Qualidade, adaptabilidade e muita união na origem do 30º título de campeão nacional na história do FC Porto, construído com grande categoria e assinado em pleno Estádio da Luz, na penúltima jornada.
Na quinta temporada como treinador do clube que representara também como jogador, Sérgio Conceição agigantou-se e conquistou o troféu pela terceira vez, com o estatuto de melhor ataque, melhor defesa, e uma marca nunca antes atingida: 91 pontos. Um dragão simplesmente demolidor.
À entrada para a temporada de 2021/22, poucos eram capazes de prever o campeão nacional. Não faltavam opiniões, é certo, mas nenhuma justificação era convincente o suficiente quando pelo menos três equipas apresentavam argumentos semelhantes: um Sporting campeão em título, um Benfica comandado por Jorge Jesus e um FC Porto com um plantel coeso e liderado por uma das mais competitivas personalidades na história do desporto português.
Previsão realista era a de uma edição equilibrada, e assim foi durante muito tempo, tanto que à 12ª jornada ainda havia apenas um ponto entre líder e terceiro classificado. Nessa altura o dragão já liderava (em igualdade com o Sporting) e quando à 17ª jornada viu o leão perder nos Açores, isolando-se pela primeira vez, nunca mais olhou para trás.
Foi mais um hino à competência azul e branca e à adaptabilidade das equipas de Sérgio Conceição, depois de um verão em que Danilo e Marega deixaram o clube e permitiram (ou obrigaram) a implementação de um futebol mais tecnicista. Otávio e Mehdi Taremi seguiram como grandes figuras, mas quem se agigantou foi Luis Díaz, que na terceira temporada em Portugal explodiu de vez.
Essa saída gerou uma onda de pessimismo entre os adeptos, que não compreendiam o ato de gestão - chegou Galeno do SC Braga para a posição -, mas acabou por não afetar os objetivos da equipa. Vitinha assumiu a titularidade com exibições de classe mundial, depois de um empréstimo falhado em Inglaterra e Fábio Vieira afirmou-se como um dos mais luxuosos suplentes que a Primeira Liga já viu, acumulando golos e assistências a cada oportunidade.
Mesmo sem o artilheiro da primeira volta, não houve seca de golos nem de resultados. Taremi e Evanilson deram conta do recado, semana após semana, e levaram a equipa a bom porto, num ano em que houve dobradinha (vitória sobre o Tondela na final da Taça) e o título voltou a ser celebrado em pleno Estádio da Luz, com o patinho feio Zaidu a repetir a história de 11 anos antes com um golo aos 90+4.
Se o FC Porto foi tão demolidor e bateu o recorde de pontos, como é que só celebrou o título na penúltima jornada? A resposta prende-se na competência do Sporting, que manteve a pressão e conseguiu o mesmo número de pontos que na temporada anterior, na qual se sagrara campeão.
Rúben Amorim lidou bem com o maior número de jogos num ano em que já teve competições europeias e manteve a equipa nos eixos. João Palhinha e Matheus Nunes formavam uma dupla de seleção nacional, enquanto Pedro Gonçalves passava a ter no ataque a ajuda de Pablo Sarabia, um internacional espanhol que chegou a Alvalade num empréstimo de última hora a servir de bónus no negócio de Nuno Mendes para o PSG, fez-se figura e contribuiu com muitos golos, incluindo o que deu a conquista da Taça da Liga em janeiro, frente ao Benfica.
Para esse Benfica as coisas não correram de feição. Jorge Jesus teve direito a uma segunda temporada na nova passagem pelo clube, mas continuou errático por isso nem sequer durou até ao fim da mesma, num ano em que os encarnados, novamente terceiros classificados, tiveram em Darwin Núñez a grande silver lining. O ponta de lança uruguaio explodiu, foi o melhor marcador da Liga, e registou exibições de luxo na Liga dos Campeões, competição em que a águia esteve melhor e por isso só caiu nos quartos de final.
A grande sensação foi, de resto, um Gil Vicente de inegável talento. A equipa então comandada por Ricardo Soares terminou em quinto lugar, com acesso à Europa, e entusiasmou a Liga com vários nomes talentosos que viriam a ter grande relevância no futebol português ou até lá fora.
Bem mais abaixo na tabela estava a B SAD, que se despediu do principal escalão depois de uma estadia controversa ao terminar em último lugar, com uma evidente falta de recursos em relação a outros emblemas. Também o CD Tondela se despediu de forma agridoce, ao terminar em penúltimo no mesmo ano em que, pela primeira vez na sua história, chegou à final da Taça de Portugal.
Enquanto os recém-promovidos Vizela e Arouca se salvaram da despromoção com alguma dificuldade, o Moreirense terminou em 16º lugar e foi obrigado a disputar a manutenção no play-off frente ao terceiro classificado da II Liga. Essa foi uma batalha que os cónegos perderam, a duas mãos, frente ao GD Chaves.