Após alguns anos de afastamento da alta roda do futebol português, o Boavista regressou ao principal Campeonato com algumas dificuldades inerentes ao processo de transição entre Campeonato de Portugal e Liga, mas tem vindo a melhorar as suas participações ano após ano.
A propósito desse crescimento mais recente, é justo dizer que Lito Vidigal teve um papel importante na mudança de paradigma na temporada passada. Uma equipa apática e conformada com a antepenúltima posição deu lugar a uma equipa motivada e ciente do que era preciso fazer para sair do fundo da tabela. Nem que para isso não fosse preciso praticar o melhor futebol.
O Boavista tem por hábito dar a iniciativa de jogo ao adversário, apostando no contragolpe e no aproveitamento dos erros do adversário. Esta postura, mais calculista, dá conta do lado mais paciente da equipa de Lito Vidigal, mas é uma faca de dois gumes.
Ao serem demasiado permissivos, sobretudo quando apanham equipas que gostam de ter bola - veja-se o caso do último jogo em casa do Belenenses SAD (0x1), em que os azuis só não marcaram por manifesta ineficácia -, os axadrezados permitem que o oponente pense o jogo e crie oportunidades de golo.
E é neste limbo que o clube nortenho se sente confortável. Não pressiona alto e isso permite ao adversário avançar no terreno, dando-lhe a sensação de superioridade, mas ao mínimo erro a pantera ataca... e costuma ser fatal.
Em relação à temporada passada, Lito perdeu algumas peças importantes - Talocha, Rafa Lopes, Gonçalo Cardoso e Fábio Espinho -, mas foi cirúrgico nas contratações.
O 4x3x3 (ou 4x2x3x1) tem sido o sistema mais utilizado por Lito neste arranque de época, mas não o único. O treinador de 50 anos já apostou no 3x4x3, com uma linha de cinco homens nos momentos de transição defensiva e ainda com dois médios de contenção.
Assim que o adversário entra na zona de meio-campo é normal vermos um dos centrais surgir de rompante e cair em cima do portador da bola, criando aquele desconforto que motiva muitas vezes uma decisão precipitada.
A jogar neste sistema, Rafael Costa é o único que constrói. Heriberto e/ou Alberto Bueno ajudam nessa tarefa quando a aposta é no 4x2x3x1 e a equipa ganha aqui mais qualidade.
Há ainda Mateus que parece estar a viver uma 'segunda' juventude e uma frente de ataque com boas soluções: Yusupha e Stojiljkovic são jogadores que pelas suas características permitem a Lito abordar o jogo de várias formas.
Cuidado, a Pantera sorrateira está pronta a atacar. Duas vitórias e dois empates é o cartão de visita para uma época que se espera tranquila.
Com bons executantes de bolas paradas e bons finalizadores de cabeça, as bolas paradas são um ponto forte da equipa de Lito Vidigal. Os centrais Tagliapietra e Ricardo Costa surgem muito bem em zona de finalização, além de Rafael Costa ser um especialista na marcação de grandes penalidades. Sendo uma equipa que joga muito no erro do adversário, a Pantera aproveita as bolas paradas para dar o golpe no adversário.
O treinador angolano assumiu o comando técnico do Boavista no decorrer da temporada passada, isto depois de ter iniciado o ano desportivo em Setúbal, e teve um impacto imediato no Bessa. Lito apanhou os axadrezados em zona de descida à partida para a 20.ª jornada e levou a equipa até à 8.ª posição. Apesar de eliminado da Taça da Liga, Lito e o Boavista ainda não perderam para o Campeonato (duas vitórias e dois empates nas quatro primeiras jornadas).