Já esteve no principal escalão do futebol português, acabou por descer de divisão e agora encontra-se a disputar o Campeonato Nacional de Seniores, depois de na época passada não ter reunido os pressupostos necessários para competir na Segunda Liga.
O clube em causa é o Varzim. Outrora a cidade da Póvoa de Varzim esteve representada na alta roda do futebol português pelos lobos do mar. Hoje tal não acontece e as tardes ou noites de futebol de primeira estão longe de voltar à cidade nortenha.
Esses dias são agora distantes e foram trocados por vazios diretivos, dívidas que impediram a subida de divisão, salários em atraso. São situações como estas que fazem parte da história recente do Varzim, um clube que, apesar dos resultados da equipa principal, não perdeu o estatuto de formador.
São muitos os jogadores que «nasceram» no Varzim ou que passaram pelas suas camadas jovens e que hoje competem nos campeonatos profissionais em Portugal ou que têm feito carreira no estrangeiro e alguns deles também na seleção portuguesa.
Luís Neto (Zenit), Bruno Alves (Fenerbahce) e Hélder Postiga (Valencia) são três dos jogadores que passaram pela formação do Varzim e que hoje fazem parte das escolhas habituais de Paulo Bento na seleção nacional.
Olhando para a Liga Zon Sagres, há sete jogadores que fizeram parte da escola do Varzim e que hoje competem em equipas do principal escalão do futebol português. Salvador Agra (SC Braga), André André (Vitória de Guimarães), Nélson Algra (Gil Vicente), Ricardo (Académica), Júlio Alves, Rafa Miranda, que ainda não se estreou na Liga mas já jogou na Taça da Liga, (Rio Ave) e Gonçalo Graça (Vitória de Setúbal) procuram o sucesso ao mais alto nível.
À imagem do que acontece no mais alto escalão, também na Liga2 Cabovisão há sete atletas que passaram pela formação do Varzim. São eles: Marafona (Moreirense), Tito (Desportivo das Aves), Vítor São Bento (Farense), Pedro Santos, Rafael Lopes (Penafiel), Rui Coentrão (Leixões por empréstimo do Gil Vicente) e Frédéric Maciel (FC Porto B, que depois do Varzim passou também pelo SC Braga e Sporting).
«Foi a formação que salvou o Varzim»
Recuemos à temporada 2010/2011, a última que contou com a presença do Varzim nas competições profissionais. Mais de 50 por cento do plantel tinha sido formado no clube poveiro e Eduardo Esteves, que também desempenhava a função de coordenador da formação, era o treinador principal.
No final da época, o Varzim ficou em penúltimo lugar com 31 pontos e acabou por descer de divisão. No entanto, apesar dos resultados desportivos, a aposta nos jovens da formação foi ganha, no entender de Eduardo Esteves, que trabalhou no clube nortenho durante 18 anos.
«Foi a formação que salvou o clube nesse ano. Se não fosse ela não teria sido possível nessa época criar uma equipa minimamente competitiva para jogar na Segunda Liga porque o Varzim não tinha condições financeiras para isso», lembrou o treinador, que também recordou alguns jogadores que faziam parte desse plantel.
«Só assim foi possível aparecer o Luís Neto, o Salvador Agra, o André André, o Rafael Lopes ou o Pedro Santos. Nesse ano tivemos sete jogadores da equipa principal a serem chamados às seleções jovens, mais aqueles que faziam parte da formação do Varzim e que também foram chamados», lembrou.
A desconfiança no início dessa temporada foi muita e no final, como a equipa foi despromovida, continuou. O ano, contudo, mereceu uma avaliação positiva por parte de Eduardo Esteves, que lamentou o facto do Varzim não ter apostado mais nos jogadores que tinham saído diretamente dos juniores para a equipa principal. Afinal muitos deles rescindiram por justa causa e a maioria acabou por ir para clubes do principal escalão do futebol português.
«No início da temporada havia alguma desconfiança, mas a certa altura da época tínhamos uma média de duas a três mil pessoas nos jogos. Elas reviam-se na equipa porque tinham amigos a jogar lá. Foi um ano muito importante, uma vez que reaproximou pessoas que estavam afastadas do clube, mas no final da temporada a desconfiança regressou porque descemos de divisão. Mas isso não elimina a valorização que os jogadores tiveram e a nossa satisfação pessoal de ter visto que o tempo investido na formação valeu a pena», comentou.
«Na altura disse a alguns responsáveis do clube: 'façam o que tiverem a fazer mas paguem a estes miúdos porque o Varzim vai ganhar muito dinheiro com eles'. Estamos a falar de salários entre os 400 e os 600 euros. O olhar foi de desconfiança e senti que as pessoas não acreditavam muito nisso», acrescentou, lembrando a hora da saída de muitos deles.
«Para mim foi um orgulho o trabalho que fizemos. Hoje em dia está um bocado desfeito porque as equipas técnicas que lá estavam na altura também foram desfeitas. Mas espero que o Varzim continue a ser um viveiro para jovens jogadores, embora seja difícil chegar a um patamar ao qual conseguiu chegar antes», disse.
«Não é algo fácil de repetir porque os elementos que compunham as equipas técnicas do Varzim nesses anos já estiveram noutros clubes e no estrangeiro e verificaram isso. Mais de 60 por cento do nosso plantel era da formação e às vezes dez dos 11 jogadores que jogavam também tinham a escola do Varzim. Penso que isso não é fácil de repetir, nem no Varzim, nem em outro clube. Foi por isso que nos apelidaram o Ajax da Póvoa», continuou.
«Neto esteve para ser dispensado»
A terminar a entrevista com o zerozero.pt, Eduardo Esteves contou um facto curioso sobre Luís Neto, defesa do Zenit e que hoje em dia faz parte das opções regulares de Paulo Bento na seleção portuguesa.
«O Neto esteve para ser dispensado. Ninguém acreditava nele. Nós fomos marrões, dissemos que ele tinha coisas para limar mas acreditávamos nele. Fazia lembrar o Ricardo Carvalho, era rápido, bom tecnicamente e o tempo fala por si».
Um 11 construído com «prata da casa»
Dos 20 jogadores apresentados nesta reportagem, 13 jogaram ao serviço da equipa principal. Por isso, o zerozero.pt escalou um possível 11 apenas composto por atletas que tenham jogado com a camisola dos seniores do Varzim. De fora ficaram Marafona, por ter atualmente menos presenças na Liga Zon Sagres do que Ricardo, sendo que o mesmo critério foi utilizado para a escolha de Rafael Lopes em detrimento de Gonçalo Graça.