Chegou a parecer fácil para o Benfica e acabou a cheirar a reviravolta épica do Boavista. Duas partes distintas, duas atitudes distintas e uma enorme postura da equipa de Petit, que perdia por 0x2 ao intervalo e que podia perfeitamente ter ganho, contra um Benfica que se eclipsou totalmente no segundo tempo e que voltou a demonstrar muitos, muitos problemas. Assim, vai ser uma limpeza para o Ajax...
Mas foquemos neste jogo, que o próprio Nélson Veríssimo também o fez, sem poupanças. Acabou por ver Otamendi e Weigl receberem o quinto amarelo, que os tira da receção ao Vitória, e viu também um apagão muito preocupante da sua equipa, o qual não conseguiu contrariar com substituições que pioraram. Ainda se pode falar de primeiro lugar na Luz, até porque matemática o permite. Mas é mesmo só isso. E mesmo o segundo lugar...
Petit, por sua vez, acabou totalmente com o rótulo, ao empatar pela segunda vez em menos de um mês contra o Benfica, a quem continua sem ganhar, e voltou a empatar (são 13 do Boavista, o rei do campeonato neste capítulo), mas ninguém pode dizer que esta equipa não tem fibra... e não sabe jogar. Joga muito, mesmo com adversidades.
Uma das dúvidas para o jogo, talvez a maior, era se Paulo Bernardo mantinha a titularidade ou se João Mário voltava a fazer companhia a Weigl no meio. Nélson Veríssimo nem foi por um, nem por outro: apostou em Taarabt, que tinha entrado bem contra o Santa Clara e que mereceu a confiança do treinador pela primeira vez (ainda não o tinha lançado a titular).
Mas, se a face do marroquino foi bastante visível, a de Rafa também convém ser destacada. Inegavelmente, o internacional português perde protagonismo encostado à direita no 4x4x2, portanto Veríssimo fê-lo alternar posição com Gonçalo Ramos, o que o fazia romper muitas vezes pelo corredor central e surgir em zonas de decisão. Aí, assistiu de calcanhar para o remate de Taarabt no primeiro e finalizou para defesa incompleta no segundo, da autoria de Grimaldo.
Até podia ter havido mais protagonismo de ambos, num lance de contra-ataque em que ficou bem visível a apatia do setor defensivo axadrezado, mas no qual Gonçalo Ramos estava fora de jogo. Porém, chegava. Para o Benfica, a sensação era de vitória na mão ao intervalo.
Sauer ligou-se mais ao jogo, pôde aparecer com mais bola e, dessa forma, torna-se mais fácil o Boavista ser perigoso. Quer em bola corrida, quer a bater bolas paradas, o camisola 8 foi o motor da equipa e foi com total justiça que, já depois de Veríssimo mexer na equipa, conseguiu relançar o jogo ao bater Vlachodimos.
Foram largos, largos minutos do Benfica sem conseguir viver mais do que míseros segundos no meio-campo contrário. Enorme mérito do Boavista, mas também demérito dos encarnados, incapazes de aproveitar o espaço e de serenar com bola. As substituições não só não ajudaram, como pioraram, por isso o ascendente mental era cada vez mais evidente.
Quando se achava que haveria finalmente reação encarnada, foi o contrário: mais uma grande demonstração de qualidade do Boavista, que várias vezes ameaçou a reviravolta. Seria épico e merecido, embora assim já tenha sido um belo prémio para a equipa.
Era normal, com 0x2 e sem grandes argumentos ofensivos, que o Boavista, até pelo que tinha sido a primeira parte, se preocupasse em congelar o jogo para não arriscar a goleada. Às vezes, é isso que vemos, mas o futebol é muito mais bonito assim, quando se arrisca contrariar o destino. Mereceu o empate, pelo menos.
Impressionante a incapacidade do Benfica para dominar o jogo a partir dos 60 minutos. Sem frieza, sem calma, sem qualquer ideia, entregue ao andamento do relógio e a arriscar o que acabou por acontecer de forma natural. Não há qualquer chama na equipa. Será diferente na Champions?