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    Frank Rijkaard: O Muro Elegante

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    A história de Frank Rijkaard começa em Amesterdão, em setembro de 1962. Filho de uma mãe holandesa, tinha desde o início o futebol no sangue, uma vez que o seu pai era um futebolista que, curiosamente, chegou à Holanda vindo do Suriname em conjunto com outros jogadores e entre eles estava nada mais nada menos que o pai de Ruud Gullit.

    As histórias de Herman Rijkaard e Gerard Gullit já eram semelhantes o suficiente, mas por obra do destino (ou talvez um acordo bizarro) os atletas teriam um filho com apenas um mês de distância, e com as suas respetivas esposas holandesas.

    Frank e Ruud cresceram a jogar futebol pela cidade, mas enquanto o amigo foi jogar para Haarlem, iniciando um hiato na proximidade dos amigos, Rijkaard ia ultrapassando etapas no Ajax, onde acabou por se estrear como sénior aos 17 anos, pelas mãos de Leo Beenhakker. O impacto na estreia, em 1980, foi imediato. Marcou terceiro golo numa vitória por 4x2 frente ao Go Ahead Eagles no primeiro jogo da temporada, e no fim de 1980/81 já levava 26 jogos e cinco golos pela equipa principal do Ajax, quase sempre como defesa central.

    Rijkaard no Ajax @Ajax Amsterdam
    Jovem, sim, mas Frank Rijkaard começava a brilhar numa equipa onde jogava nada mais nada menos do que o lendário Johan Cruyff, numa fase mais avançada da carreira. Apesar de tenra idade, o holandês apresentava uma calma e compostura pouco natural. Tinha velocidade e força, mas não fazia do físico uma arma porque, na maior parte dos cenários, não precisava. Lia o jogo e antecipava-se como um defesa experiente, e aos 20 anos já era mais do que indiscutível na equipa pela qual já conquistara dois títulos.

    Foi, então, campeão da Eredivisie logo na segunda época. Defendeu o título na terceira e, após pausa de um ano, voltou a celebrar a mesma conquista em 1984/85. Outras tantas Taças e o palmarés começava a compor-se ainda muito cedo e culminou no final de 1986/87, com a conquista da Taça das Taças, o primeiro troféu europeu da sua carreira.

    A glória europeia surgiu logo à segunda temporada com Cruyff como treinador, mas a história, por mais elegante que fosse, não acabou bem. O início de 1987/88 foi promissor com quatro golos nos primeiros nove jogos, mas um desentendimento com o treinador numa sessão de treino ditou um regresso antecipado aos balneários e uma promessa do jogador, que disse que nunca voltaria a jogar sob o comando de Cruyff.

    «Aventura» portuguesa

    Seguiu-se uma aventura em... Portugal. Mas por mais que a chegada do internacional holandês a Lisboa tivesse causado surpresa, a história não foi particularmente longa.

    Após a rutura com Cruyff foi Joaquim Salvador, português que emigrava na Holanda e que, para além de amigo de Rijkaard, era colaborador do Sporting, sugeriu ao holandês o clube leonino. 

    Rijkaard, então com 25 anos, já tinha estado em Lisboa e desenvolvido algum apreço pelo Sporting, e por isso começou a treinar com o clube em outubro, muito antes do mercado de janeiro.

    Chegou a ser apresentado como reforço do clube português, mas a verdade é que Rijkaard nunca chegaria a vestir a camisola listada do Sporting num jogo oficial, porque não pôde ser inscrito.

    Em causa estava a negociação da transferência com o Ajax, que se tornou o problema, pois não se tratava de um negócio fácil. Quando o negócio foi resolvido, num acordo de 350 mil contos, o processo estava ainda por ser clarificado, uma vez que havia uma multinacional (Ecofinance)a financiar os leões com parte desse valor. 

    O Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol decidiu que Rijkaard não poderia ser inscrito e o jogador voltaria para o Holanda, onde seria emprestado pelo Ajax ao Real Zaragoza.

    Foi dramático para o Sporting, mas ainda mais para o jogador. Não queria jogar no Ajax, mas não pôde jogar em Portugal, nem em Itália (onde era pretendido pelo Milan e Juventus), nem em Espanha (no Zaragoza pouco jogou, imagine-se, por uma lesão contraída num treino pelo Sporting).

    Holanda reina na Europa, e isso inclui Milão

    Peça fundamental da laranja mecânica @Getty / Bongarts
    Poucas semanas antes de assinar pelo AC Milan, e portanto uns meses antes de começar a dominar a Europa a nível de clubes, Frank Rijkaard já o fazia com a sua seleção. Sete anos depois da estreia pela seleção principal, Rijkaard fez com Ronald Koeman uma dupla imbatível no centro da defesa da laranja mecânica, que venceu o Euro 1988 com um 2x0 sobre a União Soviética na final.

    Na seleção viveu também um reencontro com Gullit, colega e amigo com quem já tinha vivido muito mas ainda havia mais história para escrever. Para além de companheiros de seleção, seriam também colegas no AC Milan depois desse verão de conquistas, e em Itália formariam um temível trio holandês com Marco Van Basten, a estrela do ataque de ambas as equipas.

    Para além da glória no Euro, Rijkaard disputou dois Campeonatos do Mundo (1990 e 1994), para além do Campeonato Europeu seguinte, no qual até marcou nas meias finais frente à Dinamarca, mas a Holanda acabaria eliminada nas grandes penalidades, nesse mesmo jogo.

    No total foram 10 golos em 73 internacionalizações, mas a carreira de Rijkaard ficaria marcada por um infeliz incidente no Mundial de 90, com o holandês a envolver-se numa disputa com o alemão Rudi Voller. Ambos os jogadores foram expulsos, mas as câmaras captaram Rijkaard a cuspir duas vezes no seu adversário, o que motivou alguma controvérsia e, por fim, um pedido de desculpas a Voller.

    Auge rossonero

    Depois de um verão muito completo em termos de conquistas, ao sagrar-se campeão europeu pela Holanda, eis que finalmente Frank Rijkaard conseguiu a sua tão desejada transferência a título definitivo. Rumou a Milão, onde assinou pelo AC Milan em que ficaria durante cinco temporadas, três delas sob o comando do icónico Arrigo Sacchi.

    O icónico trio holandês de Milão @Getty / Alessandro Sabattini

    Foi com Sacchi que viveu a maior transformação da sua carreira. Tinha tido algum passado no meio campo durante a formação, mas a verdade é que até à sua nona época como profissional tinha sempre sido um defesa central. Mas com Baresi, Maldini Tassotti e outros, era justo afirmar que os rossoneri não precisavam de um defesa. O que faltava era um médio defensivo de classe mundial, isso sim.

    Então Rijkaard aceitou a transformação, e rapidamente cresceu para se tornar um dos melhores do mundo na sua posição, bem como uma referência para os futuros médios defensivos, que se inspiraram no holandês que se revelava tão agressivo sem bola como era calmo e composto com ela.

    Sacchi, o lendário treinador italiano @AC Milan
    Da meia década que passou em Milão, Rijkaard aproveitou para conquistar muitos mais troféus para a sua galeria. Entrou no futebol italiano logo com uma Supercoppa, mas chegaria ao final da sua primeira temporada com a maior taça de todas: a orelhuda. 

    Venceu a Liga dos Campeões em época de estreia, frente ao Steua de Bucareste, e repetiria a façanha logo no ano seguinte (1990) com um papel muito mais decisivo, uma vez que o AC Milan venceu o Benfica por 1x0 e o jogador de que falamos marcou o único golo do jogo.

    A turma de Sacchi era a melhor do mundo e Frank Rijkaard era aluno exemplar, com um grande desempenho e fulcral para o sucesso coletivo. Ainda assim, os títulos da Serie A só começaram a aparecer após a mudança de professor. Com Fabio Capello, o sucessor de Sacchi, Rijkaard venceu o scudetto duas vezes em duas tentativas, antes de regressar ao Ajax.

    O retorno ao Ajax foi para duas temporadas que serviriam de fim de carreira. Já sem Cruyff (Louis van Gaal era o treinador), Rijkaard aceitou voltar a casa e ao centro da defesa, onde fez dupla com Blind para conquistar duas Eredivisies consecutivas (uma delas com o estatuto de invencível), bem como uma Liga dos Campeões, conquistada frente ao... AC Milan. Foi a terceira e última para Rijkaard, que se despediu dos relvados enquanto estava no topo, com 32 anos, antes de se destacar enquanto treinador.

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