Uma festa quase silenciosa, mas uma noite de festa azul e branca, ainda assim. Em noite de São João, o FC Porto entrou em campo a saber da queda com estrondo do rival e respondeu com uma goleada que deixa os dragões isolados na liderança do campeonato, com mais três pontos do que o Benfica. Contra um Boavista em boa fase mas que esta noite não soube fazer mais do que tentar defender os caminhos para a baliza, os portistas marcaram o dobro dos golos que tinham marcado nos três jogos anteriores.
A equipa de Sérgio Conceição voltou a começar o jogo sem descobrir caminhos para a baliza adversária, como em jogos anteriores, mas a segunda metade da partida trouxe um dragão cheio de vontade de matar a fome e a acabar a noite de barriga cheia. Marega marcou duas vezes e o FC Porto conquistou duas grandes penalidades em lances do maliano. E desta vez até os penáltis (de Alex Telles e Sérgio Oliveira) entraram.
Tomás Esteves continuou na direita e Alex Telles voltou à sua esquerda, atrás de um meio-campo sem Danilo nem Uribe. Coube a Sérgio Oliveira formar a dupla do miolo num esquema que não foi de 4x4x2 mas sim de 4x2x3x1 como em Vila das Aves. Com Marega à direita, cabia a Corona a tarefa de descobrir espaços atrás de Soares, fosse onde fosse.
Já Daniel Ramos apresentou o esquema que foi (muito) mais de uma linha de cinco defesas do que de três, com um bloco baixo a tentar suster o ascendente do Dragão. O técnico recuperou a fórmula que deu frutos em Braga, com Idris e Paulinho à frente dos três centrais e com Yusupha móvel na frente, à espera de bolas em profundidade.
A tendência esperada de um FC Porto em busca da baliza adversária viu-se desde logo, com alguns momentos da habitual dureza destes dérbis portuenses lá pelo meio. Contam-se pelos dedos os momentos em que o FC Porto não esteve com a bola no meio-campo adversário logo na primeira etapa do jogo... mas também não eram precisos muitos dedos para contar os lances de real perigo a favor dos portistas.
Um primeiro aviso de Sérgio Oliveira num livre direto - uma especialidade do médio - antecedeu a aparição de Marega pela direita para um bom teste a Helton Leite, depois de um belo pormenor de Tomás Esteves, sempre a dar profundidade ao flanco direito. Sobrava bola, faltava espaço (e faltavam soluções credíveis) para os dragões colocarem fim à escassez de golos que atravessavam.
As ocasionais bolas em busca de Yusupha quase davam frutos lá para a meia-hora, altura em que o gambiano teve duas aproximações seguidas à baliza de Marchesín e, na segunda, testou mesmo os reflexos do argentino, chamado a intervir pela primeira vez. Do lado oposto do campo, Corona andava em busca dos espaços que não surgiam, mas o mexicano não precisou de muito espaço para driblar Idris e, com o pé esquerdo, fazer a bola passar bem perto do poste de Helton Leite... o Boavista ia resistindo na abordagem defensiva, chegava ao intervalo com indícios de mais um possível bom resultado numa boa fase da equipa de Daniel Ramos.
O treinador boavisteiro não deveria estar insatisfeito com a entrega de toda a iniciativa ao adversário, porque a tendência do jogo manteve-se no segundo tempo, com uma grande diferença: talvez na primeira vez desde a retoma, o FC Porto teve uma série de momentos consecutivos de grande qualidade ofensiva (pasme-se), com trocas de bola rápidas a um ou dois toques na grande área adversária. Marega aproximou-se de Soares, Manafá rendeu Tomás Esteves e deu velocidade ao corredor.
O resultado desbloqueou-se com um desses bons momentos coletivos, com Marega a atacar o espaço para receber de Corona e a faturar, dando início aos foguetes que se iam ouvindo nas imediações do Dragão. O maliano não se livrava daqueles momentos mais atabalhoados, mas esteve envolvido em todos os golos que o FC Porto marcou nesta segunda parte de goleada.
No segundo, imediatamente depois do primeiro, o avançado sofreu uma falta de Dulanto dentro da grande área para o primeiro penálti a favor dos portistas, que o regressado Telles converteu. Poucos minutos depois, tentou um cruzamento que parecia uma oportunidade completamente perdida e que, afinal, teve desvio com o braço do mesmo (tão infeliz...) Dulanto, com Sérgio Oliveira a bater dessa vez o penálti, com o mesmo desfecho.
Três golos de vantagem, a questão resolvida, o Boavista a não conseguir oferecer qualquer tipo de resistência além da tal estratégia defensiva que calhou de não dar certo. A equipa axadrezada aumentou ligeiramente a pressão para a etapa final, mas o FC Porto, ainda chegou ao 4x0 com o bis de Marega, a agradecer um belo passe de Fábio Vieira, numa altura em que também o outro Fábio (o Silva) já andava em campo.
Depois da fome veio a fartura e o Dragão festejou da melhor forma este São João. 67 pontos e o título a seis jogos de distância, se não vierem os tropeções que já se viram.
O FC Porto vinha de três jogos muito pouco interessantes a nível ofensivo e a segunda parte trouxe laivos de um Dragão muito interessante na procura do golo. Lances de bom entendimento, boa execução e confiança.
A equipa de Daniel Ramos procurou defender o resultado desde cedo, confiando em eventuais bolas em profundidade, e manteve essa identidade ao longo de praticamente todo o jogo, mesmo em desvantagem. Foi defender e muito pouco mais.