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    O zerozero conversou com Davidson e Florent

    Marcus Edwards, a queda do génio soneca: «Não mostrava nos treinos vontade de jogar»

    E6

    13 de setembro de 2022, Alvalade. Com a inspiração que imortaliza os Deuses, Edwards desceu ao meio-campo e, com os pés, iniciou o recital. Rebelde, contra o clube que o formou, ludibriou Dier; inconformado, o corpulento inglês, em nova investida, foi reduzido à sua ineficácia e voltou ao chão. Edwards, empurrado pelo bruar das bancadas, fez cair novo adversário. Atormentados e desassossegados, os ingleses viam, do chão, Marcus seguir a sua epopeia, qual pintura renascentista. Tabela com Trincão. Um toque oportuno tirou todo o azul da frente: a distância entre a bola e a baliza era infinitamente inferior à magnitude da obra. No último beijo entre a chuteira e a bola, apaixonada pela relação até então, a mão de um francês impediu o golo de uma vida, mas não apagou 11 segundos de antologia, ao alcance, exclusivamente, de quem nasceu para encantar.

    Um lance que deixou marca na memória de qualquer adepto leonino e que o impediu de voltar a duvidar da qualidade de Marcus Edwards. Dessa, ninguém ousa questionar. Contudo, também há uma certeza: oscilante, o inglês consegue saltitar, como poucos, entre a meritória genialidade (recorde-se também, caro leitor, do lance do golo contra o Estrela, por exemplo) e o súbito desaparecimento.

    Agora, um período menos fantástico. Edwards tem contrastado com a forma (e que forma) do ataque leonino: não marca desde o primeiro jogo de 2024 e, daí, só assistiu uma vez. Números escassos. Inclusive, recentemente, Amorim abordou a situação e, além de dar uns dias de descanso ao inglês, admitiu «alguma displicência» (pode ler aqui as declarações completas). Desta forma, como não poderia deixar de ser, surgiram dúvidas: «como se comporta?», «como treina?», «como pode ser mais constante?», «onde pode chegar?».

    Mãos à obra.

    Estivemos à conversa com Florent Hanin e Davidson, ex-colegas de Edwards no Vitória SC. Ambos reforçaram a timidez do — na altura — recém-chegado a Portugal e, pelo meio, o avançado brasileiro confidenciou uma pequena história.

    E os chinelos, Marcus?

    «Ele tinha chegado ao clube e recebêmo-lo muito bem. Eu ainda não falava inglês, mas com uma linguagem mais corporal conseguimo-nos entender. Desejei-lhe as boas-vindas e notou-se que era um bom rapaz. No final do treino, estávamos juntos e fomos tomar banho. Eu vi que ele estava sem chinelos e arranjei-lhe uns. Ele, meio tímido, agradeceu. É das primeiras coisas que me lembro dele. Ele era muito novo, tinha acabado de chegar a um país novo e assim (com os chinelos) consegui criar uma relação com ele.»

    Marcus Edwards nos primeiros tempos de Vitória SC @Vítor Parente / Kapta+

    Foram uns primeiros dias complicados, ainda em Guimarães, para Marcus Edwards. Além dos chinelos (ou da falta deles), o jovem inglês foi escrutinado pelos novos colegas, que cedo reconheceram virtudes e defeitos ao jogador: «Desde o primeiro dia, vimos que era muito evoluído tecnicamente, mas tinha um grande problema: não queria defender. Só jogava quando tinha bola no pé. Por isso, no início, não foi aposta. Não fazia um esforço defensivo. Depois, começou a perceber que, se queria jogar, claro que tinha de fazer a diferença ofensivamente, mas também tinha de ajudar a equipa a defender», apontou Florent.

    «Há muitos jogadores que gostam mais de atacar e não cumprem tanto a questão defensiva. Vimos que ele tinha muita qualidade no um para um, muito potencial, mas de defender não gostava muito. O mister Ivo, na época, cobrava-lhe muito», aproveitou Davidson para reforçar a questão.

    Primeiro defende, colega

    Nesse seguimento — e com dois ex-colegas de equipa à mercê — levantou-se uma pertinente questão: «mais vale partilhar o relvado com um colega confiável em todos os momentos, mas menos virtuoso tecnicamente, ou com um pouco comprometido defensivamente, mas mais mágico e decisivo»? Florent e Davidson usaram caminhos diferentes, mas chegaram ao consenso. 

    qÉ preciso puxar por ele, estar sempre a conversar. Dali a um tempo não o vi assim, dessa forma tão soneca.
    Davidson

    «Como defesa, prefiro ter um para contar a defender, definitivamente. No início, é estranho ver um jogador assim: chega e não mostra nos treinos que tem vontade de jogar. Só queria brincar com a bola. Quando começou a jogar mesmo a sério, aí percebemos que podia ser uma mais-valia para a equipa, mas tínhamos de ser mais organizados quando não tínhamos bola», apontou o francês.

    «Um jogador que decida jogos faz muita diferença, claro. Contudo, o futebol moderno tem cada vez menos espaço para jogadores que não defendem. Se tiverem um jogador com essas características, que decide, mas não defende muito, não podem bem contar com ele, só para entrar na segunda parte ou assim. Por isso, com certeza que é melhor ter um jogador que cumpra mais, apesar de não ser tão diferenciado. Agora, claro que o ideal é ter o melhor dos dois mundos e houve uma altura, no Vitória SC, que ele conseguiu isso», relembrou o brasileiro.

    Mesmo ponto de partida, dois destinos

    No passado recente, Marcus Edwards não foi o único homem da frente a fazer a viagem de Guimarães a Lisboa. Também Rochinha, na altura capitão dos vimaranenses, chegou a vestir a verde e branca. O inglês chegou no inverno de 2021/22 e o português meia temporada depois. Contudo, os desfechos foram quase opostos. Rochinha contou pouco, foi emprestado e já saiu em definitivo. Edwards, com maior ou menor protagonismo, nunca andou tão perto da saída. Jogadores diferentes, claro, mas não tão diferentes, certamente, quanto a vida que levaram de leão ao peito. 

    Rochinha, com Edwards à mistura, a festejar um golo @Kapta+

    «O Rochinha é mesmo um amigo. Para mim, é um jogador de equipa: vai-se esforçar defensivamente. Não vai fazer assim uma grande diferença sozinho, mas sabemos que, coletivamente, vai estar sempre presente, vai ajudar sempre a equipa. O Marcus não precisa de ninguém para fazer uma jogada, enquanto o Rochinha precisa dos outros para estar bem no jogo, para ter bola e criar:», salientou o defesa esquerdo.

     «Acho que foi, sobretudo, uma questão de oportunidades e momentos. O Rochinha teve a concorrência de muitos jogadores e não teve grandes oportunidades. O Edwards chegou numa boa altura, conseguiu jogar e isso fez muita diferença», notou o avançado brasileiro.

    Um maestro, duas hipóteses: jogar ou não jogar?

    «Continuo a ver os jogos dos grandes e do Vitória SC. Sei que o Sporting tem avançados de enorme qualidade: o Gyökeres, o Trincão é muito bom, o Paulinho, que conheço, também é fortíssimo… Mas sim, o Edwards consegue, na sua melhor forma, ter um lugar claro no onze», analisou Florent. «Ele tem condições, claro, mas é o Sporting, tem muitos jogadores de grande nível e todos querem jogar. É difícil», admitiu Davidson.

    «Primeiro, é preciso firmar-se no onze do Sporting», afirmou o ex-companheiro de ataque e ninguém desmente. Contudo, a seleção, ainda que eventualmente distante, pode estar no horizonte de Marcus? 

    «Nos jogos da Champions mostrou-se em grande plano e é um sítio onde todos estão atentos, por isso, com trabalho, claro que consegue», continuou Davidson. «A seleção inglesa tem jogadores muito, muito bons, não sei... Se vai conseguir? Tudo depende dele. Se conseguir apagar o defeito de desaparecer do jogo, tem todas as condições para isso», finalizou, mais reticente, Florent.

    Contra o Tottenham, em Inglaterra, Marcus marcou o golo do Sporting @Getty /

    Inglaterra
    Marcus Edwards
    NomeMarcus Edwards
    Nascimento/Idade1998-12-03(25 anos)
    Nacionalidade
    Inglaterra
    Inglaterra
    Dupla Nacionalidade
    Chipre
    Chipre
    PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (2.º avançado)

    Fotografias(58)

    Liga Europa: Sporting CP x Atalanta BC

    Comentários

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    motivo:
    Edwards
    2024-03-29 06h46m por moumu
    Tem estado melhor o Trincão sinceramente!
    FL
    Must have
    2024-03-28 23h11m por fllcortez
    Beloumi do farense. . . não o peguem não. Este e o jota, despacham o edwards e o trincao. Guitane e roger para rodar. . .
    FL
    Tuga
    2024-03-28 22h46m por fllcortez
    A jogar em Portugal até o braga está melhor de extremos que o Sporting.
    Como não jogo fm os de fora não conheço, mas tem vários cá
    Guitane, cristo, jota, roger. . . até o emprestado ao leicester sentava edwards e trincao.
    Florent
    2024-03-28 22h09m por ricardocunha251
    Realmente, o florent é um grande exemplo!! 😂
    fllcortez
    2024-03-28 21h46m por TugaoDoSalpicao
    Diga um.
    FL
    Vender
    2024-03-28 21h26m por fllcortez
    Edwards e trincao têm de ser vendidos. O Sporting não pode ter dois extremos, os motores ofensivos da equipa a oscilarem como estes. Precisam de 20 jogos para se ver algo decente nos últimos 5. . . não faz sentido. O Sporting arranja muito melhor com facilidade.
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