Ivan Almeida é um dos melhores jogadores que passou pelo campeonato português num passado recente. Eleito MVP da fase regular em 2013 ao serviço do Vitória SC, numa época em que conquistou ainda a Taça de Portugal, o extremo luso-cabo-verdiano já passou por algumas das principais ligas europeias.
Numa entrevista zerozero dividida em três partes, Ivan recordou e explicou todos os passos da sua carreira, desde a formação nos Estados Unidos, à experiência em Portugal, passando ainda por França, Polónia, Estónia, República Checa e uma recente e curta passagem pelo Galitos.
Na segunda parte da entrevista, Ivan falou da saída de Portugal para o campeonato francês, das várias experiências que teve pela Europa, com destaque para uma época de sonho na Polónia, e ainda de como uma lesão o impediu de chegar à EuroLiga.
Recorde a parte I – MVP aos 24 anos e líder na conquista da Taça: «Tínhamos um grupo de jogadores de outro nível em Portugal»
ZZ: Depois de uma grande temporada em Portugal, seguiu-se o Lille da segunda divisão francesa. Porquê o Lille?
Não foi muito bem uma decisão minha, só foi porque assinei. Tinha assinado por uma agência nova espanhola e no plano que eles tinham traçado achavam que ir para França era a melhor opção. Eu tinha ofertas de uma equipa da ACB - o San Sebastien -, mas eu não ia ser o jogador principal. Ia sair do banco e a minha agência não queria esse papel para mim, queriam que eu jogasse mais e que tivesse um papel principal. Em Lille tive também duas épocas fabulosas. Na segunda fui o melhor marcador do campeonato, conheci o presidente do clube, com quem mantenho relação - já foi a minha casa em Cabo Verde, eu já fiquei em casa dele e é sempre ele quem trata das minhas lesões [é médico].
ZZ: Tu coincides com o John Fields (jogador da Oliveirense) no Lille, certo?
Sim, ele é um grande amigo meu! No meu primeiro ano passámos muitas noites juntos, é um gajo mesmo porreiro. Não tive oportunidade de estar com ele em Portugal, mas falamos por mensagens e mantemos sempre contacto.
ZZ: Consegues depois chegar ao escalão principal em França. Como é que foi jogar na Pro-A?
Cheguei à Pro-A num momento importante para mim. Foi depois de uma lesão no pulso direito e de ter sido operado ao ligamento da mão esquerda. Cheguei em janeiro e os médicos só previam o meu regresso para março. Foi algo forçado e ainda estava em reabilitação. A mim correu-me muito bem, tendo em conta a lesão que eu tive e as dificuldades que me provocou, porque eu penetrava muito pelo lado esquerdo e perdi destreza nessa mão, o que me obrigou a ajustar o meu jogo em plena época e não estava a 100%. Ainda assim, a época correu bem, tive números interessantes e foi a primeira vez que joguei num dos principais campeonatos da europa. No verão, decidi que já estava na altura de deixar França…já tinha passado lá quatro anos e eu queria algo novo, outro desafio e decidi ir para a Polónia.
ZZ: Tinhas outras opções?
Nem me estou a lembrar. A época correu tão bem que o que aconteceu nesse verão já nem interessava. Fui campeão, fui MVP da fase regular...
ZZ: Na Polónia foste bicampeão, MVP da fase regular, MVP das finais , vencedor e MVP da Supertaça...
Sim, eu cheguei, tivemos logo o jogo da Supertaça e eu fui MVP. Começou logo tudo a correr muito bem. Foi uma bola de neve de momentos positivos.
ZZ: Porquê deixar a Polónia quando estava tudo a correr tão bem?
Eu e o meu agente da altura tivemos problemas nas negociações com o clube e depois quando traçamos o plano, decidimos que o objetivo era jogar a Liga VTB, jogar bem e depois sair a meia da época. O plano estava a correr bem só que tive uma fratura no pé direito. Antes dessa fratura, o meu agente estava a falar com o Darussafaka, da Turquia, que estava na EuroLiga, mas depois tive a lesão…Foi Toney Douglas para lá e eu fui para Cabo Verde recuperar. Passei o mês de outubro a jogar com essa fratura, que passou a multifratura e tive de ir até França para ser diagnosticado.
ZZ: Deve ter sido uma fase complicada para ti...
Sim, ver tudo a cair…Tinha lutado com muita dificuldade e estava tudo a correr bem na VTB…Era um dos melhores marcadores da prova atrás do Alexey Shved e tinha média de 22 ou 23 pontos por jogo na segunda melhor liga da Europa, que é a liga russa, e depois tudo se desmoronou com a lesão. Recuperei bem com o meu fisioterapeuta em Cabo Verde, felizmente não foi preciso cirurgia e já estava pronto para jogar antes do final de janeiro. Não voltei para a Estónia porque quando liguei para a equipa a dizer que estava nos momentos finais da recuperação - já treinava e já jogava -, eles disseram que mesmo que voltasse, não ia voltar a jogar porque a lesão era muito grave e ia voltar a lesionar-me. Na altura eu tinha salários em atraso e então decidi rescindir contrato em conjunto com o meu agente.
ZZ: Terminou da pior maneira…
ZZ: Depois veio um novo desafio na República Checa. Como é que correu?
Sim, mas antes disso...eu acho que ninguém soube, mas joguei os play-offs na Polónia com um ankle empaegment [lesão no tornozelo] no pé esquerdo. A fratura tinha sido no pé direito e agora tinha muitas dores no pé esquerdo com o problema no tornozelo. Durante os play-offs já nem treinava, só fazia os jogos e fui MVP das finais. Fiz a cirurgia no final da época, correu tudo bem, passei o verão inteiro a treinar com o meu irmão e depois apareceu essa oportunidade de ir para Nymburk, na República Checa. Só que quando cheguei lá o treinador não cumpriu com aquilo que me tinha dito que ia ser o meu papel e acabamos por rescindir contrato.
ZZ: Apesar de não ter corrido como esperavas, foi no Nymburk que te estreaste na Liga dos Campeões. Foi um momento importante para ti?
Nunca foi um objetivo exato. A oportunidade apareceu e eu quis tentar perceber como é que era e aproveitar, mas já tinha jogado na VTB, que é uma Liga muito mais física do que a Liga dos Campeões e já tinha a experiência de defrontar jogadores da EuroLiga.