Esta quarta-feira, o Benfica volta à ação na Liga dos Campeões, ao visitar a casa da Juventus, na 2ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Depois da vitória frente aos israelitas do Maccabi Haifa (2-0), as águias tentam agora dar um importante passo rumo à fase a eliminar em Turim, uma cidade com uma longa ligação histórica, pela positiva e pela negativa, aos encarnados.
Está mais viva na memória dos adeptos benfiquistas que foi precisamente no Juventus Stadium onde o Benfica perdeu recentemente a final da Liga Europa, em 2014, frente ao Sevilla (0-0), nas grande penalidades, mas não sem antes ter conseguido eliminar precisamente esta Vecchia Signora nas meias finais da prova.
Por aqui, a cidade de Turim pode trazer um sentimento agridoce para o Benfica, mas a ligação encarnada a esta cidade transalpina é bem mais antiga e por motivos ainda mais tristes e trágicos do que uma derrota europeia, não estivéssemos nós a falar da Tragédia de Superga.
A maioria dos adeptos de futebol associa automaticamente a cidade de Turim à Juventus, principalmente devido ao crescimento e conquistas deste clube nas últimas décadas. Afinal, estamos a falar de uma equipa que foi nove vezes seguidas campeã italiana este século. Contudo, antes da Juventus, era o seu rival Torino quem dominava o futebol transalpino na longínqua década de 40, antes e após a II Guerra Mundial.
A influência desta equipa do Torino era de tal ordem que, em 1947, num amigável com a Hungria, a seleção italiana, comandada na altura pelo histórico Vittorio Pozzo, bicampeão mundial, fez alinhar dez jogadores do Toro no onze inicial. Esta equipa do Torino era o orgulho dos adeptos e de Itália, a nível internacional, e apaixonava todos que o viam jogar. Inovou taticamente, começando a jogar num atacante 4x2x4, mais de dez anos antes do Brasil no Mundial de 1958. O seu futebol ofensivo e a liberdade de movimentos foram de tal maneira revolucionários que inspiraram, entre outros, o «Futebol Total» holandês dos anos setenta.
A 27 de fevereiro de 1949, a Itália defrontou Portugal em Génova, vencendo por 4-1, numa partida que, além de quatro dos cinco violinos, contava com o capitão da seleção e do Benfica, Francisco Ferreira, o Xico, o «Perfeito Capitão», que aproveitou a a oportunidade para convidar os jogadores do Torino a virem homenageá-lo na sua festa de despedida em Lisboa. Inicialmente, os dirigentes do emblema de Turim até rejeitaram o convite, mas acabaram por mudar de opinião e voaram para Lisboa para defrontar os encarnados.
A 3 de maio, 40 mil espetadores lotaram o Estádio Nacional no Jamor e viram o Benfica bater o Torino por 4x3. «Xico» Ferreira despedia-se do futebol, mas o que poucos imaginavam é que era também este o último jogo de uma equipa sem igual...
É que no dia seguinte, a comitiva do Torino deixou Lisboa rumo a Turim, com escala em Barcelona, e já depois disso foram informados das péssimas condições climatéricas - Chuva, ventos fortes e um fortíssimo nevoeiro baixo, que tornava impossível ver algo a mais de 40 metros de distância - que eram sentidas na sua cidade natal (Turim).
Perto das 17 horas locais, o avião que transportava a comitiva italiana colidiu com a basílica que ainda hoje está situada em Superga, a colina dominante sobre Turim, levando à morte de todas as 31 pessoas que estavam abordo da aeronave. Era a Tragédia de Superga...O choque e a comoção atravessaram a Itália. O Torino foi proclamado vencedor do campeonato e os adversários formaram onzes só com juniores para defrontar o Torino nas quatro jornadas que faltavam. As exéquias decorreram em Turim, na praça principal, onde mais de um milhão de pessoas seguiram os féretros. O choque deixou a Itália de tal maneira abalada que, no Mundial disputado no Brasil, um ano depois, a seleção italiana viajou para terras sul-americanas de barco.
Nos nossos dias, os restos do avião, entre eles uma hélice e um pneu, além de outras peças da fuselagem do aparelho, assim como malas de alguns jogadores, encontram-se conservadas num museu da cidade turinense. O Museu do Grande Torino e da «Lenda Grená», localizado na belíssima Villa Claretta Assandri di Grugliasco, foi inaugurado a 4 de maio de 2008, 59 anos passados da inesquecível tragédia que vitimou uma das maiores equipas de todos os tempos, para sempre ligada ao Benfica, o seu último adversário.
1-2 | ||
Arkadiusz Milik 4' | João Mário 43' (g.p.) David Neres 55' |