O sítio dos Gverreiros
António Costa
2020/01/06
E2
"O sítio dos Gverreiros” é uma coluna de opinião de assuntos relativos ao SC Braga, na perspetiva de um olhar de adepto braguista, com o sentido crítico necessário, em busca de uma verdade externa ao sistema.
A estreia de Rúben Amorim como treinador principal do SC Braga estava marcada para o Jamor, onde joga atualmente o Belenenses SAD, clube que foi importante na carreira do novo treinador bracarense enquanto jogador. O local deste jogo é um sinal dos tempos modernos, em que o caminho percorrido levou à separação do Clube e da SAD no histórico Belenenses.
 
A entrada do novo técnico na cidade dos arcebispos, para suceder a Ricardo Sá Pinto, foi envolta em polémica, com a indignação maior a surgir da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, que é uma espécie de “Ordem” ou de “Sindicato” na classe dos treinadores, mas que não zela pelos interesses de todos, mas antes pelo corporativismo miserável que impede o crescimento rápido na carreira de quem tem condições e potencial para isso.
 
Indiferente a tudo isto, Rúben Amorim aproveitou este tempo de pausa competitiva, insensatamente prolongado, para introduzir alterações profundas, que carecem sempre de uma dimensão temporal, algo que não havia pois a pré-época já vai distante nesse tempo que não pára ao sabor das necessidades. Uma vitória no primeiro jogo ao mais alto nível seria uma estreia de sonho para o treinador, mas um triunfo por 7x1, com uma grande exibição e o reforço na convicção que as suas ideias têm pernas para andar vão, claramente, para além do sonho. Estava batido o recorde de um resultado do SC Braga obtido fora de casa para a liga, ou campeonato noutros tempos, superando os 6x0 de Abel Ferreira conseguidos há duas épocas no reduto do Estoril. Aliás, até hoje nunca os arsenalistas tinham marcado sete golos numa partida disputada fora.
 
Em relação ao jogo propriamente dito, existia uma desconfiança natural, entre os adeptos, de quem vai dar um passo desconhecido sem saber as consequências. O onze inicial trazia uma defesa com três centrais, com Tormena a descair sobre a direita, onde tem rotinas do passado, Bruno Viana a jogar como central ao meio, como fez com Abel Ferreira quando Goiano funcionou como terceiro elemento de uma saída a três, e Raúl Silva a jogar sobre a esquerda. Pareciam acertadas as escolhas, em função das características dos jogadores. Os laterais Esgaio e Sequeira apareciam mais subidos do que era habitual, o que permitia aos alas, Trincão e Ricardo Horta, surgirem diversas vezes junto do ponta de lança Paulinho, pelo que não se estranhou que ambos tivessem marcado golos neste resultado épico.
 
No meio campo, surgiam Palhinha e Fransérgio com funções que variavam, tal como variou o sistema de jogo utilizado. O guarda-redes escolhido foi Matheus, que sabe desde já que terá a confiança e a estabilidade como titular por parte do treinador, tal como este havia referido, numa escolha que implica que o guardião brasileiro jogue bem com os pés, uma vez que é muitas vezes chamado a intervir dessa forma neste modelo de jogo.
 
Os golos da vitória robusta foram obtidos por Ricardo Horta e Rui Fonte, como suplente utilizado, por duas vezes cada, e os restantes através de Trincão, pela primeira vez na liga, Palhinha e Paulinho. O modelo de jogo utilizado, que permite uma elevada percentagem de posse de bola, deixou de lado aquele número infindável de bolas cruzadas de qualquer maneira e já permitiu ver algumas jogadas coletivas de elevada beleza.
 
Estive presente nesta goleada histórica, que significou a estreia feliz do novo treinador, mas é bom que todos tenhamos a consciência de que com ela só foram conquistados três pontos e que existe um caminho muito longo a percorrer, que se deseja de sucesso e para o qual é exigida muita competência. Já tinha saudades de um jogo assim tranquilo, mas penso que ninguém se deve colocar em “bicos de pés” em função do desfecho final, pois serão muitos mais os jogos em que o resultado será apertado do que folgado como este foi. Mas os sinais dados foram animadores.
 
A equipa B do SC Braga foi à Póvoa de Lanhoso bater o Maria da Fonte por 2x3, mantendo o segundo lugar, agora de forma isolada e encurtando a distância para o líder Vizela. Foi uma estreia positiva de Vasco Faísca como novo treinador da equipa, que parece augurar bons tempos futuros.
 
A equipa feminina perdeu por 2x4 em casa com o Sporting e disse adeus às ténues esperanças que ainda alimentava na renovação do título de campeã que ostenta. Não está nada fácil a época para as Gverreiras de Miguel Santos.
 
Em relação à formação, destaque para a vitória dos Sub-19 no terreno do Gil Vicente por 4x0, alargando a vantagem com que lideram a competição para nove pontos, e para os Sub-15 que venceram no terreno do Rio Ave por 2x0, mantendo a liderança nesta segunda fase da prova. Os Sub-17 confirmaram a campanha negativa, somando o sexto jogo seguido sem vencer, depois de perder com o Porto por 0x2.


Comentários

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motivo:
Efeito Amorim
2020-01-07 09h24m por Tistan
Com a entrada do novo treinador o efeito foi notório, novo sistema táctico, dinâmicas, ideias e sobretudo garra e pressão constante.
Entradas de jogadores que estavam encostados e dispensados com uma boa resposta, merecem o lugar.
Agora nos próximos jogos esperemos que o efeito Amorim traga consistência
Enorme estreia
2020-01-07 02h20m por viriato94
Que seja o inicio de um ciclo positivo na liga

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