Parece cada vez mais próximo o que há uns meses poderia parecer utopia. O Sporting ganhou em Vila do Conde, assegurou o acesso direto à Liga dos Campeões, bateu o recorde de jogos sem perder do clube num campeonato, mas, mais do que tudo isso, deu um grande passo para... amanhã ver o clássico completamente descansado no sofá. Já cheira a título, cheira mesmo (impressionante a receção apoteótica com milhares de adeptos), mas ainda há no discurso um travão à euforia.
Contra o Rio Ave, os leões foram melhores e ganharam com justiça, numa partida em que João Pereira foi a novidade e na qual Palhinha encheu o campo. Houve também um grande golo de Paulinho e um penálti polémico, num jogo em que também ficou visível que vai ser complicado para os lados de Vila do Conde as últimas jornadas.
O guarda-redes, já depois de dois cantos desde a esquerda que Coates e Palhinha direcionaram de cabeça ao poste, foi a figura principal do jogo, com uma série de boas intervenções que foram adiando o que cada vez mais parecia inevitável. O Sporting entrou bem, muito bem, do melhor que se viu esta época em termos de dinâmica e de caudal ofensivo, com uma facilidade enorme de aproveitamento do espaço pelas linhas (sobretudo Nuno Mendes) e com um excelente envolvimento dos três homens da frente.
Não foram 10, 15 ou 20 minutos. Essa sede de baliza viu-se praticamente todo o tempo até ao golo e deu razão a Rúben Amorim, que vai reiterando a ideia de que a equipa, não estando a marcar mais, está a jogar melhor. É um facto, basta ver o volume de oportunidades criadas, por contraponto com um início de época em que a alta taxa de eficácia ajudava a disfarçar vários problemas na criação. Foi um Sporting globalmente muito melhor, e nem a estreia de João Pereira à direita (a titular) foi um entrave ou uma pedra na engrenagem, até porque o português demonstrou uma saudável condição física.
Por isso, não foi nada estranho que Mané voltasse dos balneários. Com ele, voltou a melhor versão do Rio Ave, mais agitado e corajoso, mais disposto a correr riscos (porque tinha de ser, claro) e mais condicionador do adversário, que abrandou, e de que maneira!
Ao ver que a equipa reentrara apática e muito expectante, Rúben Amorim demorou poucos minutos a mexer e lançou Matheus Nunes para dar fibra e equilíbrio. O camisola 8 entrou bem e a equipa percebeu o aviso geral, pois o resultado era tudo menos confortável.
Foi havendo mais bola para o Rio Ave, embora uma posse inofensiva. O discernimento também ia faltando (Tarantini foi expulso no banco), bem como a frescura física, o que, aliado a uma tremenda falta de confiança que se sente na equipa, perante o fantasma da descida e a chegada ao 9.º jogo seguido sem ganhar, fez com que nada de relevante fosse conseguido para que se revisse discussão pelos pontos.
O Sporting teve uma entrada fulgurante, que não deixou o Rio Ave fazer o seu jogo e que, bem mais do que isso, permitiu à equipa ter várias oportunidades de golo, em bola corrida ou parada. Muito bom comportamento coletivo, nomeadamente pelo corredor esquerdo, com grande dinâmica dada pelos Nunos (Mendes e Santos).
É normal, sobretudo nesta fase de decisões, mas alguns excessos foram visíveis e Fábio Veríssimo até foi brando em várias decisões. Basta ver os minutos finais para se perceber isso. Boa sensibilidade do árbitro para evitar que os treinadores tivessem baixas a lamentar em jogos determinantes.