jogadores pelo menos acertarem nas balizas.
Parece difícil, mas em certos momentos da segunda parte o ritmo subiu ainda mais, embora fosse visível no Farense uma abordagem diferente. Menos anárquica, a equipa algarvia não projetava tanto os laterais nem aparecia com tanta gente junto à baliza de Helton Leite, mas não deixou de criar perigo.
A equipa de Jorge Costa batalhou muito, Licá e Ryan Gauld estiveram mais em jogo e ameaçaram a baliza benfiquista. Do outro lado, Jorge Jesus foi rápido a tentar mexer com o jogo e não demorou nem cinco minutos a chamar os jogadores de ataque que faziam exercícios de aquecimento. Waldschmidt (Darwin saiu e ficou irritadíssimo) e Pizzi até entraram bem, com o alemão a dar novas ideias ao ataque encarnado e o internacional português a atirar uma bola ao poste. Mais acerto do que até então, é certo, mas de igual efeito para o resultado, que se foi mantendo inalterado.
Com o passar da segunda parte, a equipa algarvia quebrou fisicamente e permitiu ao Benfica uma maior presença junto ao último terço, mas com a área mais povoada e a defesa algarvia melhor organizada a equipa de Jorge Jesus teve dificuldades para criar ocasiões tão claras como as que tinha produzido até então. Ora, se as claras não deram golo, as que se seguiram muito menos.
O Farense tinha sofrido golos em todas as jornadas da Liga, vinha de uma sequência de 41 jornadas na Primeira divisão sempre a sofrer, mas esta noite não sofreu. Jorge Jesus tinha razão quando disse que antes deste encontro estavam 45 pontos ainda em disputa, mas de três os encarnados só conseguiram mesmo somar mais um. Se o primeiro lugar (e o título) fica já a 15 pontos, o Sporting de Braga está a quatro e o FC Porto, em caso de vitória, a cinco. Perto só o Paços... que agora fica apenas a um ponto das águias. Tanto desperdício costuma custar caro, mas a cada jogo que passa o Benfica parece ter um preço ainda mais alto a pagar pelos seus próprios erros.
Como é hábito no nosso futebol, muito apito, muitas vezes desnecessário. A falta assinalada a Vertonghen na área do Farense é prova disso mesmo. O golo anulado a Licá, por 14 centímetros em posição irregular, teve, e bem, o auxílio do VAR. Quanto a possíveis lances de penálti, há três em discussão, mas apenas o Farense parece sair prejudicado. Nuno Tavares faz falta sobre Licá dentro da área, enquanto do lado benfiquista, se as queixas de Rafa são aceitáveis, ainda que pareça forçar um pouco o lance, Taarabt não tem qualquer razão.
O Farense luta para não descer de divisão e está claramente nessa disputa, mas a equipa de Jorge Costa não se encostou à sua área e teve também mérito na forma como este jogo acabou por ser bastante interessante. Ritmo altíssimo por parte das duas equipas, ambas claramente à procura do seu objetivo até à reta final. Faltaram os golos.
Pelo quarto jogo consecutivo, o Benfica chegou ao intervalo sem golos marcados e se muitas vezes isso pode ser mérito de quem defende este não é o caso. A equipa de Jorge Jesus desperdiçou golos cantados, com Darwin, Seferovic e Rafa a mostrarem pouca confiança na hora de finalizar. No Farense as oportunidades não foram tantas, mas Pedro Henrique também se pode enquadrar neste aspeto, embora aqui grande parte do mérito pertença a Helton Leite pela excelente intervenção.