Com uma mão cheia de golos num jogo rasgadinho, o FC Porto voltou a vencer o Benfica e reduziu para quatro pontos de distância do líder do campeonato. A estratégia montada por Sérgio Conceição causou o efeito desejado uma vez mais, com muita assertividade posicional e pressão intensa. Os encarnados procuraram remar contra uma maré agitada na segunda parte de modo a repetir a façanha da temporada passada, mas não conseguiram lidar com a demonstração de força do eterno rival que alimentou o sonho de conquistar o título de campeão.
Xadrez. Uma arte - sejamos mais românticos - tantas vezes utilizada como analogia para o futebol. Tática e estratégia são as palavras de ordem e por isso merece uma atenção especial de quem a acompanha.
De tática e estratégia falou-se na primeira parte do FC Porto x SL Benfica, um tanto semelhante à do SL Benfica x FC Porto. Isto porque a primeira investida - ou entrada personalizada - pertenceu ao dragão uma vez mais, levando o adversário a uma intraquilidade levada ao desespero.
Peões afastados. Desde logo porque Chiquinho, grande muleta encarnada na fase inicial de pressão, confundiu-se nas marcações, Rafa parecia posicionado a uma distância de largos quilómetros, não dando largura nem a explosão necessárias para o momento de transição, e Pizzi, vigiado atentamente, pouco acrescentou em zonas interiores.
Com isto dizer, obviamente, que o FC Porto venceu o primeiro duelo, ao conseguir sair com destreza e tranquilidade da primeira fase de construção. Com a experiência de Pepe no coração, coube a Uribe e a Sérgio Oliveira a função de olear a máquina. A superioridade azul e branca foi notória em grande parte devido à forma como foi colocado o dedo na ferida do rival: a transição defensiva.
Weigl e Taarabt, pressionados de início ao fim, a par dos centrais, acabaram por ser os dois elementos mais expostos numa fase em que o golo inaugural de Sérgio Oliveira - nota para a jogada de Otávio - provocou pânico imediato.
Jogadores do 🦅Benfica que fizeram autogolo frente ao FC Porto:
➡Veloso
➡Oliveira
➡Éder Bonfim
➡Argel
➡Maxi
➡RÚBEN DIAS pic.twitter.com/qcEYUqahcV
— playmakerstats (@playmaker_PT) February 8, 2020
O alemão procurava junto dos centrais imprimir critério no passe e falhou redondamente, assim como Taarabt em praticamente todos os momentos do jogo. Por muito que a tensão no ar apontasse para a vantagem alargada, nesse curto espaço temporal, Rafa transportou-se para espaços intermédios, levando consigo rapidez e triangulações que nem sempre funcionaram, mas que indicavam algo.
Aí, e num dos poucos lances de ataque, o Benfica igualou distâncias, com o instinto matador de Vinícius a fazer a diferença após um cabeceamento defendido de forma complexa por Marchesín.
O empate amarrou, trouxe as habituais paragens e picardias. O que muitos sentem e o que nem todos concordam, mas que faz parte do espetáculo. Com um Benfica cada vez mais amarelado - Taarabt escapou por pouco da expulsão -, o FC Porto voltou a crescer. Desde as cavalgadas de Luis Díaz, às dobras de Corona, passando pela ratice de Otávio e pela força de Marega, ele que voltou a colocar Ferro em situações delicadas.
Uma mão do jovem defesa instalou a polémica, essa que levou ao VAR e à marcação de uma grande penalidade convertida por Alex Telles, antecedida de um autogolo de Rúben Dias a caminho do intervalo.
Balanço: Cavalos e Bispos fora. Tabuleiro vermelho bem mais desfalcado.
Pedir a mesma intensidade e o caudal dos primeiros 45 minutos seria irrealismo puro, mas a emoção não deixou de existir com a redução de temperatura no termómetro.
O Benfica, ciente da urgência em acalmar o jogo, conseguiu abafar até certo ponto a intranquilidade demonstrada inicialmente, apostando num futebol mais cínico e eficaz.
A circulação passou a ser mais paciente e não tanto despropositada, mesmo enfrentando a maior pujança azul e branca. E se de cinismo e eficácia o jogo também é feito, Carlos Vinícius destaca-se, tanto que voltou a não precisar de muito para reduzir a desvantagem.
O duelo de xadrez deixou de ter um final tão previsível, porque a pressão portista, ainda que uma vez mais exercida com cabeça, deixou de ser tão intensa.
As oportunidades não ficaram de parte e tanto Pepe como Odysseas acabaram por estar diretamente ligados ao 3x2 que não se alterou em mais nenhum momento, apesar de ameaçado pelo chuveirinho e pelos contra-ataques.
Rei em apuros. O Dragão defendeu o Xeque do Benfica pela segunda vez neste campeonato.
Benfica volta a perder, depois de 16 vitórias consecutivas
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⚠Os encarnados só perderam 6 pontos na Liga 2019/20, todos diante do FC Porto pic.twitter.com/KUHeC0tNE3
O jogo não facilita em nada, tendo em conta todos os aspetos que lhe são inerentes, e Artur Soares Dias acabou por ter uma arbitragem difícil de avaliar. Errou ao não expulsar Taarabt e acabou por acertar na marcação da grande penalidade por mão de Ferro graças ao VAR - damos o benefício da dúvida em relação a uma possível falta de Soares. Para além disso, o critério disciplinar foi discutível, com tolerância para os amarelados e intolerância para os jogadores de folha limpa.
O segredo está na entrada e na forma como a equipa conseguiu bloquear os acessos ao adversário. Sérgio Conceição voltou a superiorizar-se a Bruno Lage, conseguindo castigar o ponto mais débil e a secar o ponto mais forte dos encarnados.
Jogar no Estádio do Dragão nunca é tarefa fácil, mas há muito para ver, analisar e melhorar por parte de Bruno Lage. Mérito do adversário por secar os principais protagonistas, mas o quase inexistente fio de jogo tem muito que se lhe diga...