O dérbi de Manchester joga-se este domingo e coloca frente a frente os dois primeiros classificados da Premier League [nota: à data do início da jornada], algo que não tem sido ocorrência frequente.
Cityzens lideram e vivem um momento de forma avassaladora, o que aliado ao jogo caseiro lhes dá um estatuto de inegável favorito, mas este é um tipo de jogo em que a história também conta. Há 90 minutos para jogar e dois adversários de grande qualidade, recheados de talento de classe mundial.
Há, também, portugueses nas duas trincheiras, e não são anónimos nas suas equipas...
Não é das rivalidades mais fervorosas do futebol inglês, historicamente falando. O Manchester United sempre se picou mais com o Liverpool no Northwest Derby, por exemplo, mas essa é uma realidade que se tem alterado em grande ritmo, com a ascensão recente de um vizinho bem mais próximo do que os reds.
«Agradável» pois se tratava de um amigável, talvez, e também porque ainda não havia qualquer rivalidade. Essa cresceria ao longo dos anos.
Encontraram-se oficialmente em 1894/95 e fizeram-no no pela primeira vez no principal escalão em 1906, com uma vitória cityzen por 3x0, mas o passar dos anos viu Manchester a ser pintada completamente a vermelho, jogo após jogo.
No grande panorama, já lá vão 151 dérbis disputados entre as duas equipas no primeiro escalão do futebol inglês, e os red devils saíram por cima em 38% das vezes, com 58 vitórias para as 45 do City. Mesmo contando apenas os 75 duelos caseiros dos azuis, como será este domingo, os rivais saem por cima: 24 vitórias do Manchester City, 24 empates, e 27 vitórias visitantes.
Num passado mais recente, já depois do Manchester City ter sido adquirido por donos determinados a tornar a equipa numa potência mundial, o lado azul de Manchester cresceu e tem engolido por completo os rivais. Começou com Tévez a trocar de lados depois de ter sido red devil durante dois anos, numa das primeiras e mais controversas transferências do novo grande inglês, e acabou com uma reviravolta na força dominante do dérbi.
Nunca nenhuma equipa na história da Premier League desperdiçou uma vantagem de 14 pontos no topo da tabela, segundo o fiável playmaker do zerozero, e essa é uma estatística que certamente tranquiliza a turma de Pep Guardiola. Numa época atípica em que os rivais têm deixado cair mais pontos que o habitual, o Manchester City está mais forte do que nunca, e chega ao dérbi numa série imbatível de 28 jogos.
É difícil impedir que a festa seja em tons de azul no final da temporada, mas o Manchester United fará certamente o seu melhor para evitar ver o seu adversário com 17 pontos de vantagem no topo, algo pouco comum na Premier League, já para não falar que o segundo lugar e o lugar de Champions é uma posição muito pouco cimentada pelo Manchester United, que caso não vença dificilmente não cairá.
Com a qualidade defensiva que o quarteto de Walker, Stones, Dias e Cancelo têm demonstrado, com Rodri à frente e Ederson atrás, é difícil imaginar que a turma de Ole Gunnar Solskjaer vá marcar muitos golos, especialmente sabendo que os últimos três jogos terminaram em 0x0 (Real Sociedad, Chelsea e Crystal Palace).
É como disse Nemanja Matic após o nulo frente a eagles esta quarta-feira: «Temos de fazer muito melhor, especialmente criar mais oportunidades e arriscar mais no meio campo atacante, à volta da grande área». A tarefa não é fácil, mas não é descabido que aconteça algo inesperado, com os velozes Rashford e Daniel James a correr nas costas de uma defesa subida.
Também no capítulo das lesões e ausências o duelo favorece os cityzens. Pep conta com o plantel inteiro, enquanto que os visitantes estão sem Paul Pogba, Juan Mata, Phil Jones e muito provavelmente também Anthony Martial, com Cavani a aparecer no lugar do francês. Segundo a imprensa inglesa, também De Gea poderá ser ausência por motivos pessoais, passando a baliza a Dean Henderson.
Já lá vão os dias em que Cristiano Ronaldo driblava junto à linha do relvado de Old Trafford, como o pioneiro dos portugueses que ganharam protagonismo na cidade de Manchester. Seguiu-se Nani, nos mesmos moldes mas com um pico bem inferior, e houve ainda José Mourinho mais recentemente, depois do sangue luso já ter começado a correr na equipa rival.
Os números do portuguese magnifico, como é apelidado em Inglaterra, são absolutamente impressionantes. Desde que chegou a Inglaterra ninguém no futebol desse país esteve envolvido em mais golos, com o número 18 a revelar-se decisivo semana sim semana não, mas não é o único português em destaque num raio de 50 quilómetros, sequer.
Os intervenientes são bem diferentes de ambos os lados, em comparação com o 2x3 registado em 2018, na última vez que os rivais de Manchester se encontraram na Premier League enquanto líder e vice-líder. Nessa ocasião a sorte sorriu ao United num jogo rico em emoção. Que cores pintarão a cidade desta vez?
0-2 | ||
Bruno Fernandes 2' (g.p.) Luke Shaw 50' |