Foi um jogo de polos opostos que se aproximaram durante muito tempo na Luz e que levaram o Benfica a sofrer bastante e a fazer das tripas coração para vencer o Desportivo das Aves por 2x1. Os encarnados cometeram erros na primeira parte e foram obrigados a provocar uma avalanche ofensiva para conseguir a reviravolta, num jogo que ficou marcado pela estreia de Weigl, pela exibição de Beunardeau e pelo golo de André Almeida, o herói da partida bem perto do fim.
Poucos esperavam que esta fosse uma sexta-feira de incerteza na Luz. Afinal, o líder recebia o lanterna vermelha e há muito que não sabia sequer o que era sofrer golos em casa. O cenário parecia o ideal para estrear Weigl e fazer uma ligeira rotação na equipa. Foi isso mesmo que Bruno Lage fez, mas se o técnico benfiquista avisou, na antevisão, para os perigos que o Desportivo das Aves podia causar, os seus jogadores não fizeram caso.
Com André Almeida, Weigl, Jota e Seferovic no onze, o Benfica entrou mal na partida e não demorou a cometer os erros que certamente Nuno Manta esperaria. Consciente das dificuldades e da enorme necessidade de pontos, o Desportivo das Aves veio à Luz a saber precisamente o que fazer. Apesar das baixas na defesa, o lanterna vermelha tentou ser o mais eficaz possível junto da sua área e na hora de lançar o ataque procurou ao máximo explorar as dificuldades que a defensiva benfiquista mostrou na transição defensiva. Claro que a tudo isso, num dia menos bom das águias, apareceu uma pouco habitual ineficácia e um Beunardeau capaz de enervar o mais calmo dos benfiquistas.
Havia um domínio claro da equipa de Bruno Lage, mas algo atabalhoado, sem a qualidade habitual. Com um Desportivo das Aves na luta pela sobrevivência, como se diz em algumas partes do país, «quando não há pão até migalhas vão». A equipa minhota não aproveitou a primeira migalha oferecida por Ferro - Mohammadi assistiu mas não apareceu ninguém para finalizar -, mas na segunda migalha foi o próprio Mohammadi a querer comer. O iraniano passou por Ferro, que falhou a contenção e não teve o apoio necessário de Rúben Dias, e não entregou responsabilidades. Assumiu e fez bem. Estava feito o 0x1, para choque dos encarnados, mas nem por isso muito surpreendente, tendo em conta a ineficácia ofensiva e defensiva da equipa de Bruno Lage.
Desde o FC Porto que ninguém marcava no Estádio da Luz e por isso a primeira parte da missão do Desportivo das Aves estava feita. Depois era preciso aguentar, porque uma migalha daquelas não aparece assim tantas vezes. Foi preciso muito espírito de sacríficio, nunca desistir - Dzwigala tem um corte impressionante em cima da linha de golo - e uma enorme dose de sofrimento (e de Beunardeau) para aguentar as constantes investidas de Pizzi, Chiquinho, Jota e Seferovic, todos dados ao desperdício enquanto Carlos Vinícius aquecia junto à linha lateral. O intervalo chegaria com um resultado penalizador para o Benfica, pelo domínio, mas também autopenalizador pelo jogo que a equipa de Bruno Lage estava a realizar.
As previsões da maioria para a primeira parte não estavam certas, mas os sinais dados no final do primeiro tempo e a habitual força da Luz nos momentos de grande aperto não deixavam margem para dúvida: só ia dar Benfica. Bruno Lage fez entrar Carlos Vinícius para ter alguém mais perto de Seferovic e ganhar alguma superioridade frente a uma defesa avense que tinha sido melhor nos primeiros 45 minutos e Vlachodimos ficou a ver um autêntico massacre a um colega de posição.
Beunardeau foi dos poucos jogadores do Desportivo das Aves que conseguiu manter o rendimento e segurou a equipa de Nuno Manta como pode, mas dificilmente o treinador avense esperaria segurar os três pontos tendo em conta aquilo que a sua equipa não conseguiu fazer na segunda parte. Sem sair em transição, o Desportivo das Aves jogou em 10/15 metros de terreno. Isso foi suficiente para evitar que alguns remates chegassem a ameaçar Beunardeau, mas os sinais estavam longe de ser positivos.
O Benfica atacava como podia, com envolvimento pelos flancos, com Pizzi e Chiquinho a aparecerem em zonas interiores e de finalização, e o Desportivo das Aves defendia como podia, mas desde a saída de Dzwigala, por lesão, a equipa que viajou do Norte não foi a mesma e o Benfica aproveitou para conseguir o primeiro objetivo, o empate. Uma má abordagem de Falcão fez Vinícius cair na grande área e deu a Pizzi a oportunidade de empatar de grande penalidade, mas era óbvio que o Benfica ia à procura de mais.
O Desportivo das Aves agarrou-se ao relógio, tentou segurar-se dentro da própria grande área, mas foi incapaz, como acontece a tantas equipas que acabam por assumir uma postura de entrega numa fase tão precoce da partida. André Almeida deixou a Luz em ebulição e garantiu que o Benfica vai, pelo menos, manter a vantagem para o FC Porto. Depois de Guimarães, poucos adeptos benfiquistas contavam voltar a sofrer tanto para vencer o último classificado, mas o futebol é mesmo assim. O Aves tentou aproveitar uma pequena migalha, o Benfica agarrou-se a um rodízio ofensivo e acabou por ter direito a sobremesa.
Jogo complicado para Carlos Xistra, que teve dificuldades para controlar o jogo. Defendeu-se ao mostrar o vermelho a André Almeida para depois poder mostrar o amarelo, uma decisão que deixou a Luz em ebulição, algo que já tinha acontecido na primeira parte, quando o árbitro (e o VAR) decidiu não assinalar grande penalidade cometida por Morais sobre Seferovic. Depois há ainda o penálti assinalado sobre Carlos Vinícius, que à primeira vista pareceu claro mas depois deixou dúvidas. Que noite...
Os adeptos estiveram como a equipa - com dificuldades na primeira parte e com tudo na segunda. Numa sintonia perfeita entre adeptos e equipa, quando a Luz entrou em ebulição, o Benfica foi com tudo.
Não faltou entrega, atenção. O que queremos dizer é que o Desportivo das Aves entregou-se cedo ao resultado, na esperança que uma postura ultra defensiva ia bastar para segurar a vitória. É raro resultar, como se viu novamente.