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    Emblema inglês subiu à Premier League

    De velocista olímpico a médico do Nottingham Forest: a nova vida de Arnaldo Abrantes

    *Entrevista publicada originalmente em junho de 2022, após Arnaldo subir com o Nottingham Forest à Premier League - o zerozero recupera a conversa, aproveitando o sucesso do antigo atleta agora no Aston Villa. É um dos médicos da equipa e celebra por estes dias a qualificação para a Liga dos Campeões. 

    Após décadas ´amarrado` aos escalões secundários do futebol inglês, o histórico Nottingham Forest - antigo bicampeão europeu - garantiu no passado domingo o regresso à Premier League pela primeira vez desde 1998/99, depois de vencer em Wembley a final do play-off de mais uma edição do competitivo Championship.

    A influência portuguesa tem crescido no clube recentemente e não se limita aos jogadores. Vários lusos já passaram pela estrutura do Forest e foi neste contexto que encontramos um nome conhecido para o público: Arnaldo Abrantes, um ex-velocista olímpico dedicado agora totalmente à Medicina e com um cargo de grande importância no clube.

    Médico e responsável pela unidade de performance da equipa, o antigo atleta conversou com o zerozero sobre esta experiência em Inglaterra e as mudanças que surgiram na sua vida nos últimos anos, após o abandono das pistas. 

    @D.R

    Zerozero - Para a opinião pública é mais conhecido o teu passado como um excelente atleta. Como surgiu, no entanto, a Medicina na tua vida?

    Arnaldo Abrantes - Não foi um sonho de criança. Pelas ligações familiares que tinha com a Matemática acabei por rumar ao caminho das Ciências. Mas bastou entrar no mundo da Medicina para desenvolver uma enorme paixão. A Medicina faz-me lembrar o Atletismo. A necessidade constante de mais e melhor. Na competição atingíamos uma marca e queríamos logo fazer mais para a bater. Na Medicina a marca é o conhecimento e vejo documentários, leio livros e ouço podcasts sempre para aprender mais. 

    ZZ -Foi desafiante conciliar um curso superior tão exigente com uma carreira de alto rendimento a nível desportivo?

    AA -  Claro que não foi fácil e existiram momentos complicados, mas nada que fosse impossível. Tinha muitos colegas que também conciliavam os seus estudos ou outra atividade profissional com o desporto. Acho que quando temos paixão pelas coisas tudo fica mais fácil.

    Arnaldo Abrantes representou Portugal nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012 @Getty / OLIVIER MORIN

    ZZ - E o futebol sempre foi um caminho pelo qual pensaste enveredar? 

    AA - O futebol apareceu como uma oportunidade profissional e nos últimos cinco anos desenvolvi uma grande paixão por este desporto. Surgiu uma vaga no Estoril Praia e dias depois estava em Moreira de Cónegos já a acompanhar a equipa. Foram anos de grandes desafios e muita aprendizagem. Outras modalidades como o Atletismo e o Judo já conciliam melhor a parte física com o treino e a competição. Sinto que no futebol ainda há muito trabalho para realizar e coisas por descobrir, o que torna a a área ainda mais aliciante.

    ZZ -  E a oportunidade de rumar a Inglaterra como surgiu?

    AA - O Bruno Baltazar trabalhou comigo no Estoril Praia e tinha estado com adjunto do Sabri Lamouchi na época anterior. O convite surgiu na transição para a época 2020/21 e lá fui eu, tudo também novamente muito rápido (...) A família, até pela pandemia, acabou por chegar mais tarde. Não foi fácil para as crianças [Arnaldo é pai de três filhos] devido à mudança de escola e o desconhecimento da língua inglesa, mas felizmente já estamos bem adaptados.

    ZZ - Que realidade encontraste no Nottingham Forest? 

    AA - O Nottingham Forest é uma espécie de gigante adormecido. É verdade que o formato era diferente e a os anos eram distintos, mas foi duas vezes campeão europeu e o Manchester City, por exemplo, nenhuma. Médias de 27 mil pessoas em casa. Jogos fora em dia de semana e tens 3/4 mil adeptos que viajam para acompanhar a equipa. A paixão é muita, porém, estava um pouco instalado o sentimento do ´quase` e o pessimismo pelas várias oportunidades em que estivemos perto de subir e não conseguimos. 

    ZZ - E a cidade de Nottingham? Como descreverias?

    AA - Dentro do que eu conheço da realidade britânica é uma cidade muito bonita. Tem um rio e uma zona à volta bastante engraçada com os canais. Faz-me lembrar um bocadinho Aveiro, embora, até pelas ligações familiares que tenho lá, Aveiro tem um charme diferente [risos]. Claro que há a ligação com a figura mítica do Robin Hood. Também uma história relacionada com construção de bicicletas e a rede farmacêutica da Boots. Além disso, aeroporto perto e com ligações a Portugal, o que é sempre importante.

    @D.R

    ZZ- Apenas um ponto conquistado nas primeiras sete jornadas, mas a entrada do Steve Cooper acabou por mudar bastante o rumo da época do clube. Que razões encontras para esta transformação tão evidente no rendimento da equipa?

    AA - O início de época foi um desastre e no nosso pensamento já só estava estava apenas fugir à queda para a League One. A primeira vez que saímos da lanterna vermelha foi por o Derby County ter perdido pontos na secretaria [risos]. A entrada do Steve Cooper mudou completamente o rumo das coisas e fiquei impressionado com a crença dele desde a sua entrada. Uma atenção ao pormenor impressionante. Trouxe um analista espetacular do Manchester City (Steve Rands) e a equipa adaptava-se muito bem ao adversário, seja em partidas a pressionar alto ou a esperar e a fazer diferenças no contra-ataque. Até podíamos ter subido de forma direta, mas felizmente conseguimos ser felizes em Wembley.

    qChegaram-me a aparecer 2/3 jogadores com costelas partidas. É outra mentalidade

    ZZ - A pressão aumentou nesta reta final, até por esse sentimento de pouca crença resultante dos vários anos de tentativas falhadas de subida?

    AA - A derrota com o Bournemouth acho que foi um ponto chave. Eles confirmaram a subida com aquele resultado e nós estávamos na luta, tendo até conseguido vencer antes o Fulham do Marco Silva. Tivemos de ver a festa e ouvir a alegria do adversário no balneário. Esse momento uniu ainda mais a equipa para o objetivo e ultrapassarmos as dificuldades dos play-offs.

    ZZ - Como foram as emoções antes e durante um jogo da importância desta final do play-off?

    AA - Para teres noção numa manhã tínhamos vendido 15 mil bilhetes. Foram 12 dias de preparação para o jogo e uma excitação imensa na cidade. Na nossa casa, por norma, temos o estádio cheio e um grande ambiente de apoio, mas não se compara com 80 mil pessoas num palco como Wembley. Imagino a pressão que os jogadores sentiram durante aquele jogo. Eu também sentia como atleta, mas as minhas corridas eram só alguns segundos [risos]. Seguranças junto ao hotel, coisas que nunca tinha passado na minha vida (...). É realmente uma festa. Felizmente marcámos cedo e mantivemos a personalidade para chegar ao triunfo.

    Arnaldo com Steve Cooper e outros membros da equipa técnica @D.R

    ZZ - As imagens da festa foram impressionantes, com, por exemplo, o dono a discursar para milhares de pessoas...

    AA - Acho que a frustração dos últimos anos ainda resultou numa explosão maior de euforia, após ser garantida a subida. O sentimento é impressionante e o carinho das pessoas foi brutal. Acredito que os patrões aqui das redondezas sofreram para terem pessoal a produzir [risos].

    ZZ - No aspeto mais profissional, como é trabalhar num campeonato tão exigente como o Championship, seja na calendarização ou na fisicalidade?

    AA - É uma coisa louca, ainda mais para quem estava habituado a jogos de sábado a sábado. Os dados comprovam que a exigência física num atleta é superior num jogo de Championship em comparação com a Premier League. Alguns encontros mais ao estilo britânico são de um esforço brutal. Chegaram-me a aparecer 2/3 jogadores com costelas partidas [risos]. Temos a ideia que os treinadores promovem muita rotação, mas raramente fogem do 11 base e querem jogar sempre com os melhores. É outra mentalidade.

    ZZ - Há uma diferença cultural no profissionalismo entre os futebolistas britânicos e os portugueses, por exemplo?

    AA - Varia de pessoa para pessoa. Os futebolistas britânicos são habituados desde cedo à intensidade e ao cuidado com o físico. Acabam o seu treino e estão prontos para uma sessão de ginásio. Lembro-me do Tobias me confessar que teve algumas lesões no primeiro ano devido a este ajuste. Neste momento é uma das referências da equipa nesse aspeto, até pede para ter uma bicicleta em casa. O foco e entrega nos treinos foi onde senti mais diferença. A adaptação depende de cada atleta, mas os portugueses, por exemplo, já estão perfeitamente enquadrados com esta exigência.

    ZZ - E como é a relação entre as pessoas do staff?

    AA - É uma relação muito boa entre todos os funcionários e tentei sempre não me fechar ao grupo de portugueses. Os britânicos trabalham bem e fazem melhor a gestão do tempo familiar, algo que nós por vezes não somos capazes [risos]. Temos membros de staff gregos, até pela nossa ligação com o Olympiacos [Evangelos Marinakis é o dono de ambos os clubes], e esta conexão mediterrânea também ajuda a criar laços. Por vezes não nos valorizamos, mas os portugueses trabalham com muita qualidade.

    ZZ - E agora olhar para o futuro. Sentes que o clube está preparado para o desafio Premier League?

    AA - Se olharmos para Portugal, por exemplo, as equipas que subiram o ano passado conseguiram este ano a manutenção. Em Inglaterra há equipas como Fulham, Watford ou Norwich, que têm vivido num Yo-Yo. Vai ser um desafio diferente, mas ainda assim sinto que estamos preparados e o Leeds United é prova que é possível continuar na Premier League. Em relação ao meu staff, o objetivo é continuar a crescer e a fazer mais e melhor (...) O futuro a médio prazo? Acho que já deu para perceber que nunca pensei muito nisso [risos].

    @D.R



    Portugal
    Arnaldo Abrantes
    NomeArnaldo Luís Isaías Abrantes
    Nascimento/Idade1986-11-27(37 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    FunçãoMédico

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