Dois nomes, dois heróis, duas histórias muito singulares: Hakimi e Bono. Os homens que fizeram a diferença no confronto dos oitavos de final contra Nuestros Hermanos no momento de todas as decisões. O lateral do PSG fez um panenka que selou a vitória, enquanto o guardião do Sevilla defendeu duas grandes penalidades.
Ambos são marroquinos de origem, no entanto, à semelhança da maioria do plantel, não nasceram em Marrocos. Aliás, curiosamente, ambos têm uma ligação muito próxima à La Roja.
Herói, em Al Rayyan, o guarda-redes de 31 anos agigantou-se e foi determinante na queda dos campeões do Mundo de 2010. Nascido em Montréal - Canadá -, tem origem marroquina e quase 100% da sua vida profissional é circunscrita em solo espanhol.
O guardião começou a sua carreira no Wydad Casablanca - um dos clubes mais titulados no continente africano -, contudo, aos 22 anos mudou-se para Madrid, onde representou a equipa secundária do Atlético Madrid durante dois anos. A partir daqui, o atleta continuou o seu trajeto duradouro em Espanha, seguindo-se Real Zaragoza, Girona e Sevilla (clube atual).
De resto, este é apenas o prefácio de uma história com vários capítulos, no mínimo, curiosos. Ora, se o leitor, porventura, já teve curiosidade de visitar a ficha do jogador marroquino no zerozero... viu algo muito inusual. Sim, Bono já marcou um golo numa partida! Não são muitos os guardiões que se podem gabar disso.
Puxando a cassete mais à frente, Bono, após o Mundial de 2018, substituiu Munir Mohamedi na baliza de Marrocos e, no final da temporada 2019-20, agarrou a titularidade no Sevilla, a tempo de ajudar na conquista da Liga Europa.
No Catar, o guardião tem sido titular da seleção marroquina e já protagonizou dois momentos emblemáticos, um dentro do campo, o outro fora... Na partida diante a Bélgica, o jogador do Sevilla ouviu o hino, perfilou-se com a equipa... mas não jogou. Porquê? Sentiu-se indisposto e foi substituído por Mohamedi ainda antes do começo da partida.
O segundo momento (já mencionado) traduziu-se numa qualificação memorável, onde o guarda-redes vestiu a capa de herói e assinou o seu nome no capítulo mais dourado da história de Marrocos.
«Não era o lugar certo para mim, não me sentia em casa.»
As palavras são de Achraf Hakimi que explicou, ao jornal espanhol Marca, o porquê de ter optado pela seleção marroquina, ao invés da La Roja. O jogador de 24 anos - que chegou a ser rejeitado por Real Madrid - foi o herói do povo marroquino quando confirmou a vitória de Marrocos na lotaria dos penáltis e deixou a questão no ar: porquê Marrocos e não Espanha?
«Nada em particular, mas não era como eu vivia em casa, que é a cultura árabe, sendo marroquino», justificou ao jornal espanhol sublinhando o fator família como um ponto decisivo na sua decisão.
E aqui chegamos a uma das imagens mais fortes do Mundial: Hakimi e a sua mãe num abraço simbólico. A mãe que - em conjunto com o pai - emigrou para Madrid de modo a proporcionar uma vida melhor ao filho e à família. O pai era vendedor ambulante, a mãe limpava casas. O filho, graças ao sacrifício dos pais, tornou-se um craque do futebol mundial e uma das figuras do país onde a sua família foi criada.
«Luto todos os dias por eles. Eles sacrificaram-se por mim, privaram os meus irmãos de muitas coisas para que eu tivesse êxito», revelou Achraf Hakimi ao programa espanhol El Chiringuito.
Por fim, a famosa celebração à pinguim do lateral direito: qual foi o significado? Pelas redes sociais não faltou quem questionasse se o momento da celebração - após o panenka - teve alguma bicada a Sérgio Ramos.
Mas não, a celebração é uma piada interna entre os membros do emblema parisiense, que Sérgio Ramos também faz parte. Inclusive, Mbappé - colega de equipa no PSG -, após o panenka do marroquino, colocou uma publicação nas redes sociais com um emoji de um pinguim.
Celebrações à parte, Hakimi e Bono preparam-se para defrontar Portugal nos quartos e podem alcançar o que ainda nenhuma seleção africana alcançou: garantir um lugar nas meias-finais de um Mundial.
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