Tinha prometido que os meus textos seriam, principalmente, sobre futebol, mas estava longe de imaginar que iríamos entrar num período estranho e inédito devido a esta pandemia. Hoje volto à escrita para falar da Venda da Maioria da SAD do Sporting Clube de Portugal e porque o assunto tem sido debatido por muitos Sportinguistas e acaba por ser relevante.
Se o dia chegar em que o Sporting Clube de Portugal perca a maioria do capital da SAD então é também o dia em que deixarei de viver apaixonadamente pelo clube e, provavelmente, desligo-me quase por completo e não mais me preocuparei com o que por lá se passar.
Quero voltar uns anos atrás quando o Sporting foi pioneiro da criação da Sociedade Anónima Desportiva. Fui a favor, achei que era possível com este passo profissionalizar e dotar o clube de competência. Já voltarei a isso.
Todos os últimos Presidentes que têm passado pelo clube (Varandas, Bruno de Carvalho, Godinho Lopes) dizem e escrevem nos seus programas que perder a maioria da SAD nunca irá acontecer. Acredito que uns sintam mais isso que outros, mas também todos sabem que com as VMOCs emitidas, mecanismo que entrou no clube em 2011, esse cenário poderá acontecer se não procedermos à sua recompra. Os bancos, numa primeira fase, ficariam com uma % da SAD e depois, certamente, iriam vender a quem se mostrar disponível para comprar.
Não vou agora fazer as contas, porque não é disso que se trata, mas ainda há 2 anos o Sporting precisaria apenas de 40 milhões de euros para garantir que a sua posição chegaria aos quase 90% do capital da SAD. Portanto, está bem à vista que, em primeiro lugar, depende da direcção que está à frente do clube para que isso não falhe e, em segundo, depende dos sócios e de quem estes colocam à frente dos destinos do clube para que tudo continue como está e conhecemos.
Voltando à questão da maioria da SAD, nas últimas semanas, um conjunto de escribas da nossa praça com ligações fortes à comunicação social, e por isso aparecem a escrever uns parágrafos em jornais com elevada tiragem, vieram defender a venda da SAD e a entrada de um investidor. Inclusive, dão exemplos de mercados como o britânico e o alemão, como se fosse comparável, escalas muitos superiores, esquecendo-se, por exemplo, dos vizinhos aqui do lado em Espanha, como exemplo contrário.
Mas, sinceramente nada disso interessa. A venda da SAD em nada resolveria os problemas do Sporting. Quanto muito, alguns de curto prazo seriam resolvidos, mas, com um mercado como o português, pequeno e empobrecido, quando comparado com os grandes exemplos que normalmente dão de países ricos, seria o adiar para que a identidade do clube, tal como a conhecemos, morresse e desaparecesse por completo.
Algum investidor irá meter dinheiro no nosso clube quando perceber que a taxa de retorno do investimento é baixíssima e que dificilmente recuperará o seu investimento, quanto mais ganhar acima do investido, percebendo, facilmente, que o seu negócio estará muito dependente da bola que entra ou vai ao poste? Da venda de uma grande estrela que pode ou não ser produzida ou encontrada?
Não se esqueçam que, com a entrada de um investidor que garantisse a maioria do capital da SAD do Sporting, nesse dia, todos nós, que estivéssemos contra, deveríamos entregar o nosso cartão de sócio e esperar receber pelo correio o novo cartão de cliente do Sporting. E, claro, as modalidades ou se tornavam auto suficientes ou então seriam condenadas à sua extinção. O ecletismo do Sporting seria enterrado nesse preciso momento!
O Sporting não precisa de um investidor, mesmo sabendo que o dinheiro dá jeito. O Sporting precisa de profissionais competentes e de construir uma estrutura que seja capaz de, ao longo do seu mandato, executar os pontos que apresenta no seu programa. E isso, como todos sabemos, ainda recentemente aconteceu. O primeiro mandato de Bruno de Carvalho, como já fiz alguns textos sobre isso, teve uma taxa de execução muito elevada do seu programa e por isso é que muitos sócios relembram esse mandato como muito positivo. Não era fácil, e o Sporting continuava com muitas dificuldades financeiras, mas havia um rumo definido. Depois....enfim...não vou voltar a essa conversa, é passado.
Não vou entrar agora na discussão de competência, mas deixo apenas algumas notas. Um Gestor (ou um Dirigente máximo do clube) é alguém que organiza, planeia (alto nível), dirige e controla o trabalho dos outros, afim de produzir um determinado trabalho que é avaliado, em última instância, e talvez na mais importante, pelos sócios e adeptos do clube. A sua avaliação será em função de critérios de eficiência e eficácia dos resultados alcançados. Parece simples, certo? E é!
A venda da SAD, como muitos preconizam, não resolve nada. A Sporting SAD é uma empresa, como todos sabemos, mas como costumo dizer, bem diferente da Sonae, Jerónimo Martins e afins, só para citar alguns, pois nestas empresas os clientes hoje vão a uma determinada loja de uma marca e amanhã vão a outra, a paixão pela marca é breve (no contexto da vida de uma pessoa) mas muito impessoal.
No Sporting, os clientes são para lá de toda a vida, e isso faz toda a diferença!