A recuperação tinha que começar por algum lado, a fava calhou ao Rio Ave. Sem deslumbrar, nem pouco mais ou menos, o Benfica conquistou uma vitória importante em Vila do Conde, por 1x2, e alcançou o FC Porto na liderança do campeonato.
Num jogo marcado pelas duas expulsões do Rio Ave, nem assim o Benfica foi capaz de voltar a ter a tal criatividade e qualidade que marcou a segunda volta de 2018/2019. Mas para a história ficam os golos de Seferovic e de Weigl que tanta influência podem ter na luta pelo título. E não deixa de ser curioso que tenha sido de cabeça o momento decisivo do alemão, tal a falta de cérebro demonstrada pelo conjunto encarnado durante uma parte importante do jogo.
Apesar da crise de resultados, bem profunda, por sinal, pois o Benfica não está, de todo, habituado a ganhar um jogo em 10, o campeão nacional entrou em Vila do Conde afirmativo. A fazer lembrar os primeiros minutos de Portimão, mas com ainda mais pressão e objetividade atacante.
Não foi a primeira vez que Lage decidiu juntar Gabriel a Taarabt e a Weigl na zona intermediária. A diferença é que desta vez até pareceu ser mais um 4x3x3, tal a proximidade do alemão face aos centrais e do brasileiro face a Adel. O antigo jogador do Dortmund recuava, formava uma linha de três, permitia as subidas dos laterais, especialmente de Nuno Tavares. Sem bola, a pressão era muita e o Rio Ave não parecia ter soluções para fazer fluir a sua construção.
Aos poucos, a equipa de Carlos Carvalhal foi descobrindo os espaços para impor a sua forma de jogar e tirar o conforto ao Benfica. E, então, sentiu-se e muito a má fase que os encarnados vivem. As dobras começaram a chegar tarde, a equipa partia-se com mais facilidade, alguns jogadores entravam em desespero perante os constantes toques dos vilacondenses no meio-campo de Vlachodimos.
Foi mais ou menos com este cenário que o primeiro golo apareceu, com a bola parada a trair mais uma vez o campeão nacional. E como se a falta de agressividade defensiva nesse tipo de lances não bastasse, Dyego Sousa decidiu aparecer como protagonista numa das áreas, ainda que na errada. O toque do internacional português foi para o sítio errado e Taremi voltou a provar que é um avançado de bons pés e também de grande instinto.
O cenário já não estava famoso para o Benfica e pior ficou com o golo. O Rio Ave foi muito melhor equipa durante uma dezena de minutos, ameaçou o segundo, que só não apareceu devido a um desvio de Nuno Tavares para fora, mas quem marcou foi o Benfica, num lance de absoluta genialidade de Taarabt. O marroquino, numa altura em que o coletivo não funcionava, inventou com um grande drible, mas o VAR, depois de muito rever, encontrou ilegalidade no desvio (ligeiro) de Dyego e na finalização de Rafa. E não houve tempo para mais...
Nesta altura da época, o Benfica parece estar para boas entradas em campo. Apesar do final cinzento de primeira parte, os encarnados entraram novamente agressivos e dominadores. A pressão voltou a ser asfixiante, a capacidade para deixar o Rio Ave junto à sua área deixou as águias mais confortáveis e as oportunidades apareceram com naturalidade. Seferovic, recém-entrado, atirou à barra e assistiu Rafa para uma bela mancha de Kieszek.
Quando o golo apareceu, o Benfica já jogava em superioridade numérica, depois de um segundo cartão amarelo tão justo como escusado de Al Musrati. A inferioridade seria sempre um problema grave para Carlos Carvalhal e as dores de cabeça aumentaram depois da expulsão de Nuno Santos, consumada após imagens do VAR. Um lance disparatado de um talento que borrou a pintura com um único momento de desconcentração.
A correr contra o tempo, o campeão nacional apostou tudo no ataque. Lage juntou Chiquinho ao quarteto mais atacante e o Benfica correu, pressionou, cruzou muitas bolas, algumas delas mostraram mais coração do que cabeça, e o golo apareceu mesmo, por intermédio de Weigl. E a solidariedade defensiva do Rio Ave, bem patente no esforço das unidades da frente, caiu por terra...
O Benfica congelou o jogo e três pontos importantes. Veremos é se a equipa de Bruno Lage vai aproveitar o balanço para aumentar a sua qualidade exibicional. Porque, enquanto estavam 11 contra 11, o campeão que quer chegar ao bi voltou a demonstrar as fragilidade dos últimos tempos...
Apitou demasiado no relvado de Vila do Conde. Devia ter mostrado logo vermelho a Nuno Santos, mas precisou das imagens do VAR. Esteve bem no segundo amarelo a Al Musrati e ficam muitas dúvidas no lance de Ferro. O português tocou com o braço na bola e o árbitro podia ter assinalado grande penalidade.
Lançado ao intervalo, o suíço, que tantas vezes tem desiludido, disse presente ao seu treinador. Atirou uma bola à barra, jogou bem fora da área, assistiu Rafa para uma das melhores oportunidades e marcou.
Nuno Santos e Al Musrati, cada um ao seu estilo, têm estado em destaque nesta época do Rio Ave. Os dois momentos de desconcentração, contudo, colocaram o cheque as exibições da dupla. O lance de Nuno Santos é ainda mais evidente e despropositado...