Se há predestinados no futebol, não há dúvidas que João Vieira Pinto (JVP) é um deles. Com a bola nos pés, fintou o destino, fugindo a um futuro de duro trabalho que a sua condição social o parecia ter votado. Primeiro nas seleções jovens, depois no Boavista, Seleção « A»Benfica e mais tarde no Sporting, marcou uma era no futebol português, tornando-se no ícone do desporto-rei lusitano nos anos 90, superando em popularidade os nomes de Vítor Baía, Rui Costa ou Luís Figo.
Nascido no Porto, na freguesia de Campanhã, cresceu no Bairro do Falcão, onde desde cedo deu nas vistas. De origens humildes, encontrou na bola, uma amiga para ajudar a fintar o destino.
Valentim Loureiro sabia que tinha um diamante entre mãos e tentou aguentar o jogador no Bessa, apesar dos avanços dos grandes de
Portugal. A sorte grande saiu quando Gil y Gil convenceu Loureiro a abrir mão do seu menino-prodígio, a troco de uma soma avultada. As luzes da ribalta abriam-se para o pequeno craque, que se tornava uma das mais promissoras estrelas do futebol europeu.
Em
Madrid, ao lado do ídolo
Futre, acabou por não ser feliz no Atlético Madrileño - equipa B dos colchoneros - não se habituando à vida na capital espanhola, sonhando a cada dia com um regresso a casa, para junto da família e do seu
Boavista, onde pode voltar a jogar, preparando-se para ser fundamental na conquista do mundial de Juniores em Lisboa.
O
Boavista estava atento e resgatou-o, a tempo de se tornar numa das principais referências da equipa de Manuel José. Entretanto águias e leões lutavam pela sua contratação, com Sousa Cintra a sonhar leva-lo para
Alvalade, mas seria o
Benfica a convencer JVP, que assim foi apresentado na
Luz como uma grande promessa.
«Menino de oiro»
A sua primeira época não foi muito feliz, com uma lesão torácica - sofrida num jogo da seleção na Escócia - que lhe deixou a carreira em perigo. Mas à recuperação lenta, sucedeu-se uma época de sonho, em que João Pinto se tornou na principal referência dos encarnados, sendo fundamental na caminhada para o título, com a soberba exibição e hattrick no 3x6 em
Alvalade, que lhe valeu a nota dez no Jornal «A Bola» e o amor incondicional dos benfiquistas.
A conquista teria um travo especial, por se tratar de uma vingança pessoal contra Sousa Cintra, pois no defeso anterior JVP, estivera muito perto de acompanhar Paulo Sousa e Pacheco, de armas e bagagens para
Alvalade. JVP e o
Sporting chegaram a ter um acordo, mas no último momento, e depois de um processo que envolveu uma passagem pelo Algarve e Marbella, Jorge de Brito conseguiu demove-lo, apresentando-o em delírio no Estádio da
Luz, perante os adeptos benfiquistas que pediam vingança pelos «roubos» leoninos. Do outro lado da segunda circular, Sousa Cintra vociferava contra tudo e todos, acusando JVP de falta de caráter, entre outros mimos...
Os anos seguintes transformariam JVP num caso sério de popularidade no universo benfiquista, com a sua imagem a misturar-se inclusivamente com a do próprio clube. Num dos períodos mais complicados da história encarnada, JVP, seria juntamente com Michel Preud´Homme, o esteio de uma equipa que depois do título em 1994, atravessou longos anos de desacerto, assistindo à definitiva ascensão do
FC Porto como potência primeira do futebol nacional.
Paulinho e Vale e Azevedo
No
FC Porto, além do grande rival, encontrou Paulinho , com quem travou dos mais polémicos casos do futebol português durante os anos noventa. Litros de tinta foram gastos a analisar os casos, programas de televisão com comentadores - uma novidade da época - prolongavam-se durante horas até de madrugada, analisando as coteveladas de Paulinho , as respostas de João Pinto, e toda a polémica em redor.
No final das contas, além de expulsões dos dois lados, JVP pode lembrar um nariz fracturado e um maxilar deslocado, mas tudo acabou resolvido, com António Oliveira a obrigar os dois a dividir o quarto nos estágios da seleção.
Saído Manuel Damásio da presidência, que com ele assinara um contrato vitalício, JVP foi encarado pelo novo presidente João Vale e Azevedo como alguém muito próximo da anterior direção e da oposição benfiquista.
A célebre derrota por 7x0 em Vigo, onde JVP foi obrigado a pedir publicamente desculpa aos adeptos em nome do plantel, acabou por deixar marcas na relação com o Presidente, que surpreendentemente, em vésperas do Euro 2000, para espanto de
Portugal e da Europa, dispensou a estrela maior do
Benfica e o ídolo encarnado dos anos 90, que partiu para o europeu, na inusitada condição de jogador sem clube.
O grande artista
O
Sporting acabara de ser campeão, quebrando um jejum de 18 anos e Luís Duque sonhava com a possibilidade de criar uma hegemonia leonina para suceder à do
FC Porto. À equipa campeã, tinham-se juntado Sá Pinto, Dimas, Paulo Bento, entre outros, a possibilidade da contratação de JVP, a estrela do velho rival, seria a cereja em cima do bolo.
O
FC Porto também estava na corrida, mas seria no velho Estádio José
Alvalade, que o «grande artista» - como ficou conhecido em terras verdes-e-brancas - foi apresentado perante uma multidão. Os primeiros tempos foram promissores, mas o
Sporting acabaria por terminar em terceiro lugar, incapaz de defender o título, que curiosamente era «roubado» pelos axadrezados.
Mas à segunda possibilidade, JVP criou com o recém chegado Mário
Jardel, a dupla de sonho, tornado-se no «pai» do avançado brasileiro, decisivo em grande percentagem nos 42 golos apontados pelo goleador de fortaleza.
O desastre na Coreia
Depois da festa do Campeonato e Taça, de leão ao peito, JVP foi chamado para o mundial de 2002, o primeiro que podia disputar na carreira, depois dos falhanços nas qualificações de 1994 e 1998.
Mas a aventura asiática não correu de feição a
Portugal e ao portuense em particular. Após a derrota na estreia com os norte-americanos, a vitória sobre a Polónia por 4x0 parecia sanar a crise, mas no seio da seleção as disputas tornavam-se óbvias e Rui Costa não escondia o desagrado de ser relegado para o banco, em detrimento de JVP.
O jogo com a Coreia do Sul, acabou por marcar definitivamente a carreira do pequeno artista, acabando expulso, após agressão ao juiz argentino Ángel Fernández. Castigado por seis meses, nunca mais vestiu a camisola das quinas.
Durante dois anos em
Alvalade, ainda criou uma nova dupla com Liedson, mas acabou por não renovar o contrato, mudando-se então para o
Boavista, e mais tarde para o SC Braga, onde acabou a sua carreira. Nesses últimos anos, respeitado na
Luz e em
Alvalade, e até mesmo nas
Antas, acabou por ajudar o Braga a consolidar o estatuto de quarto grande, demonstrando em campo todas as suas capacidades, conseguindo disfarçar as lacunas físicas ditadas pela idade.
Terminada a carreira, dedicou-se ao comentário desportivo, e ao estudo da modalidade, tornando-se uma presença constante em programas televisivos dedicados ao comentário desportivo, até voltar ao futebol pela mão de
Fernando Gomes, que o convidou para o cargo de Vice-Presidente da F.P.F.
Nascido no Porto, na freguesia de Campanhã, cresceu no Bairro do Falcão, onde desde cedo deu nas vistas. De origens humildes, encontrou na bola, uma amiga para ajudar a fintar o destino.
Cedo se destacou nas jogatanas entre amigos, passando a jogar pelo clube do bairro que o viu crescer, antes de se mudar para o Águias da Areosa.