Jornada a jornada, o campeonato aproxima-se do final e cada jogo traz em si uma maior carga de responsabilidade, individual e coletiva. Os erros pagam-se mais caro. Os golos e as vitórias são festejados de forma ainda mais entusiástica. Cada momento é mais intenso e, na sequência disso, o lado emocional do jogo é exponenciado.
Nesta fase da época, os resultados significam classificações possíveis ou impossíveis. Nos jogos entre adversários diretos, a tensão aumenta. O FC Porto ainda vai à Luz, o Sporting ainda vai a Braga, o Moreirense ainda vai ao Nacional, o Estoril ainda joga com os dois últimos… Ou seja, se cada jogo a valer três pontos traz uma carga emocional, os jogos que valem, na diferença possível entre os cenários de derrota ou vitória um total de seis pontos, vão trazer muito mais. Isto vai aquecer ainda mais!
Habitualmente, quer nas antevisões quer após os jogos, ouvimos atletas e treinadores referir palavras-chave como segurança, confiança, serenidade, instabilidade, tranquilidade, entre outras, todas elas possíveis de associar a comportamentos, individuais e coletivos, presentes no treino e no jogo, diretamente ligados ao fator emocional. Os exemplos são vários, basta ver alguns jogos com atenção, escutar devidamente as declarações dos intervenientes, analisar as suas ações e reações.
Esta constatação leva-me a perguntar: o que estão a fazer os nossos clubes a este nível? Como se preparam os seus dirigentes e técnicos para lidar com estes momentos? E as equipas, como tratam este tema? Faz parte dos microciclos uma atenção especial a esta componente? Individualmente, como é que os jogadores lidam com estas emoções?
Há um conceito que, embora teórico, tem uma grande importância prática no jogo: chama-se Inteligência Emocional. Daniel Goleman, americano, psicólogo, escritor, professor e colunista no The New York Times, desenvolveu em 1995 este conceito num livro com o mesmo nome que veio mudar a conceção de inteligência e abrir novos horizontes na abordagem das emoções e do seu impacto no nosso quotidiano.
A Inteligência Emocional é, na sua essência, a capacidade de as pessoas dominarem estas quatro competências:
1- Autoconhecimento - identificarem em diferentes momentos as suas emoções;
2- Autocontrolo – capacidade de alterar em si mesmo esses estados emocionais;
3- Empatia - compreender as emoções dos outros sem que estes o verbalizem diretamente;
4- Gestão das relações – intervir para ajudar os outros a mudarem os seus estados emocionais;
Este conceito tem muito para transmitir ao nosso futebol e aos seus intervenientes. Algumas das conclusões do trabalho desenvolvido nos últimos 20 anos por Daniel Goleman podem ser ensinadas, treinadas e aplicadas, de forma integrada. Contudo, nenhum dirigente ou treinador precisa de ser especialista no tema para poder fazê-lo, muitos já o fazem de forma intuitiva, com base na sua formação e experiência. Acredito é que, com o apoio de especialistas que, em primeiro lugar, preparam os treinadores e respetivas equipas técnicas e, depois, apoiam na preparação das equipas e de alguns atletas em particular, conseguem melhores resultados.
Não se trata com isto de racionalizar todo o processo emocional ou de anular as emoções. Trata-se sim de as compreender. Olhando para o jogo, interpretar e compreender que estímulos e emoções estão presentes e o impacto, positivo e negativo, que têm nos treinadores, nas equipas, nos jogadores.
A emoção é parte do jogo, sempre presente do balneário à bancada, do relvado até ao sofá. Como diz Daniel Goleman, “sentir as emoções é o que torna a nossa vida rica”. São as emoções que tornam o jogo rico e incomparável.