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    Toca Redondo
    Diogo Vedes
    2016/12/16
    E1
    Os pescadores da costa colombiana descreveram e batizaram a atividade do magnífico escritor uruguaio Eduardo Galeano como “sentipensar as coisas”. Diziam que para ser linguagem tinha que ser verdadeiro. O futebol para ser verdadeiro, tem que ser jogo. Tem de ser sentido! No meio deste divórcio futebolístico entre passado e presente, surge este espaço, para tentar aproximar o que jamais poderá ser separado: emoção e razão. Nesta coluna convido-vos a “sentipensar” o futebol.
    (Como avaliar a justiça de um resultado desportivo - Parte I)
     
    O futebol nasce todos os dias nos bairros mais pobres e humildes em qualquer parte do mundo. Ali, onde gomos faltam à bola de napa semi-vazia e onde o tapete de relva macia é substituído por terra batida, dura e poeirenta, dezenas de crianças juntam-se diariamente para jogar futebol. 
     
    Jogam por vezes descalços, com camisolas de marcas caras falsificadas ou mesmo sem elas. Na imaginação carregam o nome do jogador preferido pintado nas costas desnudas. As balizas são marcadas com pedras, paus ou latas de refrigerantes e normalmente uma é sempre mais pequena que a outra. Não há árbitro e só há falta quando chegam a comum acordo ou é por demais evidente.  O jogo só acaba quando a noite cai e já nada se vê ou quando o dono da bola tem que ir embora. No final, haverá sempre quem ganhou e perdeu, e quando empatam, haverá sempre quem ganhou mais do que perdeu. O que importa afinal senão o resultado final? 
     
    O jogo. A emoção. Os vinte passes em sequência antes do golo, o drible estonteante, o túnel sobre o melhor defesa, o remate com a parte exterior do pé ao ângulo, lá em cima, onde a coruja dorme! A emoção vale tanto como os números! Se assim não fosse, não valia a pena assistir-se a jogos de futebol. Comprava-se o jornal no dia seguinte e verificava-se o resultado da nossa equipa. Simples! 
     
    Numa sociedade altamente capitalista onde tudo é contabilizado, estatístico, gráfico e numérico, evidentemente que o que interessa é o resultado final. Interessa se se ganha ou se se perde. E celebra-se justiça de acordo com o resultado final. É assim na política, na economia, nas finanças e obviamente no futebol, não fossem os homens que gerem o futebol, políticos, economistas e financeiros! 
    Mas o que não pode acontecer é que o resultado final seja a única coisa que importa! Porque futebol não é política, economia e finança. Aliás localizar o futebol na sociedade atual é uma atividade complicada. Pode até ser tudo isso! Pode ser política, economia e finança. Mas antes de ser tudo isso, é jogo! É o jogo mais bonito e emotivo que existe!
     
    Se avaliarmos a justiça de um resultado apenas pelo placar final então não há mais nada que discutir. Como diz Bielsa, “se não avaliarmos os merecimentos então não há mais nada que falar, pois os números falam por si”.
     
    Diariamente ouvem-se expressões dos mais diversos agentes envolvidos no futebol como: “Quem marca mais é sempre um vencedor justo!” ou “O campeonato é uma prova de regularidade, fizemos mais pontos, merecemos ganhar!”. Será adequado no futebol, avaliar a justiça de um resultado desportivo, olhando exclusivamente aos números? 
    E os miúdos descalços jogando por esse mundo fora, que mesmo perdendo vão para casa como se tivessem ganho? Será que só perderam? Ou a única coisa em que perderam foi no placar final? 
     
    Como diz Ángel Cappa, “Interessa-me ganhar sempre. O que não me interessa é ganhar de qualquer maneira!”.


    Comentários

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    2016-12-17 14h15m por Asprilla11
    O que Ángel Cappa diz no final basicamente serve ao caro José Mourinho. . .
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