Uns ganharam pelo facto de terem, em sua casa, empatado com um dos maiores clubes portugueses. Outros, ganharam por não terem permitido surpresas, levando a eliminatória controlada para o Dragão e, ao mesmo tempo, poupando quase toda a equipa para o clássico do próximo sábado. O duelo entre Académico e FC Porto teve intensidade, bons momentos, golos e uma bonita festa na bancada. Um momento que valoriza o futebol português.
Quem, em condições normais, aponta o Académico de Viseu como capaz de ultrapassar o FC Porto, sobretudo numa eliminatória a duas mãos? O presidente, o treinador, os jogadores mais enérgicos, os adeptos mais devotos. Mas é um apontamento de crença e de esperança, não de convicção de poderes equiparados. Como é lógico. Como acontece, aliás, com muitas equipas de primeira liga. O desequilíbrio de forças é enorme, ainda mais se comparado o valor individual.
Só que há sempre outras armas. Para o jogo no Fontelo, onde vídeos de motivação não eram necessários para a equipa da casa (bastava ver as bancadas preenchidas, como nos bons velhos tempos), o Académico apostou na organização e na inesgotável alma, nada desvairada, sempre lúcida.
Pode-se dizer que, durante 58 minutos, não se viram evidenciadas essas diferenças. Aliás, a primeira parte ter tido zero remates à baliza dos viseenses é bastante explícito para sustentar essa conclusão.
Os portistas assumiram, pois claro, as despesas do jogo, tiveram bola, mas souberam poucas vezes o que fazer para descoordenar uma defesa que, no momento defensivo, alongava para uma linha de cinco, sustentada pelos dois médios defensivos, e fechava assim as ténues tentativas portistas de um jogo tricotado e apoiado: normalmente, a equipa de Sérgio acabava por tentar o lance individual ou a bola longa para as diagonais do desinspirado Marega - teve a primeira e única oportunidade do primeiro tempo, atirando ao lado.
Ao minuto 59, o golo de Zé Luís trazia consigo o convite à máxima da «lei do mais forte». A melhor entrada do FC Porto após o intervalo fazia prever maiores dificuldades para o Académico, mas o facto de não terem sido necessárias muitas oportunidades para o golo surgir podia tirar a tal alegria ao jogo.
Nada mais errado. Se aquele momento serviu para dar a Vítor Ferreira, o principal armador de jogo dos azuis e brancos, um momento de brilhantismo com a assistência, e a Zé Luís o regresso tão aguardado aos golos dois meses depois, não retirou qualquer condimento à equipa de Viseu e à bancada do Fontelo. Também sem precisarem de muitas oportunidades, chegaram ao empate num belo cruzamento de Kelvin (Zimbabwe) e num cabeceamento de João Mário, os dois melhores da equipa de Rui Borges.
No Dragão, há a decisão.
Belíssimo o ambiente que se viveu nas bancadas do Fontelo. Os adeptos acorreram em massa (bem também o Académico ao promover preços acessíveis) para encher um estádio que há muito assim não estava e que esteve à altura. Ainda bem que assim foi.
Saravia não tem jogado e, portanto, o ritmo não é o mesmo. Manafá tem jogado na direita e, como tal, houve adaptação a uma esquerda que também conhece. As desculpas podem ser várias, mas exige-se mais a dois elementos que até estiveram em jogo, mas que continuam reiteradamente a decidir mal.