O dia é sempre de expetativa. Para os que esperam ter o nome na lista do selecionador nacional, para os que acompanham profissionalmente o anúncio, para os seguidores anónimos da Seleção Nacional.
Na quinta-feira, 10 de novembro, pelas 17h30, Fernando Santos informa o país e o mundo sobre os 26 futebolistas que levará consigo para o Catar. O Campeonato do Mundo está a chegar e o zerozero até permitiu ao leitor fazer as suas próprias escolhas. Os 26 nomes escolhidos por vós estão AQUI.
Para este Mundial de 2022, não se esperam grandes surpresas nos nomes de Portugal. Há uma pré-lista de 55 escolhidos com algumas novidades, sim, mas na triagem final aguarda-se alguma normalidade.
Não foi sempre assim. Estivemos a olhar para convocatórias anteriores de grandes competições e os nomes-surpresa não são uma raridade. O brainstorming na redação conduziu-nos a cinco exemplos e cinco nomes que fizeram as manchetes das respetivas épocas, precisamente por transportarem esse rótulo.
Vamos a eles, antes da convocatória oficial de Portugal para o Mundial de 2022.
O «deixe-me sonhar» de José Torres leva José Ribeiro na bagagem para o México. Médio ofensivo, farta cabeleira e bigode a condizer, um médio ofensivo moldado nas escolas do Vitória Futebol Clube de Setúbal - cidade para onde se muda com os pais aos dez anos, após deixar o Entroncamento.
Em 1985, Ribeiro troca a Académica pelo Boavista e passa a ser a estrela da companhia no Bessa. Treinado por João Alves, o médio marca sete golos em 29 jogos e passa a ser um nome regular nas convocatórias da Seleção Nacional.
A primeira das duas internacionalizações surge ainda nos tempos de «estudante». Num amigável contra Itália, em Ascoli, Ribeiro entra ao intervalo para o lugar de Diamantino. Portugal perde por 2-0 (golos de Bruno Conti e Paolo Rossi), mas Ribeiro começa a ter o nome nos blocos de notas dos maiores clubes nacionais.
O segundo e último jogo por Portugal aparece em setembro do mesmo ano de 85. Frente à Checoslováquia, Ribeiro volta a sair do banco ao intervalo (sai Sousa) e Portugal perde 1-0. O homem do venerável bigode não volta a entrar em campo de quinas ao peito, mas aguenta-se nas escolhas de José Torres e é um dos eleitos para o famoso Mundial de Saltillo.
Quatro anos mais tarde, castigado por lesões e temporadas apagadas, pousa as chuteiras em Olhão. Está afastado do futebol desde esses tempos.
O ano de 1996 é o clímax precoce na carreira de Porfírio. Desaproveitado no Sporting, o pé esquerdo do bad boy - ficaram famosas as festas com Dani e Dominguez - ruma a Leiria e convence o selecionador António Oliveira. Ele próprio, um ex-bad boy.
Nove golos, 34 jogos e as primeiras chamadas à Seleção Nacional. Todas em 96, claro. A primeira aparece já na antecâmara do Euro96, em Dublin. Portugal vence o amigável por 1-0 (Folha) e Porfírio joga os últimos 22 minutos no lugar de Oceano.
Segue-se a entrada surpreendente na lista para o Europeu e o direito a ter 14 minutos na fase final: 1-0 à Turquia, golo de Fernando Couto e Porfírio entra para o lugar do consagrado João Vieira Pinto.
O privilégio de representar o nosso país não tem continuidade. Porfírio até regressa a Alvalade, casa-mãe, mas para jogar só duas vezes antes de rumar a um empréstimo apenas razoável ao West Ham. Entra contra a Ucrânia, na qualificação para o Mundial de 1998, e desaparece.
Mais tarde, em 1998, um Benfica a viver as amarguras do mais negro período desportivo oferece-lhe um contrato de quatro anos. Sem sucesso para ambas as partes.
A história é conhecida, narrada vezes várias na primeira pessoa até. Sem ter uma única presença na Seleção Nacional, Daniel Kenedy abre a boca do país de espanto e entra nas escolhas finais de António Oliveira para o Mundial de 2002, no Oriente.
Já em pleno estágio, sabe-se que o esquerdino acusa positivo num controlo anti-doping. Cai Kenedy, o homem com nome de presidente dos EUA, e aparece um quase adolescente chamado Hugo Viana. Kenedy perde a oportunidade de uma vida e a carreira não lhe volta a entrar nos eixos.
Formado no Benfica, internacional nas seleções jovens e com presença nos Jogos Olímpicos de 1996, Daniel Kenedy joga uma época no PSG, uma no FC Porto, três no Estrela da Amadora, mas é no Marítimo em 2001/02 que faz a melhor temporada da carreira. 41 jogos/6 golos e a pancada emocional em forma de depressão profunda, depois de entrar surpreendentemente nos convocados para o Campeonato do Mundo.
Antes de ser Costinha, antes de trajar o cognome «Ministro» dentro de fatos de corte irrepreensível, o médio é só Da Costa. Do Machico vai para o Nacional e da Choupana muda-se para a ostentação tentadora do principado do Mónaco. É em Monte Carlo que começa a reclamar a atenção do selecionador Humberto Coelho.
Antes de entrar na convocatória para o Euro2000 de tão boa memória - esqueçamos por uns momentos a mão mais famosa de Abel Xavier -, Costinha tem somente duas presenças na Seleção Nacional. Longe de ser um habitué, prima pela discrição, regularidade e eficácia nas bolas paradas.
É, aliás, num lance de laboratório que dá a vitória a Portugal contra a Roménia, em Arnhem. Entra aos 87 e marca aos 90+4, de cabeça e no seguimento de um pontapé de canto.
A partir daí, Costinha passa a ser um médio indispensável para o futebol português e, entre 2001 e 2005, para o FC Porto. 53 internacionalizações/2 golos e presenças no Euro 2004 e no Mundial de 2006. Ministeriável.
O lugar de terceiro guarda-redes numa grande competição é ingrato, por ser uma prova curta, e invejado, por ser prestigiante estar em Europeus e Mundiais. Paulo Santos agarra essa oportunidade no Alemanha-2006, já na última carruagem do comboio construído por Luiz Felipe Scolari.
Já sem Vítor Baía, Ricardo e Quim são as primeiras opções para a baliza. A terceira opção chama-se Bruno Vale, guarda-redes dos quadros do FC Porto e emprestado ao Estrela da Amadora. Ao serviço da seleção de sub21, Vale parte o pé direito e deixa uma vaga para mais um guarda-redes.
Paulo Santos aproveita. Dono da baliza do SC Braga, após uma passagem infeliz pelo FC Porto, Santos entra na lista para o Mundial, seis meses depois de somar a primeira e única internacionalização na carreira: 90 minutos em Belfast, casa da Irlanda do Norte, e resultado final de 1-1 (15 de novembro de 2005).