Foram cerca de duas horas e meia a abordar os mais diversos assuntos da atualidade do Benfica. Da prestação no campeonato e na Liga dos Campeões à elaboração do plantel para a temporada atual, passando pela confiança em Rui Vitória e terminando nas questões mais polémicas e do foro jurídico, Luís Filipe Vieira falou numa longa entrevista ao canal do clube em que respondeu também a perguntas colocadas por elementos da plateia.
A extensa conversa, que pode conferir na íntegra aqui, arrancou com uma espécie de balanço dos 14 anos de presidência, com Luís Filipe Vieira a abordar de seguida o que poderá vir a ser o futuro do clube após a sua inevitável saída.
O dirigente falou sobre os projetos a nível de infra-estruturas, garantiu que a rádio do clube nascerá em 2018 («a Rádio Benfica terá que ser uma realidade no primeiro semestre do próximo ano») e acabou por passar para o plano estritamente desportivo, explicando que o objetivo passa por continuar a reforçar a aposta na formação e elucidando os sócios sobre as decisões que foram tomadas no que toca à sucessão de jogadores como Ederson, Lindelöf ou Nélson Semedo.
«Hoje os reforços do Benfica têm de ser da Caixa Futebol Campus. Digo aos benfiquistas duas coisas que são importantes: não vale a pena dizerem que planeámos mal a época. É fácil as pessoas falarem, falarem, falarem...quero dizer que a equipa do Benfica, tirando três jogadores, é praticamente a mesma equipa do ano passado. E estes jogadores que faltam são o Ederson, o Nélson Semedo e o Lindelöf», explicou.
«Sobre o Ederson: as pessoas têm que entender que temos uma parceria com o Rio Ave. Nunca me poderiam pedir para enganar o Rio Ave, como alguns já fizeram. Outros conseguem, eu não consigo. Tinha de respeitar o Rio Ave, dizer que havia uma oferta clara e assim foi», prosseguiu Luís Filipe Vieira, abordando também os casos das outras duas saídas sonantes no último defeso.
«Sobre o Nélson Semedo, sabíamos também que podia aparecer a qualquer momento uma proposta. Não podíamos travar a ambição do Nélson. E há muito tempo que se falava que o Lindelöf podia ter saído».
E como se substitui, então, este trio de atletas, na ótica de Luís Filipe Vieira?
«A tesouraria do Benfica também pesa numa situação destas. Se temos uma filosofia de virmos a reter os melhores jogadores nossos, teríamos de ter uma estratégia para escolher um guarda-redes novo. Já seguíamos este guarda-redes [Svilar] desde os 15 anos. Desde sempre que se disse que era o guarda-redes do futuro», começou por indicar.
«No caso do defesa-direito, tínhamos previsto que o Pedro Pereira poderia ser o substituto do Nélson Semedo. A pré-época para ele e para o Benfica não foi a melhor, não nos deu essas garantias. Escolher um defesa-direito para o Benfica é complicado. Fomos adiando essa situação e negociámos com o Barcelona para vir um jogador por empréstimo com opção de compra [Douglas]».
«Em relação ao central, imaginemos que o Garay vinha para o Benfica. Onde é que estava o Rúben Dias? Continuava na equipa B. Hoje já se diz que não se pode vender o Rúben Dias», salientou o líder do clube encarnado.
Ainda no que toca ao planeamento do plantel, Luís Filipe Vieira insistiu na confiança nos jovens atletas e revelou ter já recebido uma proposta significativa por Svilar. Uma proposta inútil, indicou o presidente do clube da Luz, já que o guarda-redes faz parte dos planos de futuro.
«Pelo Svilar houve uma proposta de quatro vezes o que ele custou e ainda ficava dois anos no Benfica. Não sai, não vai. É importante as pessoas entenderem: o Svilar é um jogador de 18 anos que diz que só pensa no Benfica, não na seleção nacional».
No eixo da defesa é Rúben Dias quem se tem afirmado e Vieira indica também, a este respeito, que o jogador é para segurar. «Não há dúvida que vai ser o capitão do Benfica. Já apareceu uma proposta por ele, não sai. Não vale a pena pensar nisso. Está feito. Não vale a pena as pessoas andarem a dizer que o Benfica não se reforçou. Os primeiros reforços do Benfica estarão no Seixal».
Em alusão às saídas no passado de talentos do Seixal, como nos casos de Bernardo Silva e João Cancelo, o presidente indicou que eram inevitáveis, mas garantiu que luta por tornar mais realista o objetivo de segurar as pérolas. E pelo meio revelou ainda que o clube tentou o regresso de Cancelo.
«Podemos ir às vezes ao mercado internacional, mas 80% dos jogadores têm de vir do Seixal. Vamos ver os casos de João Cancelo, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Renato Sanches... na altura tinha que ser assim. As pessoas não têm memória curta», realçou.
«Eu neste ano fiz tudo para que o João Cancelo regressasse ao Benfica, e estava disposto a trocar um jogador por ele, em compensação pelos 25 milhões de euros. Não veio porque não chegámos a acordo com o Valência».
A fechar o tema, o dirigente voltou a insistir na ideia da aposta na formação, um tema recorrente ao longo da conversa.
«Não quero trair quem confiou no Benfica. Temos miúdos que vão chegar à equipa do Benfica. Como é possível as pessoas pensarem no Garay? Temos o Rúben Dias, o Kalaica...se falarmos de defesas-esquerdos temos, temos alas, médios...só uma posição ou outra é que não está cá».