Mika foi um dos protagonistas da janela de mercado de transferências no verão de 2016. O guarda-redes trocou o Boavista pelo Sunderland, na altura a competir na Premier League, numa transferência que esteve para não se concretizar devido a um impasse no último dia do defeso.
O vice-campeão do mundo ao serviço da Seleção Nacional de sub-20, em 2011, na Colômbia, passou um ano na sombra de Jordan Pickford, guardião inglês que, entretanto, saiu por um valor recorde para o Everton, e ainda não se conseguiu estrear em jogos oficiais com a camisola dos Black Cats.
O presente em Inglaterra, os convites para regressar a Portugal, a estreia na Liga e ainda passagem pelo Benfica. Estes e outros temas numa entrevista realizada pelo zerozero com o guarda-redes de 26 anos.
zerozero (ZZ) – Mika, cumpre-se agora um ano desde a sua mudança para Inglaterra. Que avaliação é que faz à experiência inglesa?
Mika Domingues (MD) - A experiência está a ser boa, com situações positivas e outras menos boas. Tudo faz parte do crescimento, tanto pessoal como profissional.
ZZ - Estava a conseguir uma regularidade competitiva muito interessante no Boavista e saiu. O que está a faltar para haver essa mesma regularidade no Sunderland?
MD - Penso que o que está a faltar para ter essa regularidade seja a falta de oportunidades. Ainda não surgiu a oportunidade de ser opção para poder mostrar o meu valor.
ZZ - Na baliza, o oponente era Jordan Pickford, que recentemente foi transferido por um valor recorde para o Everton. Como foi trabalhar com ele?
MD - Foi muito bom trabalhar com ele e também com o Vito Mannone. Aprendi bastante com eles, tal como já aprendi com outros muito bons guarda redes com quem trabalhei. Consegue-se aprender sempre e tirar o melhor de cada um.
ZZ – E existe algum tipo de arrependimento pela decisão tomada?
MD - Não estou arrependido da decisão que tomei, pois foi um realizar de um sonho. Qualquer jogador sonha em conseguir chegar à Premier League e tendo essa oportunidade aproveitei, tentando tirar o máximo partido disso.
ZZ - No passado também viveu uma situação semelhante, quando não jogava no Benfica e ainda não existia a equipa B [2011/12]. É preciso um grande estofo mental para conseguir manter a cabeça no lugar nestas alturas?
MD – Sim, já tinha passado por isso no Benfica e talvez me tenha ajudado a digerir a situação. Penso que para se ser guarda-redes é preciso ter um estofo mental muito grande, mais do que qualquer outra posição do campo.
ZZ – Olhando para essa altura, porque acha que as coisas não correram bem no Benfica? Faltou a oportunidade que tiveram Oblak ou Ederson, por exemplo?
MD - Penso que não correram bem porque não tive oportunidade de jogar, nem para a Taça tive oportunidade o que dificultou a minha afirmação depois de ter chegado de um excelente momento no Mundial de Sub-20.
ZZ - Em 2012/13, o Mika cruzou-se com o Bruno Varela na equipa B do Benfica. Esperava que ele um dia se fixasse na equipa principal?
MD - Tanto ele, como eu e outros guarda-redes, que por lá passámos, sonhámos em jogar e possivelmente ser o número 1 do Benfica. Ele neste momento conseguiu e fico muito feliz por ele. É mérito dele… É fruto do seu trabalho diário.
ZZ - 19 de março de 2011. Estreia na Liga e logo em Alvalade com um empate. Recorda-se desse dia?
MD – Recordo-me desse dia como se fosse ontem! Foi um dos melhores dias da minha ainda curta carreira. Foi um jogo perfeito, tal como sempre desejei e sonhei para minha estreia como profissional de futebol. Lutei muito para conseguir concretizar esse meu objetivo.
ZZ - O Boavista deu-lhe estabilidade na Liga. Como foram esses tempos no Bessa?
MD – Fui muito feliz no Bessa. Foi no Boavista que me afirmei e onde consegui aprender muito. Consegui fazer muitos jogos na Primeira Liga e agradeço muito ao Boavista por tudo o que me deu. Saí do Boavista, mas acompanho sempre que posso os jogos da equipa. Apesar de estar longe, sou um adepto da equipa. Foram muito bons os tempos no Boavista.
ZZ - Foi o guarda-redes titular durante a campanha de Portugal no Mundial sub-20 na Colômbia. Perderam na final. O que ficou desse jogo?
MD - O que ficou da final de sub-20? Ficou a faltar a vitória… Perdemos nos últimos minutos de desconto. Foi uma derrota difícil de digerir, mas ficou uma excelente campanha da nossa seleção e ficou um excelente mundial a nível pessoal do qual me orgulho muito.
ZZ - O Mika era há um ano um dos protagonistas do fecho do mercado. De que forma descreve a ansiedade que se vive nesses momentos?
MD - A ansiedade no último dia do mercado é terrível. Aconteceu-me o mesmo que está a acontecer ao Adrien. Sem saber o que poderá acontecer, sem ter o futuro definido, é complicado estar nessa situação.
ZZ - E neste mercado de transferências houve alguma abordagem de Portugal?
MD - Tive abordagens de Portugal neste mercado de transferências, mas tenho mais um ano de contrato com o Sunderland e a transferência só era possível através de uma venda. Sendo assim, a minha saída tornou-se impossível.
ZZ - Excluindo a parte desportiva, como é a vida em Inglaterra? Correu bem a adaptação?
MD - A vida em Inglaterra é um pouco diferente: a meteorologia é bastante diferente, faz muito mais frio do que em Portugal, o céu está sempre escuro e chove na maior parte dos dias. Em termos de gastronomia é bastante diferente, não tem tanta qualidade como os pratos portugueses, mas ao fim de uns meses consegui adaptar-me e tornou-se tudo mais fácil.
ZZ - Para um português em Inglaterra, o que sente mais falta?
MD – Família e amigos, sem dúvida.