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    Treinador português em exclusivo ao zerozero

    Pedro Martins: «Recusei ir para Inglaterra porque o projeto não era realístico»

    A poucos metros do Mundial do Catar, Pedro Martins abre a porta de casa em Doha e recebe o zerozero. A tecnologia permite viajar mais de sete mil quilómetros em escassos segundos, a era digital cria a proximidade possível para uma conversa de revelações, desabafos, até algumas confissões. É um dos melhores treinadores portugueses da atualidade, um homem com provas dadas no Marítimo, no Vitória SC e, de forma muito especial, no Olympiacos. Segue-se o Al-Gharafa, ali a paredes meias com os jogos do Campeonato do Mundo. Uma boa coincidência.  
     

                                                                                                                                                               PARTE I

    Na primeira parte da entrevista, Pedro Martins fala da recusa recente dada a um convite dos responsáveis do Hull City. O sonho adiado de trabalhar em Inglaterra e a opção pelo Médio Oriente, aos 52 anos. A conversa passa forçosamente por este Mundial, mas também pelos Mundiais da memória do treinador natural de Santa Maria da Feira. 

    zerozero | Foi pública a sua viagem a Inglaterra para reunir com os responsáveis do Hull City. Numa entrevista anterior confessara-nos ter a ambição de trabalhar nesse país. O que o levou a recusar essa possibilidade?

    Pedro Martins | Foi uma decisão muito realista e consciente. Conheci o presidente e aquelas pessoas são extraordinárias, têm uma enorme ambição para o clube. Mas aquelas exigências que estavam a fazer, e que eram as suas aspirações para aquilo que eles entendiam, achei que não eram realistas. Portanto, nesse momento, não pude abraçar aquele projeto, um projeto pelo qual achei não ter condições para lutar e que passaria pela [luta da] subida à Premier League. Recusei-o por isso, não era realístico. Esse foi o fator fundamental. Não aceitei e acabei por tomar outra opção.

    zz | Em relação ao Catar, ao país, o que nos pode dizer? Estamos tão perto do Mundial, que retrato social faz daquilo que vê no seu dia-a-dia?

    PM | As pessoas foram outro motivo decisivo para escolher o mundo árabe e o Catar. De facto, gostaria de conhecer novas realidades. Dou uma enorme importância à valorização pessoal a todos os níveis, ao fugir da minha zona de conforto, entrar em locais culturalmente diferentes. Isto vai obrigar-nos a uma enorme adaptação e a dar força a esse crescimento, nesse aspeto não estou arrependido. De facto, obriga-me a outras coisas a que eu já não estava habituado. Sinto-me muito, muito desafiado. Por que quero sair da minha zona de conforto? Porque estou numa situação que não é a minha realidade, mas quero fazer parte dela. O Catar é um país extremamente moderno. Nestes 15 dias abri mais aplicações da Apple do que nos dez últimos anos, porque é um país muito virado para isso [risos]. Há uma segurança extraordinária, absoluta. Tudo o que se tem falado sobre o país é um pouco exagerado. Vive-se bem, andamos à vontade, não há uma presença fundamentalista ou um conceito fundamentalista de várias situações, como se diz. Têm sido momentos muito, muito agradáveis, mesmo muito agradáveis. Doha é uma cidade muito boa para se viver.

    Pedro Martins
    4 títulos oficiais

    zz | O investimento faraónico neste Mundial tem sido muito falado. Mas, neste caso, não nos referimos apenas a estádios. Há estradas, aeroportos, é quase um país novo. Sente-se isso?

    PM | Só vendo e vivendo isto é que somos capazes de perceber precisamente isso. Não tem nada a ver com a Europa. Há muitos prédios novos, com muitos andares, avenidas largas, mas a cidade consegue ser tranquila. Mais importante do que isso, Doha é extremamente segura.

    zz | Por aquilo que tem visto, há condições no Catar para vermos um Mundial com condições, com festa, com boa atmosfera?

    PM | Eu espero bem que sim. O meu único receio é, de facto, haver tantos jogos na mesma cidade, com grande proximidade. Não sei como será.

    zz | Os adeptos adversários andarão perto uns dos outros.

    PM | Espero que seja um grande Mundial e que tudo resulte. Jogar em novembro e dezembro torna tudo diferente. As seleções europeias estão numa fase com um índice físico muito elevado e, portanto, acredito que este é um fator fulcral. Estão no auge da sua performance. E há outro aspeto importante: o Catar tem estádios e relvados absolutamente extraordinários. Não sei se existem relvados assim em mais algum lugar do mundo. Isso permite que o jogador também desenvolva o que é melhor, o que tem de melhor de si.

    zz | Imagina-se a viver um Mundial por dentro, na pele de selecionador nacional?

    PM | Tudo é possível. Da mesma forma que eu disse que não esperava vir tão cedo para o mercado árabe, digo que não espero ser selecionador para já. Quem for selecionador agora, pode estar a treinar um clube daqui a algum tempo. Isto quer dizer o quê? Aquele preconceito, aquela imagem que tínhamos, de que a partir do momento em que treinamos uma seleção só estamos vocacionados para seleções, já não existe. A qualidade e a competência do treinador é vista tanto nos clubes como nas seleções. E, portanto, se surgir um projeto interessante de boas seleções, eu estarei aqui, pronto para eles. É um facto que este tipo de eventos fica marcado na carreira de toda a gente que com eles se envolve diretamente.

    zz | Como era o Pedro em criança na altura dos Mundiais? Colecionava cromos, tinha ídolos nas suas cadernetas?

    PM | É engraçado, ainda agora falava com os meus assistentes, que têm filhos pequenos, sobre a febre da coleção dos cromos das cadernetas. Comecei a falar disso porque eu era colecionador, doido por cromos, e acabei por perder tudo o que tinha. As cadernetas desapareceram da casa da minha mãe e é algo que lamento até hoje. Adorava ter as minhas cadernetas e viver as memórias que elas me trazem. E eu tinha mesmo muitas. Sabe bem folhear as cadernetas e recordar todas aquelas personagens, rever o Maradona… Lembro-me bem de todos os Mundiais, mas aquele Brasil de 1982 foi a melhor equipa que vi a jogar. A forma como perdeu contra a Itália teve, acredito, efeito na forma como o futebol se desenvolveu. E recordo-me também de uma grande seleção da União Soviética, finalista no Euro-88.

    zz | É curioso o Pedro falar sobre o Brasil-82. Ainda há poucas semanas entrevistámos o Júnior, lateral esquerdo dessa equipa, e ele confessava-nos que ainda não ultrapassara essa desilusão.

    PM | Acredito piamente nisso. Eu nasci em 1970, já não vivi a nossa seleção no Mundial de 1966, e por isso tive o Brasil como equipa favorita até ver Portugal em 1986, no México. E porquê? Pela proximidade cultural connosco e pela qualidade absurda dessa equipa de 82.

    Portugal
    Pedro Martins
    NomePedro Rui da Mota Vieira Martins
    Nascimento/Idade1970-07-17(53 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    FunçãoTreinador

    Fotografias(100)

    Comentários

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    motivo:
    'projeto'
    2022-11-22 12h49m por sergiobisonte
    para quem nao sabe. . a palavra 'projeto' no futebol, significa ordenado

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