«It's a beautiful day!» Assim terá gritado Bono, numa constatação já óbvia para todos os adeptos de futebol (excepto os espanhóis, vá).
O decisivo guarda-redes, homónimo de um famoso vocalista, esteve por todo o lado quando foi preciso e, na hora do desempate por penáltis, quase tudo passou por ele. Assim se envia uma seleção africana para os quartos de final de um Campeonato do Mundo, apenas pela quarta vez na história dos Mundiais.
Foi um estreito, mesmo estreitinho, que separou Marrocos e Espanha nesta partida de futebol. Empataram, como tinha acontecido há quatro anos na Rússia, mas desta vez havia muito mais em jogo e ninguém podia ir embora até que algo fosse decidido.
No fim, história feita, para a seleção sensação que agora fica à espera do seu adversário: Suiça ou... Portugal!
Se a arte do passe é a sua cultura e a identidade, então já lá vão os anos em que a Espanha a levou para lá de mares e fronteiras. A bola era sua, mas não a quis difundir nem espalhar, limitando-se a trocá-la em espaços seguros com medo que o adversário também a quisesse acolher.
E que confortável estava esta equipa africana, apesar das dimensões do palco! Tão confiante na sua organização defensiva como na capacidade para ferir o adversário, em ataques que foram sempre rápidos e adornados com o charme de alguns elementos. Boufal, por exemplo, deu o nome clínico da enxaqueca que Marcos Llorente - jogou a lateral direito - tentou curar com um banho frio ao intervalo.
Por essa altura, jogada meia partida, era difícil continuar a apontar para um favorito. Esse conceito estava tão eliminado como uma das equipas estaria uma hora mais tarde. A Espanha podia ter marcado por uma vez, mas Marrocos não estava nada intimidado pela ocasião e esteve ainda mais perto do golo num par de ocasiões.
Começou a cheirar a surpresa, mas vários fatores voltaram a dar um aroma mais neutro à partida, já no decorrer da segunda parte.
Apesar do futebol marroquino não deixar nada a dever, o avançar do relógio deixou evidente que o banco à disposição de Regragui não tinha a mesma qualidade que o espanhol. Enquanto Enrique lançava Álvaro Morata e Nico Williams - leia-se o goleador de serviço e uma máquina de desequilibrar defesas -, o selecionador marroquino refrescava a equipa com atletas de segundos escalões e ligas africanas.
A mais dura das substituições foi aquela que resultou da lesão de Aguerd, já que o defesa central do West Ham representava 50% da parceria mais eficaz deste Mundial e levou com ele alguma da tranquilidade da equipa. Ainda assim, Bono só teve de fazer uma intervenção até ao apito de Rapallini ditar prolongamento.
O ex-Sporting voltou a encontrar o ferro nas grandes penalidades e Bono defendeu mais duas. No momento decisivo, Hakimi, confiante, foi de panenka para dar a festa a Marrocos e a toda a África. Quartos de final, quem diria...
Não é que seja rara uma seleção do continente africano ser tão organizada e forte no plano defensivo, mas sim que isso raramente se traduz para os maiores palcos. Mais do que a vitória, foi impressionante a tranquilidade com que esta equipa atuou, apesar da ocasião justificar nervos até para quem se senta nas bancadas. Se Portugal superar a Suíça, não terá tarefa fácil nos quartos...
Quatro anos depois de ter sido eliminada pela Rússia, a Espanha volta a cair nos oitavos de final e novamente numa partida em que tinha enorme favoritismo. Luis Enrique colocou a roja a jogar bom futebol, mas raramente houve risco envolvido na exibição desta terça-feira e isso custou caro nas contas finais. Esperar pelo erro adversário não pode ser a única solução, porque nem sempre o adversário erra.