Rui Manuel Trindade Jordão, o «quase-herói» de uma noite em Marselha, onde marcou dois golos e Portugal ficou a minutos de jogar a primeira final de uma grande competição, brilhou intensamente na seleção e no Sporting, o clube onde com Manuel Fernandes, formou uma das mais letais duplas do futebol nacional.
A vinda para Portugal
Antes de ser leão já o era, mas a verdade é que chegou a Portugal para vestir a camisola do Benfica, alcunhado como o novo Eusébio. Chegou para os juniores da formação da Luz, proveniente do Sporting de Benguela, onde também praticava atletismo, mas já antes chamara a atenção dos leões, que tinham ficado com o rapaz debaixo de olho, depois de terem chegado à metrópole notícias do jogador que já dava ares de craque na filial leonina de Benguela.
A paixão pelas corridas e saltos levou-o para a pista de cinza, mas uma lesão sofrida durante o Campeonato Angolano de Atletismo fechou-lhe as portas do
Sporting lisboeta, que ao saber da lesão se desinteressou do atleta. O
Benfica estava atento e lançou o convite, pouco depois fecharam contrato.
Orientado por Ângelo Martins, foi dando nas vistas e Jimmy Hagan não teve dúvidas em apostar nele para jogar ao lado de Eusébio num jogo com o
Sporting. Marcou um golo e ganhou logo um lugar na equipa e no coração dos benfiquistas.
Estreia na seleção e convites para sair
Brilhou na seleção também, onde chegou com 20 anos, estando muito perto de conquistar a Copa Independência no Brasil, um minicampeonato do mundo para celebrar os 150 anos da independência brasileira, em que
Portugal chegou à final, para só perder com a equipa da casa fruto de um golo apontado no último minuto.
Entretanto, chegavam à
Luz propostas de diversos clubes europeus: Paris SG, Estrasburgo, Racing White,
Bayern, Bétis, mas a todos o Presidente Borges Coutinho diria que não. Jordão era para ficar e era uma aposta declarada do líder encarnado.
Num jogo com o
FC Porto na
Luz, em 1974, num lance com o portista Gabriel, saiu gravemente lesionado no menisco, com uma rotura nos ligamentos cruzados e fraturas diversas. Tinha 22 anos e a carreira em perigo. Após um processo de recuperação que o levou à Bélgica, acabou por recuperar totalmente, ao ponto de se sagrar o melhor marcador do Campeonato com 30 golos em 1975/76.
Passagem por Saragoça e o regresso a Portugal
Seduzidos pelo seu jeito felino e faro pelo golo, os espanhóis do Zaragoza enviaram um emissário a Lisboa, para convencer o
Benfica a vender o avançado. No clube de Aragão não foi feliz, tendo de lutar pela titularidade, acabou por marcar 14 golos em 33 jogos.
Atento à situação e à tristeza do jogador, João Rocha lançou-lhe o repto para se mudar para
Alvalade e finalmente vestir a camisola do seu clube do coração. O
Benfica tentou impedir o negócio, oferecendo uma contraproposta, mas o presidente leonino subiu a parada e, a 28 de agosto, Jordão voa diretamente de Saragoça para Lisboa num táxi-aéreo para chegar a tempo de vestir a camisola verde-e-branca na apresentação contra os brasileiros do Vasco da Gama.
De leão ao peito
No
Sporting, Jordão encontrou Manuel Fernandes, com quem fez uma dupla letal que em 1979/80 foi decisiva para os leões conquistarem um título que já escapava desde 1974. Para ajudar à festa, a Gazela de Benguela apontou trinta e um golos que lhe valeram a segunda Bola de Ouro, que premiava o melhor marcador do Campeonato Nacional. Duas épocas depois, António Oliveira juntou-se à dupla e o
Sporting voltou a conquistar o campeonato novamente, com um futebol demolidor e Jordão em grande plano.
Já de leão ao peito sofreria duas lesões que o deixaram muito perto do fim da carreira. Primeiro na
Luz , com Alberto a fraturar-lhe a tíbia da perna direita, e depois de um longo período de recuperação, regressa numa noite em
Alvalade para defrontar o Famalicão. O também leão José Eduardo, que então vestia a camisola dos minhotos, com uma entrada dura por trás provocou-lhe uma fratura do perónio da perna esquerda, além dos ligamentos da tibiotársica.
Euro 84
Recuperado, voltou a estar em grande forma, merecendo a convocatória para o Campeonato Europeu de 1984 que se disputou em França. Contra as expectativas de muitos,
Portugal superou um grupo com Alemanha Federal,
Espanha e Roménia, no seu regresso às grandes competições, quase vinte anos depois dos «Magriços» terem brilhado em Inglaterra.
Na meia-final, contra a anfitriã e favorita França de Michel
Platini,
Portugal recuperou do golo inicial de Domergue, para empatar à entrada do último quarto de hora, por intermédio de uma cabeçada de Jordão.
No prolongamento, recebendo um centro magistral de Fernando Chalana, rematou em jeito, fazendo a bola bater no chão e passar por cima da cabeça do guarda-redes Jöel Bats, corriam então oito minutos da primeira parte do prolongamento.
O sonho durou até seis minutos do final, quando o mesmo Domergue voltou a fixar o empate, para acabar de vez, a um minuto do fim, com o golo do inevitável
Platini, que acabou com a aventura dos «Patrícios».
Manuel José
Regressado ao
Sporting, o
FC Porto tentou contrata-lo, para o juntar a
Futre, recentemente resgatado ao clube de
Alvalade.
Pinto da Costa esteve muito perto de conseguir levar o goleador para as
Antas, mas o coração leonino de Jordão e o abrir dos cordões à bolsa de João Rocha, permitiram segurar o avançado angolano no «Reino do Leão».
Com John Toschak ainda foi influente no ataque sportinguista, mas problemas musculares colocaram o avançado no banco quando Manuel José tomou conta do leme leonino. Descontente, acabou então por abandonar o clube onde fora tão feliz.
O Vitória de Setúbal conseguiria resgata-lo para o mundo do futebol e no Bonfim ainda foi chamado à seleção das quinas, na sequência do castigo imposto pela Federação a todos os jogadores que tinham estados envolvidos na greve em Saltillo, durante o mundial do México.
Acabou finalmente por abandonar as botas e deixar o futebol para sempre, encontrando uma nova paixão nos lápis e nos pincéis, voltando a estudar, e dedicando-se à pintura e ao desenho, finalizando o curso na Sociedade de Belas Artes, e tornando-se um reconhecido pintor.
Em 2019, após algumas semanas internado devido a problemas cardíacos, acabou por falecer, aos 67 anos.
Antes de ser leão já o era. Mas a verdade é que chegou a
Portugal para vestir a camisola do
Benfica, alcunhado como o novo Eusébio. Chegou para os juniores da formação da
Luz, proveniente do
Sporting de Benguela, onde também praticara atletismo, mas já antes chamara a atenção dos leões.
Uma lesão, durante o Campeonato Angolano de Atletismo fechou-lhe as portas do
Sporting lisboeta, que se desinteressou do atleta. O
Benfica estava atento e fechou contrato com ele.
Orientado por Ângelo Martins, foi dando nas vistas, e Jimmy Hagan não teve dúvidas em apostar nele para jogar ao lado de Eusébio num jogo com o
Sporting. Marcou um golo e ganhou logo um lugar na equipa e no coração dos benfiquistas.
Brilhou na seleção também, aonde chegou com 20 anos, estando muito perto de conquistar a Copa Independência no Brasil, um minicampeonato do mundo para celebrar os 150 anos da independência brasileira, em que
Portugal chegou à final, para só perder com a equipa da casa, fruto de um golo apontado no último minuto.
Entretanto chegavam à
Luz propostas de diversos clubes europeus: Paris SG, Estrasburgo, Racing White,
Bayern, Bétis, mas a todos o Presidente Borges Coutinho diria que não.
Num jogo com o
FC Porto na
Luz, em 1974, num lance com o portista Gabriel, sai gravemente lesionado no menisco, com uma rotura nos ligamentos cruzados e fraturas diversas.
Tinha 22 anos e a carreira em perigo. Após um processo de recuperação que o levou à Bélgica, acabou por recuperar totalmente.