*Com Miguel Freitas
Depois de um dia de trabalho, fechamos os olhos e deitamo-nos na cama de nossa casa. Queremos relaxar, ganhar energias para o próximo turno e pensamos que, fora os problemas pessoais e situações do quotidiano, nada vai acontecer. Nem nos passa pela cabeça algo contrário.
Sul da Turquia. 6 de fevereiro de 2023. Madrugada. Começamos a ver a Terra a abanar, edifícios a colapsar e a nossa vida a ruir. Tentamos salvar os nossos entes queridos, os animais que estão connosco, mas a saída parece estar tão longe, ainda que a alguns passos ou escadas de distância.
Pegamos no telemóvel, tentamos contactar os meios de emergência para nos tentarem socorrer, mas é difícil, para não dizer impossível. O que nos resta agora? E aos nossos amigos? A vida segue, mas a que custo?
Dois terramotos com magnitudes de 7,8 e 7,6 na escala de Richter, atingiram a Turquia e fizeram, pelo menos, 2500 mortes. Duraram mais de 100 segundos e foram dos mais fortes dos últimos anos.
Marco Paixão, jogador do Altay, da segunda divisão turca, vive atualmente em Izmir, uma cidade ainda longe de tragédia, mas rapidamente se apercebeu do que estava a acontecer. «Nem sei como é que hei de começar. Acordei hoje de manhã para ir treinar e não sabia o que se tinha sucedido. A minha mulher colocou-me logo a par das notícias e tentei falar com alguns amigos, ainda que em choque. Vi que tinha afetado Hatay, onde está o Rúben Ribeiro, e entrei em contacto com ele. Respondeu-me que estava bem, mas estava a tentar encontrar os companheiros de equipa», disse, em declarações ao zerozero.
«Quando a minha mulher me disse, deu-me muita vontade de chorar porque já tenho cinco anos a viver na Turquia e ganhei um apreço gigante pelas pessoas daqui, que sempre me trataram de maneira excelente. Dói muito ver aquilo que vocês estão a observar em Portugal: prédios a caírem, destroços...nem tenho palavras», acrescentou.
Tal como nos conta o avançado, a Turquia passa por um período em que os terramotos são uma constante entre dezembro e março, mas que, apesar da magnitude deste, não afetou a zona onde Marco Paixão se encontra. «Não sentimos nada. Tive um colega de equipa que disse que teve algumas sensações, mas nada de grave. Ainda assim, as pessoas estão com a moral em baixo e isso nota-se em todo o lado pois, hoje [segunda-feira] fomos treinar, mas nem tínhamos vontade para tal. É muito difícil colocar cá para fora aquilo que sentimos.»
Apanhado de surpresa, o governo do país tem feito os possíveis para tentar amenizar os danos, ao «arrecadar dinheiro, pessoas para doar sangue ou doações a níveis de bens materiais». «Foi acionado o nível quatro de alarme, ou seja, significa que precisam de ajuda internacional. Eles sabem como atuar e estão a fazer o melhor que podem para salvarem o maior número de pessoas. Têm sido espetaculares.»
Também em 2020, em Izmir, os terramotos massacraram uma cidade turca, algo que o português viveu de perto. «A primeira vez que me aconteceu estava no 27º andar. Entrei em pânico e pensava que ia morrer porque nunca tinha vivenciado algo assim, algo que ainda me deixa com pele de galinha ao recordar. No segundo ano, vivia no 16º piso e fui para fora porque não conseguia regressar a casa. Entretanto, moro numa moradia, algo que me confere mais segurança.»
No entanto, isto não significa que amanhã «possa acontecer uma tragédia aqui. Há uma possibilidade gigante de isso suceder. Quando vives numa cidade em que isso é uma constante, tens de rezar para que não aconteça contigo. É impossível ultrapassar os danos que isto traz», referiu.Christian Atsu, antigo atleta do Rio Ave e do FC Porto, está desaparecido e ainda não existem notícias sobre o paradeiro do avançado ganês, que no dia anterior deu a vitória à sua equipa na principal divisão da Turquia com um golo ao cair do pano. Esperamos boas notícias.
O zerozero procurou contactar Rúben Ribeiro ao longo do dia, mas sem sucesso.