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    Taça Confederações
    Cultura do Futebol

    Uma questão de nomes...

    Texto por Pedro Marques Silveira
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    «Que há num simples nome? O que chamamos rosa, com outro nome não teria igual perfume?»
     
    - William Shakespeare

     
    A importância do nome
     
    O genial bardo inglês colocou esta mítica fala a sair da boca de Julieta, na segunda cena do segundo ato, da celebrada peça que conta a história do imortal amor entre Romeu e Julieta, que apaixona espetadores há vários séculos. 
     
    A pergunta de Shakespeare não só cativa os apaixonados do teatro e da literatura, como intriga filósofos e estudiosos. Para a semiótica, um nome é um signo em que o significante é a imagem acústica da palavra falada ou a representação gráfica da palavra escrita, e o significado é o conceito do objeto ao qual esta palavra remete.
     
    Quando falamos de uma identidade coletiva, o nome ganha uma outra dimensão e força ao passar do «eu» para o «nós». As nações, foram ao longo da história o exemplo mais exacerbado da força desse «eu» coletivo.
     
    Se em tempos idos, os diversos grupos se defrontavam nos campos de batalha, nos nossos dias, muito do ritual bélico e dessa força identitária que define um grupo, uma tribo ou um povo, ganha vida e cor nas arenas desportivas do mundo, e não haverá nenhuma manifestação desportiva que gere tanta identidade e força como aquele que é considerado o desporto de todos: o futebol.
     
    A arte brasileira do apelido
     
    As alcunhas ou apelidos, fazem parte da cultura futebolística e são utilizados desde os primórdios do jogo - ainda na Inglaterra vitoriana - até aos nossos dias.
     
    Olhando o «mundo futebolístico» é fácil chegar à conclusão que não há Meca maior da cultura do "apelido" que o Brasil. A história de futebol brasileiro - e por arrasto do futebol mundial - está cheia de petit noms inesquecíveis como Tostão, Alemão, Dunga, Branco, Bebeto, Cafú, Zico, Careca, Garrincha, ou o rei dos reis, Pelé. 
     
    Olhando hoje para a seleção brasileira, destaca-se a quase total ausência de apelidos entre os selecionados de Luiz Felipe Scolari. O «Sargentão» não terá olhado a esse critério aquando da convocatória, limitando-se a convocar jogadores com apelidos pouco imaginativos como Fred e Paulinho, sendo o grande destaque e única exceção o ex-FC Porto Givanildo Vieira De Sousa, universalmente reconhecido como Hulk.
     
    Pelé, o mais famoso de todos os «apelidos» do desporto rei.
    Se a seleção brasileira já não é uma plêiade de apelidos que maravilham os adeptos, todavia, a própria equipa nacional, ainda «responde» por um grupo de denominações tão diversas como «A Seleção», os «Auriverdes», os «Canarinhos» ou o «Escrete», escolhidas a preceito pelos adeptos e jornalistas que acompanham a «Canarinha».
     
    Curiosamente, a camisola amarela que todos identificam com o Brasil é a última de uma longa lista de camisolas que o Brasil usou desde o primeiro jogo internacional em 1914. O primeiro equipamento era branco, com detalhes em negro e azul. Seguiu-se um equipamento com riscas verticais em verde e amarelo, antes do Brasil testar camisolas vermelhas, brancas, azuis, até se fixar no equipamento todo azul em que jogou o mundial de 1950, de má memória para as cores brasileiras.
     
    Traumatizados com a derrota em casa com o Uruguai, o famoso Maracanazo, os brasileiros resolveram questionar tudo que pudesse ter justificado o falhanço, acabando por lançar um concurso para escolher um novo equipamento. O azul seria substituído pela camisola amarela com risca verde, mantendo-se os calções azuis e as meias brancas, num dos mais icónicos equipamentos da história mundial, desenhado por Aldyr Schlee, um desenhador que contava então somente 19 anos. A talhe de foice, não deixa de ser curioso lembra que o Brasil tinha jogado a traumática final contra o Uruguai equipado todo de branco...
     
    No Mundial de 1954 os brasileiros caíram nos quartos, às mãos da todo-poderosa Hungria de Puskas, mas quatro anos depois voltaram à Europa para conquistar o seu primeiro mundial, onde foram obrigados a jogar de azul na final, porque a anfitriã Suécia jogava de camisola amarela e calções azuis... Coisas do destino...
     
    Uruguaios e Mexicanos
     
    A sul da fronteira brilha a «Celeste Olímpica», histórica seleção que foi buscar o seu nome à maravilhosa equipa uruguaia que conquistou a medalha de ouro nos torneios olímpicos de 1924 e 1928.
     
    O Azul «Celeste», usado pela «seleción» desde 1910, já era por sua vez uma homenagem ao equipamento do FC ##River Plate, um dos primeiros grandes clubes uruguaios da época.

    Os jogadores de La Celeste também são conhecidos como Los Charrúas, numa referência às tribos ameríndias que habitavam a região que hoje compreende o Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina e que resistiram à ocupação europeia (espanhóis e portugueses) e mais tarde dos estados independentes da Argentina, Uruguai e Brasil, até ao fim da primeira metade do século XIX.

    Hinchas mexicanos sofrem com a sua Tricolor.
    Por essa altura, enquanto a luta dos charrúas chegava ao fim, muitos quilómetros a norte, outra colónia espanhola libertava-se do jugo de Madrid. O México escolheu desde a primeira hora a bandeira tricolor - verde, branca e vermelha - que ainda hoje ostenta e que garante à sua equipa nacional a alcunha de El Tricolor, não poucas vezes, carinhosamente transformada em El Tri.

    Como o verde é a cor dominante na camisola mexicana, a Seléccion também é normalmente conhecida como La Verde, um seudónimo que encurta a mais longa das denominações da seleção mexicana: La verde, Blanco y Rojo, nome por que também é conhecida a bandeira nacional. Mas se a festa não corre bem às cores nacionais, os mexicanos não têm pejo em apelidar os seus jogadores de Los Ratones Verdes.
     
    Europa: Cores, cores e mais cores...
     
    Verde, branca e vermelha é também a bandeira da Itália, país que tal como o México e o Uruguai nasceu no século XIX, quando Vítor Emanuel II unificou a Península Itálica para se tornar no primeiro Rei de Itália em 1861.
     
    Seria em sua honra, ou em honra da Casa Real de Saboia, que tem como cor o azul, que os transalpinos começaram a vestir camisolas azuis em 1911, ganhando a alcunha de Gli Azzurri (Os azuis) nome porque ainda é mundialmente reconhecida La Nazionale, conhecida pelos apaixonados do jogo como a Squadra Azzurra
     
    Squadra Azzurra, quando uma cor diz tudo...
    Ainda na Europa, a Espanha também apela à cor como imagem de marca, ou seña de identidad, como lhe chamam «nuestros hermanos».
     
    O vermelho é a cor eleita desde que os espanhóis se apaixonaram pelo jogo do pontapé na bola e começaram a disputar encontros internacionais, na década de vinte do século passado. 
     
    O vermelho, que os entendidos na matéria consideram como a cor da paixão, da força, da confiança, mas também da agressão. La Roja, ou La Furia Roja personifica essa força indiscutível dos nossos vizinhos, que nunca dão por perdida uma batalha.
     
    A história da camisola espanhola - e do seu apodo - relembra a trágica trajetória do país vizinho durante o século XX. Começando por equipar de vermelho, na sua estreia nos Jogos Olímpicos de 1920 em Antuérpia, a equipa ganhou o epíteto de «La Furia Roja», depois de um jogo com a Itália, em que um jornalista italiano, "assustado" com a violência - mas também com o brio - dos jogadores espanhóis, alcunhou a equipa onde brilhava Zamora de «La Furia Rossa».
     
    Com a Guerra Cívil e a vitória franquista, a seleção perdeu temporariamente o seu equipamento vermelho, substituído primeiro pelo branco e depois pelo azul, numa situação que perdurou até 1947, ano em que a Espanha voltou a equipar de vermelho, mas sem nunca ser chamada de «Roja».
     
    Essa denominação só chegaria durante o consulado de Luis Aragonés à frente da «Furia Española», quando este começou a referir-se à seleção como «La Roja». ##Rapidamente surgiu a divisão entre nuestros hermanos, com os puristas a defenderem a velha definição histórica e a rejeitarem a nova denominação, baseando-se também em motivos extra-futebol, muito por culpa das conotações políticas da cor vermelha.
     
    À volta do Pacífico...
     
    Também de vermelho veste o Taiti, uma das ilhas que formam a Polinésia Francesa, um despojo do Império, que os franceses denominam de Collectivité d'outre-mer, que em português podemos resumir em algo como um Departamento e Território Ultramarino da França.
     
    O Taiti - e por arrasto toda a Polinésia - não faz parte das memórias futebolísticas nem do adepto mais conhecedor do «desporto rei». Quando se pensa nestas paradisíacas paragens pensa-se em praia, mares de azul turquesa, cocktails exóticos, e quando muito, alguma referência ao «Motim na Bounty», imortalizado por Hollywood em 1962, com um inesquecível Marlon Brando.
     
    A verdade é que quando se pensa em Taiti, pensa-se em tudo menos futebol.
    Mas passando as referências cinematográficas ou as imagens publicitárias que colocam um gel de banho ou um chocolate nos Mares do Sul, a verdade é que deste lado do mundo, pouco se conhece do Taiti e nem o futebol é exceção.
     
    Os jogadores polinésios são conhecidos como os Toa Aito - Guerreiros de Ferro - e não obstante serem o 138º lugar do ranking da FIFA, prometem dar o máximo na luta que irão travar com os adversários profissionais que vão enfrentar em campo e que costumam admirar na televisão. Não se admirem se no fim do encontro algum jogador polinésio pedir um autografo a Xavi, Iniesta ou ao uruguaio Cavani...
     
    Banhado pelo mesmo Pacífico e ainda versando a temática guerreira, encontramos a seleção nipónica que só ganhou um apelido antes do mundial de 2006. Preocupados com a ausência de uma alcunha para a seleção, a Federação Japonesa resolveu lançar um concurso para eleger o nome. Os fãs responderam em massa e escolheram chamar os seus heróis de «Samurais Azuis».
     
    Por último, last but not least, temos a seleção da Nigéria, o representante africano que à última da hora ameaça falhar a presença no certame em Terras de Vera Cruz.
     
    As Super Águias, conhecidas anteriormente por Águias Verdes, foram recentemente ridiculizadas pelos adeptos como as «Galinhas Verdes», depois de alguns resultados desapontantes no começo da qualificação para a CAN 2013.
     
    Feridas no orgulho, as Super Águias recompuseram-se e voltaram a conquistar o carinho dos adeptos, acabando por conquistar a competição e assim ganhando o direito a participar na Taça Confederações. 

    Comentários

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    motivo:
    MA
    Seleção Nacional
    2013-06-19 11h21m por mavrik
    Realmente estou de acordo, depois de ler a forma como as seleções foram aqui descritas, acho que seria de valor, um artigo que documenta-se com brio a nossa seleção e suas origens, e também como também tem sido vista lá por fora com o passar dos anos. .

    Em vez de criticar, como tanta vez se faz. .
    E a nossa selecção?
    2013-06-14 15h11m por DCanas7
    Sei que esta publicação é a respeito da Taça das Confederações, mas acho que seria interessante fazerem um artigo semelhante a respeito da selecção portuguesa. Não?

    Cumprimentos