O Benfica está a um passo de chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões. A equipa feminina ultrapassou, na primeira ronda, duas equipas campeãs nacionais - Kiryat Gat (Israel) e o Racing FC (Luxemburgo) - e tem agora encontro marcado com o Twente, campeão dos Países Baixos.
Depois de dois adversários um pouco mais inexperientes na competição, a equipa de Filipa Patão tem agora um desafio teoricamente mais equilibrado. A formação neerlandesa cumpre a sua sétima participação na prova e nunca falhou a presença na fase final da competição que, até à presente edição, arrancava nos 1/16 de final. Este ano, com as alterações no formato - cada vez mais idêntico à competição masculina -, o objetivo primordial de todas as equipas é chegar à fase de grupos, onde vão estar 16 equipas.
No seu registo da competição, o Twente tem claramente demonstrado uma tendência evolutiva. Nas suas primeiras participações caiu aos pés de Rossiyanka (0x3), Lyon (0x10) e Paris SG (1x3), sempre nos 1/16 de final. Já nas últimas três, chegou aos oitavos e perdeu com o Barcelona (2015/16 e 2016/17) e com Wolfsburg (7x0).
Este ano, a presença na fase de grupos ainda não está assegurada, mas para já o registo é bastante positivo: dois jogos, 14 golos marcados e três sofridos. O primeiro, diante do FC Nike da Geórgia, terminou com uma pesada goleada (9x0), mas o segundo já deu alguns calafrios à formação dos Países Baixos. Diante do Spartak Subostica, campeão sérvio, o Twente chegou aos 80 minutos a perder 3x0. Aí, duas das grandes figuras da equipa - Fenna Kalma e Anna-Lena Stolze - entraram em cena e levaram a decisão para prolongamento, onde o Twente acabou por ser superior, vencendo por 5x3.
Por isso, além da teoria dos números, o zerozero procurou conhecer melhor as características desta equipa e foi falar com a única jogadora portuguesa a atuar no Campeonato dos Países Baixos: Francisca Cardoso.
A avançada portuguesa, atualmente a entrar na fase final da recuperação de uma grave lesão, está prestes a iniciar a segunda temporada no Heerenveen e, em conversa com o zerozero, descortinou um pouco sobre aquilo que o Benfica pode esperar nesta eliminatória.
«Sinceramente, acho que podemos dizer que poderão ser equipas um bocadinho parecidas. O Twente tenta praticar o típico futebol holandês, que é o futebol de posse de bola - um bocadinho também como as nossas equipas portuguesas -, e é o atual campeão nacional da Holanda. Tem cinco ou seis jogadoras que já são um pouco mais experientes, mas tem bastantes jogadoras jovens, ainda que talentosas».
No que respeita às figuras a ter em conta, Francisca Cardoso destaca, desde logo, dois nomes que prometem dar trabalho à defesa do Benfica: Renate Jansen, campeã europeia pelos Países Baixos em 2017 e responsável por 12 golos e 14 assistências na temporada passada ao serviço do Twente, bem como Fenna Kalma, jovem internacional holandesa que, nos dois jogos da Liga dos Campeões, assinou sete golos.
«Sei que têm uma jogadora no ataque, que é mais experiente - Renate Jansen -, e uma menina mais jovem que costuma jogar a avançada e que tem marcado alguns golos - Fenna Kalma. Também como o Benfica, golearam no primeiro jogo da Champions e Kalma marcou quatro golos e fez três assistências. Neste último tiveram mais dificuldades, estiveram a perder 3x0 até aos 80', mas conseguiram empatar e depois dar a volta no prolongamento e essa avançada também fez um hat-trick. Portanto, a sinalizar uma, diria essa», começou por referir, apontado ainda Anna-Lena Stolze, avançada alemã de 21 anos, e Kika van Es, experiente internacional pelos Países Baixos, como jogadoras a ter debaixo de olho.
«A nível de mercado, sei que se reforçaram bem. Foram buscar uma jogadora do PSV (Kayleight van Dooren) e outra ao Ajax (Caitlin Dijkstra) e investiram para esta ida à Champions, bem como na revalidação do campeonato. Portanto, acho que é uma equipa que se deve respeitar, mas penso que o Benfica está forte e tem condições para superar este desafio», acrescentou a internacional portuguesa.
Por fim, questionada sobre quais os aspetos que a equipa técnica de Filipa Patão pode vir a explorar, a avançada do Heerenveen apontou dois aspetos, salientando, ainda assim, que o Twente será um adversário à altura do Benfica.
«Eu diria que têm de ser consistentes e rigorosas a nível tático. E depois serem criativas, como a equipa do Benfica costuma ser... Não esquecer que é uma eliminatória a duas mãos e há-que jogar um bocadinho com isso. A jogadora portuguesa, além de técnica, é muito inteligente e penso que nisso conseguimos superar as holandesas. Se aproveitarem esta nossa característica, o Benfica consegue ultrapassar esta eliminatória. Mas claro que vai ser complicado. São duas equipas que poderão ser muito parecidas no que respeita a ideias de jogo, mas acredito que, se o Benfica for consistente e conseguir impor o seu jogo nas duas mãos, o Twente será um adversário à altura», concluiu.