O SC Braga reentrou na “nova época”, pós-Mundial do Catar, de forma convincente. Os Gverreiros do Minho perderam para a Taça da Liga, em Alvalade, por números invulgares e desde aí mostraram a sua raça, na resposta a tamanha adversidade. Analisando friamente, os brácaros apenas tinham perdido
uma eliminatória contra os leões, mas isso aconteceu de forma dolorosa para a Legião. Esta época desportiva surge dividida em duas, pois existe um período antes e outro depois da paragem forçada pela competição mundial das seleções. Isto representa um dado novo e de caráter
imprevisível, que é capaz de alterar a ordem das coisas.
No regresso da liga portuguesa, os bracarenses não foram de modas e despacharam, com números claros, o Benfica, por 3x0, na visita à Pedreira, e o Santa Clara, nos Açores, onde os 4x0 mostraram a pujança da equipa de Artur Jorge. Ora, a forma desconfiada com que os adeptos e uma parte grande
da comunicação social olhavam a equipa alterou-se radicalmente, para outra revigorada e bastante assertiva. Para isto muito contribuiu o trabalho técnico de Artur Jorge, que foi capaz de aprender com os erros, trabalhando nos treinos sobre eles, de modo a alterar o que estava mal. A disposição tática da equipa e a saída de vários jogadores do onze inicial, que estavam em sub-rendimento, coincidiu com a melhoria substancial da equipa arsenalista em campo, cujo equilíbrio adquirido conduziu às duas vitórias referidas e à ascensão ao segundo lugar da classificação. Intercalado entre a visita de sucesso aos Açores e a receção de hoje ao Boavista, a Pedreira acolheu o dérbi ímpar do país, para a Taça de Portugal, cuja rivalidade, entre SC Braga e Vitória SC, vai muito
para além do relvado.
Os comandados de Artur Jorge chegavam a este confronto a jogar bem e a vencer de modo claro, ao contrário do seu rival que vinha de cinco jogos sem vencer. O contexto dos intervenientes nestes jogos pouco conta e este jogo mostrou isso mesmo, com os visitantes a entrarem mais determinados, chegando ao intervalo a vencer por dois golos sem resposta. O segundo tempo trouxe maior dinâmica na equipa da casa, algo que tinha faltado antes do descanso, mas a ineficácia ditava leis, não havendo alterações no placard com a passagem do tempo. O minuto oitenta começava ainda com a vantagem de dois tentos, mas a partir daí surgiram cinco minutos absolutamente loucos dos Gverreiros do Minho, que ressurgiram na discussão do resultado através de
um golo de Abel Ruiz. A Pedreira voltou a acreditar e o ambiente explodiu, com a crença brácara a subir imenso, ao contrário dos vitorianos que viram surgir alguns fantasmas. Dois minutos depois aparecia o empate, numa obra de arte assinada por Vitinha, mas que teve um desenho coletivo digno
de realce, e volvidos três minutos a remontada surgiu mesmo, assinada em espanhol, com Abel Ruiz a concretizar a volta completa ao destino da eliminatória.
Foram “cinco minutos à Braga” que garantiram o desfecho do jogo, que deverão permanecer nas memórias de todos por muitos anos e que levaram à loucura as bancadas vermelhas do estádio bracarense, onde se viveram minutos cujas emoções as palavras não conseguem descrever. Esta era muito mais do que uma simples vitória, que na Pedreira até é mais ou menos habitual, pela forma épica como foi conseguida. É por momentos como estes, que este dérbi de loucos proporcionou a ambos os lados e em momentos diferentes, que se diz que “quem não sente, não entende”. Agora o SC Braga vai receber o Benfica nos quartos de final da prova rainha, mas até lá há muitos minutos para jogar na liga portuguesa, para os quais eu peço que a equipa saiba viver os sessenta segundos de cada um deles, de modo a consolidar o que de bom tem feito desde que a competição foi retomada.