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    O sítio dos Gverreiros
    António Costa
    2020/05/02
    E2
    "O sítio dos Gverreiros” é uma coluna de opinião de assuntos relativos ao SC Braga, na perspetiva de um olhar de adepto braguista, com o sentido crítico necessário, em busca de uma verdade externa ao sistema.

    O Primeiro-Ministro português, (o outro) António Costa, chamou para uma reunião os presidentes da FPF e da Liga, e os presidentes dos autoproclamados grandes do futebol português, eles que lideram os clubes mais endividados, a longa distância dos outros. O líder do governo quis, assim, juntar-se aos Donos Disto Tudo (DDT), ou seja, àqueles que decidem os destinos do futebol em Portugal. São eles que chamam a si como patrocinadores algumas marcas ou empresas que custam muito caro ao erário público, como o antigo BES ou a atual Caixa, com certeza. Mesmo com essa canalização indecorosa de verbas ao longo dos anos, os clubes que eles lideram apresentam dívidas enormes e resultados negativos constantes, pelo que só mesmo a magia do Excel os livra da falência, onde já deveriam ter caído há muito, a exemplo de grandes clubes de outrora como o Rangers (Escócia) ou o Parma (Itália). Mas em Portugal isso está longe de acontecer, a bem da nação.

    O propósito de tão inusitada reunião era a retoma do futebol em Portugal. Confesso que não estranhei o facto de serem ignorados os presidentes dos outros clubes, pois é já um hábito tanto enraizado, como absolutamente estúpido. A pergunta que faço é esta: para que serve o “falecido” G15? Saberão, porventura, os líderes dos outros clubes que juntos podem mudar este estado de coisas? Se calhar não sabem e cedem facilmente à chantagem de quem empresta jogadores, viciando as competições, num acrescento inaceitável aos condicionados e, inúmeras vezes, decisivos maus trabalhos das arbitragens, que nem a tecnologia consegue salvar. Em muitos casos ainda agravou o mal que já existia no seio da classe dos árbitros, observando-se de modo frequente alguns erros que a tecnologia deveria evitar e não consegue, porque por trás dela estão, pasme-se, os mesmos que apitam os jogos, rodando de posto em posto.

    Os DDT discutiram com o líder do governo os moldes em que o futebol deveria regressar, indo de encontro às necessidades dos três clubes, pois, como diria Zeca Afonso, “Eles comem tudo e não deixam nada”. A decisão aberrante passa pelo regresso da primeira liga, uma vez que a classificação atual só agradava a um dos três intervenientes, dando como concluída a segunda liga, que por acaso também é profissional. Os jogos têm começo previsto para o fim de maio, sem adeptos nas bancadas. É a negação completa do futebol, uma vez que os adeptos e a festa fazem parte do espetáculo, ou pelo menos faziam, porque agora deixaram de fazer por decisão dos “comilões”, que comem tudo e não deixam nada. É uma decisão que deveria envergonhar aquele conluio, que não sabe o mal que está a fazer, uma vez mais, ao futebol português.

    Indiferente à indiferença com que é visto, o SC Braga regressou aos trabalhos, algo que deve ter deixado os seus atletas e treinadores satisfeitos, apesar do modo estranho como isso aconteceu. As regras são tantas e tão apertadas que se corre o risco de falhar algumas delas, espero que sem consequências. O manual de segurança elaborado pelos Gverreiros do Minho é exigente e foi colocado em prática nesta primeira semana da segunda pré-época da temporada. As imagens que o clube vai disponibilizando dão para perceber como os hábitos mudaram com o surgimento deste vírus, que ninguém conhece e sobre o qual toda a gente dá palpites, numa espécie de réplica dos “treinadores de bancada”. O trabalho previsto até ao eventual retorno da liga portuguesa conhecerá várias fases, sendo esta inicial aquela que mais se afasta da imagem que temos sobre o conceito de futebol. Está reaberto o período de Custódio ao leme arsenalista, onde o espera um desafio enorme e para o qual eu espero que ele esteja preparado. Perfil de líder e potencial como treinador existem, o que aliado às coisas boas que conseguiu no curto período em que liderou os Sub-17 dão esperanças de dias sorridentes à legião braguista. Assim, a sorte o acompanhe.

    O estado de emergência terminou e deu lugar ao estado de calamidade, que por acaso até soa pior, não obstante ser menos restritivo para a população. A transição foi feita com a proibição de sair dos concelhos de residência no fim de semana que ficou maior por causa do 1º de maio, que este ano não junta os trabalhadores para comemorar nos moldes habituais. Termina, assim, o período alargado de confinamento, que nos traz à memória os tempos do nazismo que também confinava as pessoas nos campos de concentração, vestindo uniformes iguais que mais pareciam pijamas, como nos recorda de imediato aquela imagem tremenda que serve de capa no livro “O Rapaz do Pijama às Riscas”, num caminho certo que levaria à morte. Felizmente as pessoas agora ficaram fechadas em casa com a convicção de ajudar a salvar a vida. Diferenças boas, felizmente, num tempo em que a tecnologia ajudou a diminuir a sensação de isolamento de muita gente. Agora é preciso vencer lentamente o medo que invadiu as nossas vidas, para que elas possam ter o sentido que tiveram em tempos não muito distantes, mas que, de facto, nos parecem muito longínquos.



    Comentários

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    motivo:
    edhelvar
    2020-05-02 21h33m por DabidBTV
    Exatamente o meu pensamento quando cheguei a essa parte, estragou toda a coerencia que estava a criar ao longo do artigo todo
    . . .
    2020-05-02 20h11m por edhelvar
    Este gajo acabou de comparar os campos de concentração do Holocausto à quarentena? Não há palavras para descrever a barbaridade que isto é. . .

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