O nome remete para outras paragens, o cabelo ruivo aprofunda a curiosidade. Mac Allister, Alexis, vestiu a capa de herói argentino e escreveu a carta de perdão aos hinchas, ainda feridos pela derrota inesperada na abertura. No pasa nada. D10S Maradona, a assistir ao primeiro Mundial do céu (ou de outra dimensão) jamais permitiria uma queda tão precoce à sua Argentina.
A mão Dele voltou a acariciar o mais belo dos torneios. Indicou o caminho da inspiração ao Mac Allister que não é escocês - tem ascendência irlandesa, na verdade - e manifestou a sua presença no pontapé, tão maravilhoso quanto decisivo, de Julián Alvárez para o 2-0.
Diego Armando não está já entre nós, mas a energia que dele irradia continua a contagiar o povo argentino. A cadeia de transmissão irrompe e acaba no relvado, intimida oponentes e faz desta Argentina um caso sério.
Sim, Lionel Messi falhou um penálti. E tudo o resto que Leo fez? Os passes, as combinações, o pensamento amparado no pé esquerdo, dedicatórias implícitas à memória de D10S.
A Argentina segue em frente e fecha o Grupo C na frente. A Polónia, talvez tocada pelas aparições do Barrilete Cósmico, salvou-se por milagre e vai jogar os oitavos-de-final. A segundos do fim tinham os mesmos pontos, os mesmos golos marcados e os mesmos sofridos do que o México.
Valeu-lhes o golo de Salem Al Dawsari - o mesmo que já castigara a Argentina - aos 90+5 minutos.
Não será também isto obra e graça de D10S?
Massacre. Poesia argentina, polacos perdidos, promessa de mundos e fundos. Autoritária, fortíssima na recuperação à perda em zonas altas, a Argentina encostou os europeus às cordas. Arriscou, ameaçou, teve Enzo Fernández em grande plano no meio-campo e foi falhando demasiadas vezes na frente.
Até Messi, o Eleito, foi incapaz de ultrapassar o impronunciável Wojciech Szczesny da marca de penálti. Até ao intervalo, nada a fazer: a especulação de Lewandowski e companhia levaram a melhor.
Tudo mudou ao minuto 47. Cruzamento atrasado de Nahuel Molina e pontapé colocadíssimo e rasteiro do homem que não gostava de ser tratado por Colo (ruivo, na Argentina). Alexis é filho de Carlos Mac Allister e sobrinho de Patrício Mac Allister, uma família de futebol dos pés à cabeça, radicada há algumas gerações na América do Sul.
Carlos, aliás, foi colega de Diego Armando Maradona na seleção da Argentina em vários jogos pré-Mundial de 1994. É como dizemos, Ele está por todo o lado. Omnipresente.
A partir daí, mais Argentina, muita Argentina, a provar que a derrapagem no arranque foi um acidente de percurso, apenas e só. Há futebol, há talento, há mais do que Messi, embora Messi seja o discípulo do Senhor Maradona e esteja também acima de todos.
Nota importante para o golaço de Julián Álvarez: o atacante do ManCity ultrapassou Lautaro Martinez nas opções e chega inspiradíssimo à próxima fase.
A Argentina será ultra-favorita contra a Austrália e a Polónia parte muito atrás no confronto agendado contra França. Seja o que D10S quiser.
Lionel Scaloni tem executantes de eleição à disposição (Messi, Di Maria, Álvarez) e uma casa das máquinas a funcionar a todo o vapor. Foi impressionante a forma como Enzo Fernández e Rodrigo de Paul abafaram os protestos polacos. Tropa de choque no relvado.
O guarda-redes fez tudo o que lhe era possível, o avançado não teve bola. Entre eles, no meio, desolação absoluta. A Polónia tem de jogar dez vezes mais se quiser ter possibilidades contra a França.