Colada à fronteira com a Bélgica, a quarta maior metrópole de França, dista poucos quilómetros da ponta superior do hexágono (1). Cidade histórica, com direito a mito fundador (2), ##Lille é a capital da região Nord-Pas de Calais.
Situada perto do Canal da Mancha, ##Lille seria libertada na Segunda Guerra Mundial pouco tempo depois do desembarque aliado nas costas da Normandia. Por tal modo, não estranha que em Setembro de 1944, já com a situação completamente normalizada e o perigo de um contra-ataque alemão afastado, os adeptos de futebol da cidade puderam voltar a dedicar-se à sua antiga paixão.
As dificuldades económicas, a falta de jogadores, pois muitos dos antigos praticantes tinham perdido a vida ou ficado irremediavelmente incapacitados com o conflito, a dificuldade em dinamizar os clubes existentes, levou os sócios dos dois principais clubes da cidade a resolver fundi-los. Acabavam o Olympique Lillois e o ##Sporting Club Fivois, nascia o Lille Olympique ##Sporting Club (LOSC), corria o dia 23 de Setembro.
A década dourada
Próximo da Mancha, a influência inglesa fez-se logo sentir no estilo de jogo do LOSC. Em poucos anos, o recente clube tornou-se num membro de pleno direito da elite do futebol gaulês. Campeões logo em 1946, os «cães» (3) arreganhavam os dentes e mostravam à concorrência ao que vinham.
Numa década apenas, o Lille ganhou duas ligas e foi vice campeão por quatro vezes, enquanto na Taça de França, chegou a cinco finais consecutivas, conseguindo mesmo vencer cinco finais em sete presenças, um registo impressionante para um período de dez anos...
Entre os feitos da época conta-se a presença na final da Taça Latina em 1951, com os lillois a eliminarem o Sporting por 6x4 após segundo jogo (4). Na final, cansados do duplo embate com os portugueses, o LOSC seria presa fácil do AC Milan, que a jogar em casa, bateu os franceses por um claro 5x0.
A queda
No mesmo ano em que em Paris o Stade de Reims e o Real Madrid disputavam a primeira final da Taça dos Campeões Europeus, o LOSC era despromovido pela primeira vez na sua curta história.
Os adeptos e jogadores do clube pensavam que a época de 1955/56 teria sido só um acidente, mas os anos seguintes confirmariam que o outrora todo-poderoso LOSC entrara em acelerado declínio...
A crise instalou-se e o Lille passou de clube topo, para um clube sem estatuto, que lutava pela sobrevivência. No fim dos anos 60, as sucessivas crises e as dificuldades económicas levaram ao abandono do estatuto profissional. De grande potência conquistadora a clube amador a penar pelos escalões secundários em apenas uma década, parecia um cenário inacreditável para quem presenciara tanta vitória e conquista do onze comandado por Cheuva. Mas a verdade é que les dogues haviam descido aos infernos...
Lento renascer
Em Julho de 1980 o clube torna-se numa société anonyme d'économie mixte sportive (SAESMS), onde a autarquia de Lille se torna accionista maioritária da sociedade.
A reorganização do clube levou o seu tempo e só em 1990 é que les dogues voltaram aos triunfos, conquistando a D2 e subindo novamente ao primeiro escalão. O título de campeão da segunda divisão em 1999/00 era o quinto da sua história (5) e abriu uma nova era na história dos Nordistes.
Logo no ano de regresso ao primeiro escalão, o LOSC qualificou-se pela primeira vez na sua história para as competições europeias, garantindo uma vaga na Liga dos Campeões.
Estruturas e vitórias
Em 2007 era inaugurado o complexo desportivo de Domaine de Luchin, que antecedeu em cinco anos a inauguração do Grand Stade Pierre-Maurroy, a atual casa do clube nortenho.
Rudi Garcia liderou o clube para uma histórica época em 2010/11, comandando os dogues na conquista de uma histórica dobradinha, 56 anos depois do clube ter conquistado um grande troféu. Nessa histórica equipa do Lille, brilhavam entre outros Cabayé, Gervinho e o miúdo belga, Eden Hazard.
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(1) Essa honra de se ser a ponta superior do Hexágono pertencerá a Bray-Dunes, uma pequena localidade na fronteira com a Bélgica, a pouco mais de cinco quilómetros a nordeste de Dunquerque.
(2) Por volta do ano 620 EC, Salvaert, o príncipe de Dijon, viajava para Inglaterra na companhia da sua esposa Hermengarda, que estava gestante. Enquanto viajavam pela Flandres foram vitimas de uma armadilha do Conde Finaert, um nobre local. Finaert matou o príncipe e os seus homens, enquanto que Hermengarda refugiou-se nas profundezas de uma floresta próxima, fugindo dos esbirros do ímpio Finaert. Segundo a lenda, parou junto a uma fonte, onde lhe apareceu a Virgem a prometer-lhe proteção. Hermengarda encontrou então um eremita, que lhe deu guarida e pôde finalmente ter o filho. Mas acossada pelos homens de Finaert, a princesa teve de fugir, deixando o menino para trás. Este, acolhido pelo eremita, seria alimentado pelo leite de uma veado fêmea e mais tarde seria batizado Liderico. O rapaz cresceria para descobrir a trágica história dos seus pais e encontrar o malvado Finaert que matou em duelo, assim vigando a honra de seu pai. O Rei de França fê-lo conde, deu-lhe feudo e castelo. Agradecido, Liderico fundou uma cidade nas proximidades do local onde tinha nascido e onde a sua família havia sido atacada. Essa cidade hoje é conhecida como ##Lille. Os seus descendentes governariam a região como Condes da Flandres e a sua lenda ficaria para sempre ligada à cidade.
(3) Os adeptos e jogadores do LOSC são conhecidos como les dogues, uma raça canina que em Portugal é conhecida ora como dogue alemão, ora como grand danois.
(4) No primeiro jogo, lillois e leões haviam empatado a uma bola.
(5) 1963–64, 1970–71 1973–74, 1977–78, 1999–00.