Eleições (sim, essas)

Ponto único: Declaração de voto 

Pela primeira vez desde que acompanho a vida do meu clube, temos eleições “a sério” e uma verdadeira campanha eleitoral, mesmo para quem diz que não faz campanha. Isto é o vox pop. Infelizmente, está errado. 

Não entendam mal, há de facto uma aguerrida disputa, incluindo insultos entre os dois lados da barricada, legiões arregimentadas - sejam avenças ou bots -, empresas de propaganda e (uma espécie de) marketing digital metidas ao barulho e, até, um figurante, em registo comic relief, que passa o tempo lá ao fundo, aos saltos, a gritar “olhem pra mim, olhem pra mim”. O que não há é candidatos à presidência do Futebol Clube do Porto. Aparentemente, ninguém avisou estas pessoas de qual é a eleição que terá lugar em 27 de abril. Todos se candidatam a um lugar que, curiosamente, não é elegível. Chega-se lá por nomeação dos acionistas.

O atual presidente e o futuro predestinado esgrimem planos financeiros, apresentam gestores de topo dispostos a desempenhar papéis secundários nas suas especialidades, proto diretores de comunicação, mostram planos de obras, discutem a elevação dos terrenos e a distância entre a entrada do campo de treinos e a recepção da zona privada da academia, tudo filmado por drone. Essa tal de academia que não existe.

E a malta anda toda contente e entretida com isto, engalfinham-se uns com os outros, ainda vão andar ao estalo, enquanto, em fundo, o som das espinhas a torcer e partir marca o ritmo dos dias. E eu penso: mas tá tudo parvo? 

Não estão todos sempre parvos, embora estejam muitos durante quase todo o tempo. A malta habituou-se a não pensar mais do que aquilo que lhes dizem, em múltiplos ecrãs cada vez mais coloridos e em clips todos os dias mais curtos, que é a verdade. Se Platão fosse vivo, era o emoji “facepalm”. Sim, sim, continuamos a falar das mesmas eleições, vocês é que estão a fazer o paralelismo. Eu cá não disse nada.

Caros co-votantes, que eles tratem das suas vidas e façam o discurso que lhes convém, não se estranha. Mas não se sentem um bocadinho achincalhados por já nem passarmos pelos preliminares? Chegam já a desapertar as calças e nem um olá. Ou seja, já se lixaram largo para esse vosso clube. Eles estão, na verdade, num processo de recrutamento para presidente, sim, mas da SAD. E é por isso que a palha que distribuem é a respeito disso. Um roubou, não roubei nada, roubaste, roubaste, mas ganhei, ladrão, nunca roubei, ingrato, comissionistas, trafulhas, trafulha é a tua prima, traidor, cobarde, mostra mas é as contas, reavalia o estádio, saca-o ao clube, a quem?, onde é o meu gabinete?

Estas eleições servem(iriam) para escolher o presidente do Futebol CLUBE do Porto, acionista maioritário da FCP Futebol SAD, ou lá como se chama aquilo. Reparem bem, não é ao contrário. Isto significa que o debate devia estar centrado nos sócios, na sua relação com o clube, o seu poder nas decisões. Por exemplo, em como as AG não voltarão a ser casos de polícia, em como a alienação de participações do clube em empresas deve ser validada em AG (claro que foi! ai não, espera, é uma empresa nova, e era o que faltava irmos agora perguntar a estes tansos ).

Pessoalmente, votaria muito depressa no candidato que se apresentasse verdadeiramente preocupado com o clube. Que me dissesse que procurou e encontrou profissionais de excelência para tratar das empresas e que a sua primeira e principal preocupação é o…Futebol Clube do Porto. Um que discutisse a forma como o clube se afastou da sua essência, de como voltaremos a poder ser, os que quisermos e a opção da pipoca é legítima e igualmente importante, parte da vida desta nossa paixão, mais do que bons - excelentes! - clientes. Eu quero um presidente que pense em mim e trate de arranjar um espetacular Diretor Desportivo que se encarregue de me dar as alegrias que exijo, porque ele tem que estar centrado no que o FCP será e não se a bola bate no poste. O meu presidente só cá vem ver os jogos e tratar de assuntos inadiáveis, no resto do tempo está em 2030 ou 40, a perceber como seremos relevantes e prósperos nessa altura. Quero um presidente que festeje como eu as vitórias: em amor, mas sem se dar ares de que são mais dele(s) do que minhas. Quero um presidente que saiba que os pavilhões não servem para ganhar votos, que há gente que lá passa mais tempo do que no campo da bola, não importa se são poucos ou se são menos. Quero um presidente que faça questão de manter o património do clube no clube, com aquele sentimento que os avós têm de que é melhor passar fome do que vender a casa de família.

Mas essas eleições não devem ser agora. Agora é a fase de entrevistas dos candidatos ao cargo de presidente da SAD. Aquele amigo que depois vai fazer tudo e decidir estupendamente sobre coisas de que nunca ouviu falar. E eu só queria que ele fosse um belo presidente do clube, com a sagacidade de escolher os melhores, a capacidade para os liderar e motivar, a competência para controlar os processos, a coragem para mudar sempre que julgue necessário e a força, a imensa força, para suportar a solidão de ser o número um, o que não tem par ou equipa, porque ele é o. Para o melhor e para o pior. E a esse, nunca deixaremos sozinho.

Também queria que anunciasse que as funções do senhor Alípio passavam a ser do presidente e que escolheria para mandar na SAD um tipo melhor do que ele alguma vez seria para a função.

Sim, era neste que eu votava. Next, please.