Ainda a época não tinha terminado e já os jornais desportivos anunciavam que o M. City, o M. United, o Real Madrid e o Atlético estavam na disputa por João Félix, um jovem e recente jogador da equipa A do Benfica.
As capas foram vendidas ao ritmo e em colaboração com a nação benfiquista e as notícias, repetidas até à exaustão, tornaram João Félix numa estrela para a nação benfiquista.
Mas antes de falar sobre a transferência de João Félix, importa dizer que olho para Félix como um jogador português com potencial que tem tudo para brilhar e para ter uma carreira de grande nível com impacto no futebol europeu.
Posto isto, importa também dizer que João Félix nasce no mundo futebolístico com uma diferença em relação a outros: O espetáculo mediático, por vezes provinciano e bacoco promovido pela máquina de comunicação do Benfica e alimentado pela generalidade da imprensa desportiva, tornou-o num jogador que ainda não é, com consequências potencialmente nefastas para a sua carreia.
Ora, não admira que juntando a qualidade que João Félix já demonstrou - pese embora apenas o tenha feito durante 6 meses e com alguns períodos de inconsistência – e a máquina de comunicação benfiquista, só faltava mesmo juntar o empresário que faz milagres: Jorge Mendes tomou conta do dossiê João Félix e conseguiu o impensável e, diga-se, o injustificável: vender um jogador de 19 anos, com 6 meses regulares pela equipa principal, por 126 milhões de euros.
Ao longo das últimas semanas várias foram as teorias sobre a transferência. Falou-se da possibilidade do Benfica adquirir jogadores ao Atlético, especulou-se sobre a hipótese do Benfica receber um valor fixo e outro valor variável e até se chegou a falar da possibilidade de o negócio não se concretizar.
Todavia, o negócio fez-se. E fez-se de acordo com aquilo que o Benfica tinha afirmado: Só venderia João Félix pela cláusula de rescisão e a pronto pagamento. Ora, com números desta dimensão e tendo por base os números e rendimento que João Félix apresentou durante 2019, sejamos justos. Devemos dar os parabéns a Jorge Mendes pela capacidade que tem de fazer negócios que parecem impossíveis. Com isto, ganhou Mendes, ganhou o Benfica e perdeu o Atlético e João Félix.
E Félix perde porque foi e será sujeito a uma pressão mediática que não beneficiará o seu crescimento enquanto jogador. O Benfica, alimentando a comunicação social, não procurou proteger o jogador e o crescimento do mesmo. Quando a porta se abriu, a pressão que colocou no negócio aumentou drasticamente e João Félix é hoje um estranho caso de quem ainda não provou nada (nem tinha de provar aos 19 anos e em 6 meses) mas que já é seguido para todo o lado, seja em férias, em treinos ou até na receção provinciana que teve na Câmara Municipal da Viseu.
Félix é um jogador promissor, um jovem educado, correto e respeitador. Com todas estas características tem potencial para se tornar num jogador de classe e uma referência para os mais novos. Espero sinceramente que isso se concretize, mas sejamos claros: O Benfica, à imagem do que tinha feito no passado com Bernardo Silva e Renato Sanches, não protegeu João Félix, não promoveu nem tentou a sua manutenção na equipa e apenas procurou o lucro imediato, desgastando a imagem do jogador na imprensa que lhe criou anticorpos sem que houvesse alguma atitude deste para isso se justificar. E isso não é o que se pretende num clube que se diz formador e preocupado com o futuro das seleções de Portugal.
Por fim, Bruno Fernandes. Bruno Fernandes foi considerado o melhor jogador da Liga pelo segundo ano consecutivo, bateu o recorde de Lampard e tornou-se no médio mais goleador de sempre na Europa, é titular da Seleção Nacional e foi decisivo nos títulos ganhos pelo Sporting esta época. Bruno Fernandes, para além disso, é (já) um jogador de classe mundial, com passagem pelo campeonato italiano e ainda um verdadeiro líder dentro de campo. Com 24 anos, é um jogador feito, maduro e com um preço consideravelmente inferior ao de Félix: entre 70 a 80 milhões de euros.
Pelo que parece (e espero que se confirme para o bem do Sporting) nenhum clube está disposto a atingir estes valores por Bruno Fernandes e isto deveria fazer-nos pensar no que é hoje o futebol mundial.
Afinal, o valor de um atleta já não é definido pela sua qualidade mas pela capacidade dos empresários envolvidos nos negócios.